Gestão e Qualidade | 13 de março de 2017

Paulo Chapchap e Jorge Moll apresentam visões inovadoras da gestão empreendedora em saúde

Lideranças cativaram público de 300 participantes em evento da FEHOSUL e SINDIHOSPA, em Porto Alegre
Paulo Chapchap e Jorge Moll em evento da FEHOSUL, AHRGS e Sindihospa

Entre palestras e perguntas do público, o Seminários de Gestão – Tendências e Inovação em Saúde iniciou, na tarde da sexta-feira 10, com a fala do Presidente da FEHOSUL e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), Cláudio José Allgayer. Ao iniciar a apresentação, Allgayer enfatizou a importância de ver a comunidade hospitalar reunida no evento. O presidente também deixou claro o compromisso institucional da FEHOSUL e do SINDIHOSPA com as organizações de saúde gaúchas na construção sustentável dos possíveis cenários para o futuro. Cerca de 300 pessoas estiveram na Amrigs para assistir as palestras e os debates.

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Presidente da FEHOSUL, Cláudio Allgayer, citou a importância da construção sustentável dos possíveis cenários para o futuro

 

A atividade científica iniciou com a palestra do CEO do Hospital Sírio-Libanês, médico Paulo Chapchap. O presidente do Conselho de Administração da Rede D’Or São Luiz, Jorge Moll, falou logo após. Ambos ressaltaram as tendências observadas no complexo campo da saúde nos ambientes internacional e nacional e os impactos das mesmas na gestão hospitalar contemporânea.

Paulo Chachap

Paulo Chapchap explicou que um dos caminhos nos países desenvolvidos é o de aplicar seu produto interno bruto (PIB) de forma mais ampla para a área de saúde. Também relatou que isso pode ser um meio de melhorar a saúde pública. “Os países mais desenvolvidos, como os europeus, utilizam cerca de 10% do PIB para a área de saúde”, explicou.

A relação necessidades infinitas versus recursos limitados é um dos grandes entraves para tornar o mercado da saúde mais justo para todos, citando o livro Dilemas da Medicina (tradução livre), do ex-professor da Universidade de Wharton, William Kissick, falecido em 2013.  O palestrante comentou sobre o que ele chama de “triângulo de força”, que são as três dificuldades de gestão na área da saúde, que ficam mais difíceis de serem realizadas juntas. Elas podem ser definidas como a dificuldade de satisfazer os altos custos, acesso efetivo dos serviços para a população e a qualidade do cuidado, ao mesmo tempo.

Necessidades infinitas, recursos limitados, qualidade e segurança na prestação de serviços, satisfação das expectativas dos pacientes e falta de integração entre Público e Privado constituem um cenário que deve ser enfrentado por todos os gestores para que se avance a uma saúde menos restritiva e resolutiva.

Os maiores desafios de gestão estão na diferença entre os suprimentos e a demanda. Eles podem ser caracterizados na demanda da sociedade pelos serviços de saúde e os suprimentos do hospital, criando tensões nos sistemas de saúde e incertezas críticas, como “a satisfação dos desejos dos que podem e a necessidade dos que precisam”.

Um dos desafios do cenário atual da saúde é definir o que é real e o que é apenas especulação sobre a área da saúde. Como exemplo, Paulo Chapchap citou que as pessoas falam que os hospitais pagam incentivos aos médicos plantonistas para cada internação realizada, sem ter nenhuma experiência no assunto. “Temos desafios de dar respostas através de uma gestão mais transparente e ética”, respondeu. “Estamos desperdiçando dinheiro. Precisamos resolver o problema da gestão”, afirmou Chapchap.

Transparência na gestão é essencial. Chapchap cita que o Hospital Sírio Libanês mostra os indicadores no site do hospital, independente do resultado. “Transparência é mostrar deliberadamente”.

O executivo reforçou alguns modelos encontrados facilmente no cenário nacional que também precisam ser revistos, entre eles a forma de pagamento que não foca na saúde (modelo fee for service), falta de promoção e prevenção (sociedade), falta de clareza de papéis do público e do privado, pouco foco no desfecho e práticas de gestão ineficientes.

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Paulo Chapchap: “Temos de dar respostas através de uma gestão mais transparente e ética”

 

E alertou para algumas tendências que devem fazer parte da pauta estratégica dos gestores, como envelhecimento da força de trabalho, incorporação de novas tecnologias, judicialização, aumento da prevalência de doenças crônicas, maior sobrevida dos pacientes com câncer e AIDS, e consumismo.

O CEO também defendeu lideranças colaborativas. “As lideranças devem ser mais colaborativas. Se você decidir sozinho como líder, você tem mais chance de errar”. Segundo Chapchap, o brasileiro, culturalmente, tem o que é chamado de power distance, e que isso “cria a distância entre as pessoas de um cargo de poder em relação às outras”, afirma. Ele também citou que é isso que faz com que os brasileiros não desafiem seus líderes políticos. Para o CEO, existem decisões mais apropriadas para cada momento específico, o que é errado pode não ser errado depois. “Se você decidir sozinho como líder, terá mais chances de errar”.

Debates

Após a conferência, Chapchap participou de um debate, coordenado por Cláudio José Allgayer, com a participação do Diretor Executivo do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Alceu Alves da Silva, e do superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, os quais instigaram o aprofundamento do tema com o conferencista.

Parrini mencionou a forma como a previdência é abordada e defendeu uma mudança no pensamento sobre ela, citando as necessidades das futuras gerações. Ele também citou a possibilidade de ações utilitaristas na medicina, mesmo sedizendo não ser um utilitarista, manejando como exemplo a oncologia, onde uma conta pode chegar a 100 mil reais por dia, fazendo com que hospitais tenham que escolher entre atender a todos e deixar casos específicos de lado. No final de sua fala, ele ainda lançou a questão:  “como nós faremos para atender a todos? ” .

Alceu Alves da Silva focou sua intervenção  em inovação e tendências na área da saúde.  Ele vê as possibilidades existentes como um mosaico de variáveis e criticou o atual modelo  de gestão que não as utiliza. “No meu entendimento, uma das grandes razões de porque a gente não consegue mudar é que toda vez que a gente faz essas discussões temos uma tendência de imediatismo e resultados como gestor;  como gestor nós resolvemos uma variável e não as bases que precisam ser repensadas”, afirmou.

Em outro momento, o Diretor do Mãe de Deus questionou as razões da falta de crescimento da saúde privada no Brasil. “Qual o tamanho do mercado de saúde privado no brasil? 25% da população no Brasil  utiliza saúde suplementar, será que não poderia ser 35%?  Qual o movimento na área da saúde para fazer o mercado crescer?”

Para Alceu, uma das soluções é repensar as relações do setor público e do setor privado. “Estamos em uma encruzilhada, a população sabe que não pode ser mais negligenciada como ela é e o governo sabe que tem que ampliar as ações. Mas na base de que modelo? Desse, que não consegue ampliar um posto de saúde?” .

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Mohamed Parrini, Alceu Alves da Silva e Paulo Chapchap no momento dos debates e perguntas

 

Jorge Moll

O presidente do Conselho de Administração da Rede D’Or São Luiz, Jorge Moll, comandou a segunda parte da atividade sobre as Tendências em Saúde e Impactos da Gestão Hospitalar. Moll, que fundou a Rede e lidera 32 hospitais no país, iniciou a conferência discorrendo sobre a história da Rede e como saiu de apenas uma instituição de exames ao grande número de hospitais de excelência. “Idealista em medicina, comecei com equipamentos. Fizemos no Rio de Janeiro  uma grande instituição de exames complementares, que era uma coisa que faltava muito”, afirmou o cardiologista e empresário.

Moll conta que foi uma trajetória de ocupar espaços. Segundo ele, o Rio de Janeiro no final da década de 1970 e início de 1980 era o “centro da medicina no Brasil”. Os serviços, porém, começaram a piorar, principalmente porque as instituições hospitalares do estado eram, em sua maioria, públicas. Além disso, “a situação agravou muito em função do SUS, que unificou tudo e tirou a identidade dos hospitais que existiam”. Diante disso, passaram a faltar diagnósticos de qualidade, serviços de excelência. Assim, o empresário decidiu “virar a página”. O Rio de Janeiro é uma “cidade muito grande, não adianta ter um hospital, precisamos de uma rede de hospitais que atenda várias áreas da população”, explica. Dessa forma, foram construídas as três primeiras instituições da rede: Copa D’Or, Barra D’Or e Quinta D’Or. “Tudo na base da vontade”, contou Moll.

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Jorge Moll: “Queremos qualidade técnica e percebida. Queremos fidelizar o paciente”

 

Mesmo com um início difícil, “com dívidas”, Moll explicou aos presentes que não desanimou. Nessa época, afirma, quem ganhava dinheiro eram as operadoras, que repassavam pouco aos hospitais, nos atendimentos. “A gente resistiu e cresceu”. Somente em 2016, comenta Moll, foram 1 bilhão de reais em impostos – federais e municipais. “É uma responsabilidade social muito grande”, contextualizou.

Após a explanação sobre a trajetória da Rede, o empresário comentou que com a crise econômica no Brasil, muitas pessoas deixaram os planos de saúde e foram para o SUS, ou mudaram para planos com menor cobertura e, até, com qualidade muito inferior ao que estavam acostumadas.

Diante desse quadro, Jorge Moll apresentou para o público o chamado Modelo Gestão Total da Saúde, que, segundo ele, é uma “alternativa à verticalização” que algumas dessas operadoras realizam. O objetivo, conforme explicou, é “oferecer saúde sem desperdício, com menor custo, utilizando, inclusive, a ociosidade dos hospitais para oferecer atendimento com custo mais baixo”. Desse modo, Moll pretende ajudar operadoras de saúde “sérias e respeitadas que nos ajudam no nosso segmento”.

Para isso, foi trazida uma corretora “com conhecimento, pessoas do mercado, que estão acostumadas a procurar os melhores resultados” para realizar o projeto, comenta Moll. Segundo o empresário e médico, as operadoras também não sabem exatamente o que acontece com o paciente. É um “autoriza não autoriza, mas não têm o acompanhamento”, comentou o empresário.

O objetivo, portanto, com essa corretora e com o próprio auxílio da Rede, é ajudar as operadoras a entender mais e conhecer melhor o tratamento e os caminhos do paciente no hospital, desde o ambulatório até a alta complexidade.

“Queremos qualidade técnica e percebida. Queremos fidelizar o paciente”. Para isso, explicou o empresário, o Modelo pretende utilizar médicos auditores dos próprios hospitais sem prejudicar a qualidade médica das instituições, protocolos gerenciados em alto custo e uso de DMI, uso de especialistas selecionados para Alta Complexidade, além de uma Central de Agendamento, entre outras providências para um trabalho com gestão da informação. No Modelo, conforme Moll apresentou, há controle integral do paciente, de sua entrada no ambulatório, até a passagem na emergência, internação clínica e internação cirúrgica.

Por fim, Jorge Moll falou aos presentes que “a gestão dos hospitais é voltada para a qualidade, os diretores trabalham para isso”. Segundo ele, todos os hospitais da rede são acreditados, sendo que alguns são internacionalmente. “A nossa diretriz é qualidade médica”, completou.

Num momento de desabafo, ou “descarregar” como ele próprio diz, Moll afirmou que o bom empresário no Brasil “hoje é visto como vilão. É um erro muito grande, o empresariado precisa ser estimulado. Se o empresário desistir do Brasil, o país não tem como sobreviver”. Convocando a classe política, o empresário completa: “precisamos de líderes que pensam como empresários”.

Debates

Em debate após a exposição  de Jorge Moll, o presidente do SINDIHOSPA, Henri Chazan, coordenou a mesa que contou com o diretor geral do Hospital Sírio-Libanês, Fernando Andreatta Torelly, e o Diretor Executivo do Hospital Santa Lúcia de Cruz Alta, Fernando Scarpellini Pedroso, como debatedores da conferência.

Torelly iniciou o debate falando sobre a situação do mercado da saúde brasileira. “No atual sistema de saúde, os médicos estão insatisfeitos com os seus honorários, as empresas não querem mais reajuste nos planos porque não tem como conceder, os pacientes estão reclamando que as emergências estão superlotadas e que demoram o atendimento e outros não têm acesso”, conta.

Para ele, o sistema de saúde atual “conseguiu desagradar a todos”.  Porém, ele cita que podemos tirar vantagens disso e fazer coisas novas. “Alguma coisa tem que ser feita, porque só reclamar não vai resolver nada. Podemos não mais sobreviver da doença das pessoas e sim da saúde”, explica.

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Fernando Pedroso, Fernando Torelly, Jorge Moll e Henri Chazan compuseram a “mesa” de debates

 

Torelly aproveitou para instigar as lideranças que assistiam as palestras, e relatou avanços e parcerias advindas do programa implantado pelo novo prefeito de São Paulo, João Doria Jr. O ” Corujão da Saúde” vem possibilitando a diminuição das filas no SUS com o uso de serviços de hospitais premiuns de São Paulo, como o Sírio-Libanês, em horários alternativos, como na madrugada. Segundo Torelly “o mesmo pode ser facilmente replicado aqui [Porto Alegre]”. E destacou, em primeira mão, que a empresa UBER, ofereceu viagens gratuitas para que os pacientes mais afastados pudessem se deslocar do hospital até sua casa, já que de madrugada, muitas linhas do transporte público não estão disponíveis. “A gente tem que começar a ver que talvez exista um mundo diferente e que temos a obrigação de sermos protagonistas. Só reclamar não vai resolver. Eu acho que esta cidade tem a capacidade e a cultura de fazer diferente”.

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Torelly: “A gente tem que começar a ver que talvez exista um mundo diferente e que temos a obrigação de sermos protagonistas. Só reclamar não vai resolver. Eu acho que esta cidade tem a capacidade e a cultura de fazer diferente”

 

Fernando Scarpellini Pedroso parabenizou Jorge Moll pelo seu trabalho e o definiu como um modelo de pioneirismo. “Existe todo um sistema integrado, desde o ambulatório até o atendimento mais complexo. Acho que é um modelo inovador”, elogiou.

Pedroso também falou sobre regulamentação dos hospitais e debateu a possibilidade da criação de uma regulação mais eficiente para o paciente através de um novo modelo de saúde.

O médico Fernando Lucchesse, doutor em cardiologia, foi um dos atentos ouvintes das explanações, e elogiou Jorge Moll como grande cardiologista. Ambos estudaram juntos nos EUA. Segundo Lucchesse, Moll foi um dos visionários que revolucionaram a cardiologia no Brasil, dizendo que a cardiologia perdeu um grande médico, mas por outro lado a gestão ganhou um grande líder.

Fernando Torelly, Cláudio Allgayer, Paulo Chapchap, Jorge Moll, Henri Chazan e Alceu Alves da Silva

Fernando Torelly, Cláudio Allgayer, Paulo Chapchap, Jorge Moll, Henri Chazan e Alceu Alves da Silva

 

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Lideranças marcaram presença no seminário Tendências e Inovações em Saúde, na Amrigs, dia 10 de março

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