Gestão e Qualidade, Jurídico | 1 de dezembro de 2016

O Compliance e a responsabilidade do gestor hospitalar

Tema foi abordado em palestra no Seminário Tendências e Inovações, promovido pela Fehosul
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A segunda palestra do Seminários de Gestão: Tendências e Inovações em Saúde, realizado pela Fehosul e Sindihospa no Plaza São Rafael, no dia 30 de novembro, teve como tema Os Desafios do Compliance e as Responsabilidades do Dirigente Hospitalar. O conferencista foi o administrador Marcos Boscolo, especialista em Gestão Estratégica, sócio de auditoria na KPMG e líder de atendimento aos setores de saúde da empresa no Brasil.

“É um tema indigesto. Compliance é árido, mas de extrema relevância”, iniciou o conferencista. Gestão e compliance estão relacionados. O especialista, através da apresentação de diversos gráficos e dados, falou do que tem acontecido no setor saúde, trazendo um cenário do que é discutido e pesquisado pela KPMG.

Em termos de economia, o grande impacto é na forma como afeta a arrecadação de imposto e como o ente publico aplica o dinheiro. Emprego e número de segurados e renda da família. Segundo ele, a saúde responde a 9.3% do PIB no brasil. “Estamos acima de outros países de primeiro mundo, como Japão e Austrália. O importante não é o PIB, mas a gestão. A instituição melhora com gestão boa”.

Marcos destacou a queda de beneficiados por planos de saúde no Brasil, “o que representa sobrecarga no SUS”. A diminuição de emprego e renda, causados pela crise, tem muita relação com o número de segurados. “Isso mostra uma desigualdade que me incomoda bastante. Quando isso se relaciona com a falta de plano de saúde, de médicos e de assistência, temos problema grande de gestão para resolver”.

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Sabendo do crescente envelhecimento da população e o consequente aumento de doenças, o especialista questiona se os hospitais estão preparados para enfrentar o futuro. “Temos que nos preparar de acordo com o impacto nos negócio. Mas se tivermos um novo perfil de paciente, temos que formar as pessoas hoje, para serem especialistas. É preciso pensar hoje no que pode acontecer daqui a 10 anos. Temos um desafio grande, e vamos ter que enfrentar investindo em gestão”.

Uma pesquisa feita pela KPMG com médicos, mostrou que a formação da mão-de-obra é inadequada em quantidade e qualidade (62% das respostas). Segundo dados apresentados na palestra, cerca de 90% das instituições foram afetadas pela crise. “Ao pesquisar qual iniciativa seria mais viável para melhorar, identificamos necessidade de foco e planejamento em gestão e administração financeira.”

“É uma série de desafios: crise, envelhecimento, sobrecarga no SUS. Para isso, temos que pensar diferente, fazer gestão do negócio. Temos um cenário de dificuldade e é preciso fazer diferente”.

Mapear os riscos

O compliance pode mapear o risco de várias formas, mas é preciso ser encarado de forma objetiva. “O código de ética de uma instituição permeia todos os campos da instituição, dividido com os funcionários. E deve ser claro”. O problema de muitas organizações, no entanto, é que “criam um conselho com quatro pessoas. Não pode ser para conversar com amigos, mas é o que acontece. Se criam conselhos que não têm orientação, questionamento, nada protocolar sobre gestão de risco. Qual é a competência dos conselheiros? Se cercar de pessoas que tenham habilidades, não ser protocolar, mas efetivo. Se não, vai ter tudo, menos efetividade”.

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Os hospitais estão preparados para o aumento da expectativa de vida da população?

 

Adequação e cultura de gestão de risco

“Faça a adequação de políticas de compliance de acordo com o tamanho da instituição. Pesquisando, criando uma cultura de gestão de risco e compliance”. Marcos Boscolo destacou que, de acordo com a OMS, entre 20% e 40% do gasto em saúde é desperdiçado com ineficiência. “O compliance tem o objetivo de diminuir isso. Enquanto o dinheiro é gasto de outra forma, ele não vai para onde se precisa”.

O conferencista salientou que a fraude acontece por falta de organização interna. “47% dos fraudadores não usa tecnologia. Isso pode ser algo como colocar um medicamento no bolso e ir embora. Lei existe para combater isso. Se houver mecanismo interno de compliance para o combate à fraude, a própria instituição pode ter a pena reduzida”.

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“Faça a adequação de políticas de compliance de acordo com o tamanho da instituição’, disse Boscolo

 

A saúde, em várias áreas, é um dos setores que mais tem apresentado crescimento mundial. Há uma série de desafio e oportunidades, mas que requerem mudanças de gestão e monitoramento. “Quando falo com médicos, tenho a função de ser mensageiro. Não se pode dar as costas para os problemas, vamos pensar na saúde através da linha da vida ou da morte? O gestor de saúde tem o compromisso moral de fazer com que isso melhore. É parte do que estamos batalhando. É preciso conseguir fazer com que o dinheiro vá para o lugar certo, as pessoas sejam atendidas com dignidade, para dormirmos mais tranquilos. É um ‘trabalho de formiga’, pessoas de bem fazendo o bem. Vamos trabalhar forte para mudar essa realidade”, concluiu.

Debates

No debate pós-apresentação, Ricardo Minotto (Diretor Financeiro do Hospital São Lucas da PUCRS) ponderou que “o importante não é somente saber que tem ocorrido inconformidades, mas saber como levar essas demandas adiante”, falou.

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Marcos Boscolo (KPMG), Jorge Bajerski (Hospital de Clínicas de Porto Alegre), Ricardo Minotto (Hospital São Lucas da PUCRS) e Paulo Soares (Sindihospa)

 

Já o Dr. Paulo Roberto Barbosa Soares, Diretor geral do Sindihospa, declarou que “nossa função e responsabilidade como líderes é ajudar a construir o compliance e identificar o equilíbrio entre as normas que temos que praticar, junto com a pressão normal que há no setor saúde”. O executivo, com passagem recente pela Unimed, destacou o trabalho de compliance desenvolvido na operadora de planos de saúde sob a sua supervisão. Ele destacou ainda o caso da empresa Siemens, que vem se tornando o case “padrão” para ajudar na constituição de regras para prevenir, identificar e dar resposta a possíveis atos de corrupção.

“É preciso se preparar para nos anteciparmos às demandas regulatórias, na área cível, trabalhista, criminal. O tema requer uma reflexão permanente das práticas do dia a dia. Temos que pensar permanentemente”, resumiu Jorge Bajerski, Vice-Presidente Administrativo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor dos cursos de especialização da Fasaúde/IAHCS.

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Jorge Bajerski foi o coordenador dos debates

 

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Atividade foi realizada em Porto Alegre

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