Estatísticas e Análises, Gestão e Qualidade | 6 de agosto de 2021

O uso de biópsia líquida na rotina para identificar o risco de rejeição de rim transplantado

Dasa e HRim se unem em protocolo para validar uso da biópsia líquida na rotina clínica de avaliação de risco de rejeição ao transplante renal
O uso de biópsia líquida na rotina para identificar o risco de rejeição de rim transplantado

A Doença Renal Crônica (DRC) é progressiva e reduz a capacidade do rim de remover os resíduos e o excesso de água do organismo. Pelo fato de não apresentar sintomas de forma precoce, o diagnóstico da DRC, na maior parte das vezes, ocorre já em um momento tardio e leva o paciente para a hemodiálise ou, em casos mais graves, para a necessidade do transplante.

A estimativa é que 10% dos pacientes desenvolvam algum grau de rejeição do órgão transplantado em até 15 dias após a cirurgia. Com o objetivo de diagnosticar precocemente a rejeição ao rim recebido, a Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil, e o Hospital do Rim e Hipertensão (HRim), conveniado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se unem em protocolo que acompanha 150 pacientes com DRC para validar uso da biópsia líquida na rotina clínica de avaliação de risco de rejeição ao transplante renal.

Para acelerar a detecção precoce da rejeição, que pode direcionar o tratamento, a pesquisa é uma avaliação de mundo real do AlloSeq, exame que indica a presença do DNA livre de células derivadas dos doadores (dd-cfDNA) no órgão transplantando. A análise é feita no sangue do receptor para indicar a presença de DNA do doador no órgão transplantado. Quando há uma concentração de DNA do doador maior que a esperada é um indicativo que esteja havendo lesão do órgão doado.

Ao identificar precocemente a rejeição, é possível orientar melhor o tratamento, indicando a necessidade de aumento de imunossupressão com o propósito de diminuir e até reverter a rejeição e perda do órgão. “Nós já sabemos que a técnica de biópsia líquida, na investigação de rejeição à transplante renal, de fato funciona. Estudos robustos confirmam sua eficácia e a técnica está em uso em centros de transplante renal dos Estados Unidos como padrão-ouro. Com esse protocolo, queremos validar a nossa capacidade de fazer o teste, dentro do prazo, com qualidade e confiança de dados, quando adotado em nossa rotina. É uma avaliação de mundo real deste teste em amostra da população brasileira”, destaca o coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da Dasa, José Eduardo Levi (foto acima).

Detecção, monitoramento e tratamento  

O estudo em realização pela Dasa e Hospital do Rim visa apresentar uma abordagem inovadora, que melhora a detecção, monitoramento e tratamento da lesão do enxerto (órgão transplantado), com foco em reduzir as taxas de rejeição e adotar as mais eficazes medidas terapêuticas necessárias no transplante renal. “Este novo teste, que oferecemos com exclusividade no Brasil, faz parte da nossa estratégia de individualização do cuidado através da medicina de precisão e terá um impacto positivo no SUS, pois 9 entre 10 transplantes renais ocorrem no sistema público de saúde”, afirma o diretor médico da Dasa, Gustavo Campana (foto abaixo).

gustavo campana dasa

O teste é recurso inovador quando comparado com o modelo tradicional disponível hoje, que consiste em fazer dosagem de sódio e creatinina no sangue do receptor. “O exame atual é pouco efetivo. Ele detecta pelo órgão a liberação de enzima que é marcadora de atividade renal. Quando a creatinina sérica está aumentada no sangue, significa que o rim não está funcionando direito. Só que esse nível de alteração é dado tardiamente em comparação com o dd-cfDNA”, ressalta Levi.

A creatinina plasmática é um biomarcador insensível, inespecífico e que não detecta de forma precoce a lesão do enxerto. Por sua vez, o dd-cfDNA mostrou ser um biomarcador útil para o monitoramento abrangente de lesão de aloenxerto (de um doador humano para outro, mas geneticamente diferente), que supera as limitações das abordagens tradicionais. Determinações seriadas de dd-cfDNA podem sugerir ou descartar rejeição aguda e crônica, bem como outras lesões do enxerto, precocemente, evitando biópsias desnecessárias. “O exame é o único não invasivo que consegue avaliar as condições do rim de pacientes que passaram pelo transplante, com maior acurácia, proporcionando um melhor desfecho clínico”, explica Campana.

 José Eduardo Levi acrescenta que o dd-cfDNA funciona como um biomarcador com potencial de permitir uma vigilância próxima e econômica de receptores de transplante para diminuir o retransplante e a perda prematura do rim transplantado.

O especialista conclui que o fato de o médico ou equipe de saúde informar ao paciente que ele está tendo um episódio de rejeição, não significa que seu novo rim não está funcionando ou que será completamente rejeitado. Alterar a quantidade do medicamento imunossupressor geralmente pode tratar esse problema. Por conta disso, é importante fazer o uso correto do medicamento imunossupressor, na quantidade e dosagem prescrita.

 



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