Estudo desenvolve novo mapa do cérebro e identifica 97 regiões desconhecidas
Pesquisa publicada na revista Nature é considerada um marco na neurociênciaCientistas anunciaram, em publicação da revista Nature que há o dobro do número de áreas identificadas na camada externa do cérebro, sendo mapeadas 180 regiões diferentes no córtex. O “mapa do cérebro” padrão, até então, era o criado há pouco mais de um século (1909) pelo cientista alemão Korbinian Brodmann, que dividia o cérebro humano em 52 regiões diferentes.
A pesquisa faz parte do Human Connectome Project, um trabalho científico realizado sob liderança da Universidade de Washington em Saint Louis (EUA), que revelou que o córtex tem 180 áreas que comandam a consciência, linguagem, atenção, percepções, pensamentos e sensações.
O estudo está sendo considerado pelos especialistas um marco na área da neurociência e deve guiar estudos futuros que buscam compreender o cérebro humano. O trabalho poderá facilitar esse processo, graças a um algoritmo que dá a cada uma dessas áreas mapeadas uma “impressão digital”, que podem ser captadas por exames de ressonância magnética especializados.
Os pesquisadores estudam como o cérebro se ilumina em resposta a estímulos poderão e, agora, podem identificar exatamente onde há possibilidade de induzir a atividade. “O mapa padrão, quando comecei a trabalhar em neuroimagem, era de 1909. É um desenho em 2D com cerca de 50 áreas, então era preciso olhar para a foto e depois para os dados, para tentar adivinhar de qual parte do cérebro vinham os dados”, observou o neurocientista Matthew Glasser, um dos autores do estudo, em entrevista ao portal STAT.
Os dados confirmaram a existência de 83 regiões cerebrais e descobriram outras 97. Algumas novas áreas são totalmente desconhecidas e outras são subdivisões de porções maiores. O córtex pré-frontal dorsolateral, que fica na parte anterior do cérebro, é na realidade, a reunião de uma dezena de pequenas partes.
“Identificamos as regiões por meio de desenhos arquitetônicos. Assim, o córtex motor é uma das áreas mais grossas, e uma das áreas mais finas que regula o tato fica próxima. Outra medição foi usada para identificar a quantidade de isolamento em torno das ligações entre os neurônios. Houve um pouco de isolamento na própria massa cinzenta, mas que difere em outras áreas do cérebro. Nós usamos essa informação para encontrar limites”, afirmou Dr. Glasser.
O novo mapa vai ajudar a conhecer o desenvolvimento da mente ao longo dos anos, esclarecer como ocorre o seu envelhecimento e revelar de que maneira suas funções podem ser alteradas por doenças como Alzheimer.
Para criar o mapa, sete centros de pesquisa americanos e europeus analisaram imagens de ressonância magnética e a atividade cerebral de 210 adultos que fizeram parte do Human Connectome Project. O programa, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), busca compreender a conexão entre os neurônios cerebrais.
Mapas anteriores olhavam para apenas um aspecto do córtex e não os dois (imagens e atividade cerebral) em conjunto. Assim, analisavam o agrupamento dos neurônios ou então que áreas se tornam ativas durante o exercício de algumas funções. “A situação é análoga à astronomia, quando telescópios terrestres produziam imagens obscuras do céu antes do surgimento dos telescópios espaciais e da óptica adaptativa”, comparou Glassler, em comunicado dos NIH.
Em entrevista ao The New York Times, Matthew Glasser disse que “podemos pensar nesse mapa como se ele fosse uma versão 1.0”. Ou seja, “deveremos ter uma versão 2.0 assim que os dados forem melhorados e examinados por mais pessoas. Esperamos que o mapa evolua junto com o progresso da ciência”, explicou.
Também para o The New York Times, o neurocientista David Kleinfeld, da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), afirmou que o estudo trata-se de um conhecimento novo e fundamental para a neurociência cerebral. “É um passo em direção à compreensão de por que somos o que somos”.
Com o novo mapa do cérebro, neurocirurgiões poderão planejar procedimentos com mais precisão, reduzindo as chances de lesões em regiões que não deveriam ser afetadas pelos cortes. Além disso, os dados poderão ajudar a compreender desordens complexas e ainda misteriosas, como a esquizofrenia.
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