Gestão e Qualidade | 3 de janeiro de 2020

Reformas e choque de gestão: Como o Grupo Hospitalar Conceição pretende fornecer o melhor atendimento SUS do RS

Diretor-superintendente, André Cecchini aborda em primeira mão novos passos do GHC
Reformas e choque de gestão Como o Grupo Hospitalar Conceição pretende fornecer o melhor atendimento SUS do RS

A realidade e os desafios que se apresentam ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC) são singulares e diferem dos cenários vistos no setor privado – e até em outras instituições públicas. Formado pelos hospitais Conceição, Criança Conceição, Cristo Redentor e Fêmina, além da UPA Moacyr Scliar, de 12 postos de saúde do Serviço de Saúde Comunitária, de três Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e da Escola GHC, o Grupo, que é 100% orçamentado –  com toda receita oriunda do Governo Federal -, busca ser,cada vez mais, uma referência nos atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Não queremos ser reconhecidos por aquele que faz mais, mas queremos ser reconhecidos como o Grupo que mais atende o SUS e na melhor qualidade”, afirma o diretor-superintendente do GHC, André Cecchini, 11º entrevistado da série especial de final de ano do Portal Setor Saúde, que conta com a participação de executivos de saúde de hospitais e operadoras de planos de saúde do Rio Grande do Sul.

Na entrevista, Cecchini aborda os dois principais projetos do GHC:  a construção, em andamento, do Centro de Hematologia e Oncologia e a construção de um “novo Hospital Fêmina”, em nova área, junto ao Hospital Conceição. Além disso, o diretor-superintendente aponta como objetivo um ousado projeto de gestão, com foco na mudança na cultura de atendimento. Confira a entrevista.

Objetivo: ser referência no atendimento ao SUS e ter a mesma qualidade do setor privado

“Eu avalio o ano de 2019 como muito positivo para o Grupo Hospitalar Conceição, porque foi um ano que marcou uma nova direção no negócio. No nosso negócio, que é saúde pública, a eficiência e a qualidade voltada para o atendimento do paciente passam a ser fundamentais para a nossa posição com o mercado. Não queremos ser mais reconhecidos por ser aquele que faz mais, mas queremos ser reconhecidos como o Grupo que mais atende o SUS e na melhor qualidade. O objetivo da nossa administração é justamente ter a mesma qualidade dos setores privados”, enfatiza.

Gestão com nova cultura de atendimento

O Grupo Hospitalar Conceição, dentro do redirecionamento citado pelo diretor-superintendente, focado em eficiência e qualidade, quer melhorar a gestão de pessoas. “Temos um projeto de mudar o perfil do nosso funcionário. A partir da nova legislação trabalhista, devemos ter uma mudança no cenário dos nossos funcionários. [Queremos fazer] Aquilo que vimos de positivo, como recuperar equipes, colocar pessoas mais motivadas e atualizadas, além de desenvolver serviços que o GHC ainda não desenvolve”, define.


De acordo com Cecchini, há um desafio muito grande de gestão para o GHC. “O que queremos é mudar a cultura do atendimento dentro do nosso Grupo. A partir do ano que vem, iremos colocar uma série de dispensários eletrônicos, que darão mais segurança aos pacientes, com leitores de barras, aumentando muito a segurança do paciente. É a mesma operação que existe nos melhores hospitais do centro do país. Devemos começar primeiro em um projeto piloto, no bloco cirúrgico e na oncologia”, explica.

Além disso, o diretor-superintendente ressalta que também, dentro dessa gestão abordada, será promovido o lançamento de um plano de cargos e salários para 100% do Grupo. “Então, devemos mudar as relações trabalhistas, o que será um trabalho muito grande. Um trabalho que inclusive está servindo de exemplo em Brasília, porque foi um trabalho muito bem feito pela nossa equipe. Estaremos lançando também um Plano de Demissão Voluntária, para facilitar a vida do nosso funcionário que quer se aposentar”, afirma.


Dois principais investimentos: novo Centro de Hematologia e Oncologia e “novo Fêmina”

De acordo com Cecchini, há dois investimentos principais previstos pelo GHC, um já em andamento (Centro de Hematologia e Oncologia), e outro como projeto para o futuro (novo Hospital Fêmina).


O Centro de Hematologia e Oncologia prevê sete pavimentos, em área projetada total de 14.380,70m². O centro irá reunir no mesmo local unidades de diagnóstico (ambulatório e recursos de imagem) e tratamento (radioterapia e internações) necessárias para atendimento de pacientes com câncer. Além de ampliar o atendimento destes casos pelo SUS, realizará transplantes de medula. A unidade, que contará com 94 leitos, visa humanizar o tratamento hospitalar, conforme a Política Nacional de Humanização (PNH). O investimento total é de R$ 80,191 milhões.

“Estamos no meio da construção do “Hospital do Câncer”, voltado exclusivamente para o atendimento da doença neoplásica, que não existe no atendimento do SUS na Região Sul, e devemos tentar, no ano que vem, concretizar essa obra, o que nos posiciona em iguais condições com os melhores hospitais privados de Porto Alegre, pela qualidade e quantidade que iremos oferecer à população”, enfatiza.


A construção de um novo Hospital Fêmina, em nova área, próximo ao Hospital Conceição, também é detalhada por Cecchini, que aponta que será um projeto para quatro ou cinco anos. “Um grande desafio que temos é plantar a semente para a construção do novo Fêmina, que é um projeto federal, que será a transferência, a médio e longo prazo, da operação do Hospital Fêmina para junto à nossa sede. Tentaremos concretizar, em 2020, uma parceria público-privada para concretizar esse negócio no qual, o terreno do Hospital Fêmina entra dentro de uma composição de negócio para construir um hospital maior, mais atualizado e moderno do que o atual Fêmina”, explica.

Cecchini também projeta a implementação do serviço de radioterapia em 2020.

Centro Oncologia GHC

Centro Oncologia GHC

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Reformas nos Hospitais Conceição, Cristo Redentor e Fêmina

Há muitas áreas que o diretor-superintendente julga necessárias de reformas, nos Hospitais Conceição, Cristo Redentor e Fêmina. “Estamos prevendo algumas reformas estruturantes dos nossos principais hospitais”, diz.

1 Hospital Conceição – “No Hospital Conceição, devemos reformar uma ala inteira – estamos falando de 60 leitos, com reformas estruturais, em telhados e adaptações ao PPCI”.

2 Hospital Cristo Redentor – “No Hospital Cristo Redentor, devemos reformar todo o bloco cirúrgico, o que será uma reforma grande, avaliada em R$ 10 milhões”.

3 Hospital Fêmina – “Devemos também reformar o subsolo do Hospital Fêmina, que necessita de reforma, mas essa é uma reforma não voltada para a assistência, e sim necessária em função das condições que lá existem e, com uma nova estruturação da cozinha, para os funcionários”.

100% orçamentado

“O nosso Grupo é 100% orçamentado, com toda nossa fonte de receita vindo do Governo Federal. Em 2020, teremos para custeio R$ 206 milhões para toda a operação do Grupo – em 2019, tivemos de custeio R$ 198 milhões. O nosso orçamento de folha, para o ano que vem, é de R$ 1,4 bilhão. E, para reformas e aquisições, temos R$ 50 milhões. É muito pouco, porque pedimos R$ 170 milhões”, assim o diretor-superintendente detalha a realidade e os desafios enfrentados pelo GHC.

Superintendente André Cecchini apresenta obras da oncologia

Superintendente André Cecchini apresenta obras da oncologia para autoridades

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“Trazer o GHC do século 20 para o século 21”

Por estar inserido na faixa de saúde pública, que opera em larga escala, o GHC precisa ter como foco principal de investimento a ampliação de serviços e, por isso, as inovações tecnológicas que estão sendo cada vez mais inseridas no mercado da saúde ficam em segundo plano, como destaca o entrevistado.


“Estamos atentos a estas tendências da medicina atual, que é o avanço da tecnologia, mas muitas dessas coisas não têm o alcance que almejamos. Estamos em uma fase anterior, de ampliação de serviços. Devemos oferecer muitos serviços, que a rede privada tem hoje, na rede pública. Por exemplo, temos um projeto do GHC que é desenvolver a medicina fetal, que não tem no setor público, além de um projeto de realizarmos transplantes, da urologia, da neurocirurgia, entre outros. O meu mantra é trazer o GHC do século 20 para o século 21”, explica.


“O sistema de saúde pública precisa de um choque de gestão”

A sociedade atual exige que todos os setores se atualizem, destaca o diretor-superintendente. “É o caso do Grupo Hospitalar Conceição. O tipo de medicina que fazemos aqui precisa mudar, porque o paciente quer mais qualidade, o melhor tratamento, o melhor atendimento, o melhor quarto. Esses movimentos que existem na rede privada precisam estar na rede pública”, destaca.

Sobre novos modelos de remuneração, Cecchini salienta que o GHC tem uma questão particular, por atender apenas o SUS. “Com relação à remuneração, não temos convênio com ninguém, atendemos somente ao SUS, e essa questão não atinge diretamente a nossa operação. Porém, também estudamos outros modelos que atualizem o sistema público. Por exemplo, somos 100% SUS e, talvez outros modelos que possamos atender outro tipo de paciente, de modo a subsidiar o paciente do SUS, também estamos considerando”, ressalta.


O diretor-superintendente avalia que o sistema de saúde pública precisa de um choque de gestão. “Todos os anos que a rede privada já trilhou no caminho da gestão, teremos de rapidamente trilhar na saúde pública, sob pena de nos tornarmos inviáveis. Economia de processos, trabalhar com processos mais dinâmicos dentro das instituições públicas deve ser o caminho de 2019 em diante”, afirma.

“Chama a atenção [novas alternativas de remuneração], mas temos de caminhar um pouquinho mais, do ponto de vista de gestão de processos internos, de maneira a proporcionarmos um melhor uso dos nossos insumos. Devemos caminhar, em médio espaço, em uma forma de remuneração por produção, para os nossos funcionários. Não para o ano que vem,mas em breve devemos introduzir esses conceitos mais modernos de remuneração. Estamos considerando, dando os primeiros passos, para que frutifiquem no futuro”, complementa.


Mensagem aos colaboradores

“Eu me dirijo diretamente aos nossos 9.204 colaboradores, que trabalham aqui dentro do Conceição. A maioria é adepta e está querendo a mudança, porque a mudança é boa para o usuário e para o funcionário também. E eles estão sedentos por melhores condições de trabalho, melhores condições de atendimentos. A esses colaboradores, que labutam diariamente, que me dirijo agradecendo por todo o empenho que tiveram no ano de 2019 e, principalmente, pela confiança que eles têm depositado no nosso trabalho, que é uma mudança séria, que a nossa sociedade exige e que o Grupo Hospitalar Conceição não ficará atrás no sentido de não participar dessa mudança”, finaliza.

André Cecchini

Diretor-superintendente do Grupo Hospitalar Conceição, possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992). Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Cristo Redentor, Porto Alegre. Professor Adjunto de Medicina Legal e Neurologia da Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS. (2012) Mestre em Toxicologia e Genética Aplicada pela ULBRA/ Canoas (2016). Possui título de especialista em neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (1997), além de título de especialista em Medicina Legal e Perícias Médicas pela Sociedade Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (2012). É Conselheiro Corregedor do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul ( 2018-2023), e presidente da Associação Gaúcha dos Peritos Legistas (AGAPEL). Possui atuação profissional no Hospital Moinhos de Vento, Hospital Cristo Redentor, Divina Providência e Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas, entre outros.

André Cecchini

André Cecchini

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Confira as datas das entrevistas e acompanhe:

DEZEMBRO

20 – Mohamed Parrini (Hospital Moinhos de Vento – Porto Alegre)

21 – Fernando Pedroso (Hospital Regional Santa Lúcia – Cruz Alta)

22 – Leandro Firme (Hospital São Lucas da PUCRS – Porto Alegre)

23 – Claudiomiro Carus (Hospital de Caridade – Erechim)

26 – Júlio Matos (Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre)

27 – Hilton Mancio (Hospital Tacchini – Bento Gonçalves)

28 – José Clóvis Soares (Hospital Divina Providência –  Porto Alegre)

29 – Ilário Jandir de David (Hospital São Vicente de Paulo – Passo Fundo)

30 – Jorge Bajerski (Hospital de Clínicas de Porto Alegre)

JANEIRO

2 – Ângela Perin (Hospital Dr Astrogildo de Azevedo – Santa Maria)

3 – André Cecchini (Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre)

4 – Cleciane Simsem (Hospital Virvi Ramos – Caxias do Sul)

5 – Fernando Barreto (AESC/Hospital Mãe de Deus – Porto Alegre)

6 – Odacir Rossato (Hospital Ernesto Dornelles – Porto Alegre)

7 – Mauro Borges (Centro Clínico Gaúcho)

8 – Flávio Vieira (Unimed Porto Alegre)

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