Estatísticas e Análises, Mundo | 26 de março de 2015

Estudo afirma que cérebro fica mais “inteligente” com a idade

Pesquisadores norte-americanos mostram como a capacidade cognitiva fica mais aguçada
Estudo confirma que cérebro fica mais inteligente com a idade

Por trás de todos os tradicionais elogios dirigidos aos mais velhos (esperto, astuto, sábio) está um fato que cientistas não conseguem qualificar com facilidade: as faculdades mentais que melhoram com a idade.

As pessoas que estão além da meia-idade tendem a saber mais do que os jovens, pelo simples fato de terem vivido mais tempo, e se saem melhor em testes de vocabulário, palavras cruzadas e outras aferições de inteligência permanente por essa razão.

Os cérebros mais velhos oferecem, de acordo com um artigo do periódico Psychology Science, elementos de julgamento social e memória de curto prazo. Partes importantes do complexo cognitivo podem ter seu auge mais tarde do que foi pensado anteriormente. O estudo é de dois pós-doutorandos. Joshua Hartshorne, do MIT, e Laura Germine, de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, que analisaram uma ampla coleção de resultados de testes cognitivos feitos por pessoas de todas as idades. Como resultado, descobriram que uma divisão do tipo de cognição em relação à idade – fluida nos mais jovens e cristalizada nos mais velhos – escondia nuances importantes.

“Essa dicotomia em relação aos picos dos mais jovens e dos mais velhos é muito rasteira. Há muitos outros padrões acontecendo e precisamos levá-los em conta para entender de verdade os efeitos da idade na cognição”, destaca Hartshorne, no jornal The New York Times. Não é a primeira vez que especialistas desafiam a literatura científica sobre o declínio relacionado à idade. Em 2014, pesquisadores alemães afirmaram que os “déficits” cognitivos da idade eram causados principalmente devido ao acúmulo de conhecimento. O cérebro fica mais lento porque precisa fazer a busca em uma maior biblioteca mental de fatos.

Os especialistas afirmaram que a nova análise levanta outra questão: existem elementos diferentes e independentes da memória e da cognição que têm seu auge em períodos distintos da vida? A força da nova pesquisa está parcialmente em seus números. O estudo avaliou resultados históricos do popular teste de inteligência Wechsler (um dos mais importantes testes para avaliação clínica de capacidade intelectual de adultos na faixa etária entre 16 e 89 anos) e os comparou com resultados recentes de testes cognitivos curtos feitos por dezenas de milhares de pessoas nos sites dos autores (testmybrain.org e www.gameswithwords.org).

Por um lado, o problema desse tipo de abordagem é que, como não seguiram as mesmas pessoas durante um longo tempo, a pesquisa pode ter deixado de lado o efeito de experiências culturais diferentes. Porém, a maioria dos estudos anteriores não foram tão amplos nem tiveram a mesma abrangência de idades.

Os participantes dos sites estavam entre 10 e 89 anos e fizeram uma grande bateria de testes que mediam habilidades como memória para símbolos abstratos e sequências de dígitos, solução de problemas e facilidade para ler emoções nos olhos de pessoas desconhecidas. Igualmente importante foi o fato de os cientistas procurarem o efeito da idade em cada tipo de teste. Pesquisas anteriores normalmente agrupavam testes similares, assumindo que eles capturavam um atributo básico comum, da mesma maneira que um treinador dá nota para a capacidade atlética de alguém baseado na velocidade, força e habilidade de saltar.

“Encontramos habilidade diferentes amadurecendo em idades diversas. É uma imagem muito mais rica do tempo de vida do que apenas chamar de envelhecimento”, explica Laura Germine. A velocidade de processamento de informações (manipulação de números, palavras ou imagens) geralmente chega ao auge no final da adolescência, confirmaram os especialistas, e a memória para algumas coisas, como nomes, chega ao pico aos 20 e poucos anos. No entanto, a capacidade desse “bloco de rascunho mental”, chamado memória de trabalho, atinge seu melhor momento pelo menos uma década depois e demora para entrar em declínio. As habilidades para lembrar de rostos e fazer contas de cabeça, principalmente, chegaram ao auge aos 30 anos, segundo o estudo.

Os pesquisadores também realizaram outro teste, em que as pessoas precisavam olhar para fotos de olhos de desconhecidos em um computador e determinar seu estado de espírito de acordo com um menu com opções como “cauteloso”, “inseguro” e “cético”. Laura diz que “não é um teste fácil, e a pessoa não sabe depois se foi bem ou não”. Pessoas em seus 40 ou 50 anos consistentemente se saíram melhor, segundo o estudo, e a habilidade decaiu muito devagar em idades mais avançadas.

A conclusão é que um cérebro mais velho se move mais devagar do que quando era jovem, mas se torna mais preciso em muitas áreas e mais experiente em ler o humor das outras pessoas, além de ter mais informações de forma geral. Ninguém precisa de um cientista cognitivo para entender que é melhor pedir um aumento ao chefe quando ele está de bom humor. Mas a mente mais velha pode estar mais apta a deixar de lado julgamentos interpessoais errados e se sair bem em situações complicadas. Por exemplo, quando percebe algo como “essa pessoa não está feliz com seu pensamento rápido e velocidade de processamento. Ele está quase partindo para a agressão”, diz Zach Hambrick, professor de Psicologia da Universidade Estadual do Michigan.

Os detalhes para essa complexidade do envelhecimento cerebral ainda não estão claros, já que exames desse tipo não foram extensivamente usados nesse tipo de pesquisa, afirmam Hambrick e outros especialistas. Além disso, não se chegou a qualquer conclusão na nova pesquisa se as mudanças que acontecem na cognição por causa da idade são resultado de uma causa só – como o declínio da velocidade das transmissões neurais – ou de várias.

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