Estatísticas e Análises, Mundo | 9 de agosto de 2016

Austrália: metade das prescrições de antibióticos em hospitais são inadequadas ou fora das orientações

Uso excessivo de antibióticos vai gerar impactos "extraordinariamente" negativos
Metade das prescrições de antibióticos em hospitais são inadequadas ou estão fora das orientações oficiais

O diretor médico do Departamento de Saúde da Austrália, Chris Baggoley (foto), afirmou ao jornal Sydney Morning Herald que a Austrália enfrentará impactos econômicos e de saúde “extraordinariamente” negativos se continuar com o uso excessivo de antibióticos. Dados recentes apontam que quase metade das prescrições em hospitais estão sendo gerenciadas de forma incorreta.

Chris Baggoley considera que a prescrição desnecessária de antibióticos para doenças virais permaneceram em níveis elevados na Austrália, arriscando a propagação de infecções bacterianas altamente resistentes. Embora a compreensão pública sobre os riscos dessa resistência tenha crescido à medida que o uso excessivo de medicação caiu gradualmente, o especialista diz que médicos e outros profissionais de saúde precisam informar melhor os pacientes sobre os riscos. “Nós somos um dos maiores utilizadores per capita de antibióticos no mundo”, alertou.

“As pessoas se acostumaram a sentir-se mal, ir ao médico e, certamente, há cinco ou 10 anos apenas esperavam para obter antibióticos, mesmo que o médico diga que provavelmente o problema seja um vírus”.

Relatório

O AURA 2016, primeiro relatório australiano anual sobre resistência antimicrobiana (veja o relatório original, em inglês), detectou que o uso desses medicamentos tinha atingido o pico em hospitais australianos em 2010.

“No entanto, os dados mais recentes mostraram que 23% das prescrições de antibióticos nos hospitais ainda eram consideradas inadequadas, enquanto 24,3% não estavam de acordo com as orientações oficiais. Para mais de metade das pessoas com infecções do trato respiratório foram prescritos antibióticos que iam contra as diretrizes”.

No relatório, é apresentado os países que apresentam Dose Definida Diária mais altas em hospitais. Segundo informações do site da Anvisa, Dose Definida Diária (DDD) é uma unidade de medida de consumo de medicamentos, criada para superar as dificuldades derivadas da utilização de mais de um tipo de unidade em estudos de utilização de medicamentos. Esta é a unidade utilizada pelo Conselho Nórdico sobre Medicamentos, pioneiro nos estudos de utilização de medicamentos, e é a unidade recomendada pelo Grupo de Estudos de Utilização de Medicamentos da OMS (WHO Drug Utilization Research Group). Para uniformizar os dados sobre o consumo de antimicrobianos, utiliza-se a DDD, conceituada como “a dose média diária de manutenção, usada, habitualmente, por um indivíduo adulto, para a principal indicação terapêutica daquele antimicrobiano”.

Inglaterra e Escócia são os dois países que apresentam índice de DDD mais altos, um pouco acima de 4. A Austrália é o terceiro, com 3 (ver abaixo).

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Segundo Baggoley, as agências da Austrália se uniram em uma abordagem para enfrentar o que ele descreveu como um “problema global” que vinha chamando a atenção até mesmo das Nações Unidas. O diretor médico acredita que a resistência aos antibióticos teria um impacto desproporcional sobre os setores vulneráveis ​​da sociedade, como pacientes de quimioterapia e idosos em asilos.

“É muito incomum que questões de saúde sejam levantada com tal importância, que precisem ser discutidas na Assembleia Geral das Nações Unidas”, salienta. “Teremos impactos extraordinários se descobrirmos que não há antibióticos para controlar doenças comuns que as pessoas têm”. Chris Baggoley disse que os pacientes poderiam ajudar nesse processo ao aceitar as recomendações dos médicos contra o uso de antibióticos para prováveis infecções virais, especialmente durante o inverno.

Para ele, profissionais de saúde também devem explicar aos pacientes a importância de tomar antibióticos apenas quando eles serão realmente eficazes. “Nós ainda temos muito a melhorar nas informações dadas ao público sobre a questão da resistência e suas implicações”.

Embora o especialista afirme que “temos que comunicar melhor e constantemente”, ele acredita que “o público agora deve realmente entender que a resistência aos antibióticos é uma ameaça séria”, afirmou.

Baggoley foi diretor médico do governo australiano desde agosto de 2011, sendo o grande líder nacional em campanhas contra o Ebola na África Ocidental e contra a propagação do recente vírus Zika. Também trabalhou com a Organização Mundial de Saúde (OMS) nos esforços internacionais para mitigar a propagação da Síndrome Respiratória Oriente Médio.

No Brasil, a Anvisa vem trabalhando com medidas como a de exigir a obrigatoriedade de apresentação de receita médica na venda deste tipo de medicamento, com a retenção do documento pela farmácia. As farmácias passaram a ter que alimentar uma base de dados com detalhes da receita e do tratamento, além do nome do médico e do paciente. A agência sugere ainda que hospitais adotem um programa de controle do uso de antimicrobianos e antibióticos como estratégia para contribuir para o uso racional desta medida de profilaxia.

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