Gestão e Qualidade, Política | 13 de abril de 2022

Na maior crise da história, setor filantrópico lança campanha “Chega de Silêncio”

“Se não houver políticas imediatas, consistentes, de subsistência para estes hospitais, dificilmente suas portas se manterão abertas e a desassistência da população é fatal” diz o presidente da CMB, Mirocles Véras
Na maior crise da história, setor filantrópico lança campanha Chega de Silêncio

Graves problemas financeiros são velhos conhecidos das Santas Casas e hospitais filantrópicos, em função do nível de endividamento e do subfinanciamento do SUS, situações que culminaram, nos últimos seis anos, no fechamento de 315 hospitais filantrópicos, segundo a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB). A situação, porém, se agravou ainda mais com a pandemia, que elevou a demanda e os custos, fazendo com que a dívida do setor já chegue a mais de R$ 20 bilhões.

Segundo a entidade, um aporte de R$ 2 bilhões emergenciais foi anunciado pelo governo federal, em maio do ano passado, mas, até o momento, não se efetivou. A preocupação em manter o trabalho tem, agora, outro alerta: tramita na Câmara Federal, com votação prevista para os próximos dias, o projeto de lei 2564/20, originário e aprovado no Senado, e que institui o piso salarial da enfermagem. O impacto da proposta para os hospitais filantrópicos que prestam serviços ao SUS é estimado em R$ 6,3 bilhões, porém, no texto, não é indicado nenhuma alternativa de financiamento, o que traz o sentimento de desespero do setor em como arcar com os custos, se a matéria for aprovada.

“Não somos contrários ao projeto, muito pelo contrário, os hospitais valorizam todos os profissionais de saúde e somam esforços com as categorias profissionais na busca por uma fonte de receita que possibilite o financiamento de remunerações mais justas. Mas a nossa realidade torna o cumprimento desse projeto insustentável e estabelecendo-se definitivamente a falência dessas instituições”, fala o presidente da CMB, Mirocles Véras, lembrando que, além deste, existem outros 53 projetos de lei em tramitação referentes a piso salarial de profissionais do setor saúde, com evidentes preocupações sequenciais.

Paralisação

A CMB representa 1.824 hospitais filantrópicos, que dispõem de 169 mil leitos hospitalares, 26 mil leitos de UTI e atendem a mais de 50% da média complexidade do SUS e 70% da alta complexidade. Diante do cenário financeiro alarmante, que se configura como a maior crise da história, a entidade mobilizou as federações de hospitais e instituições do todo Brasil para série de ações, a partir do dia 19 de abril, quando haverá paralisação simbólica e reagendamento de procedimentos eletivos em todos os hospitais filantrópicos do país. “Enfatizamos que a população não ficará desassistida, pois as eletivas serão reprogramadas. O ato será para expormos e evidenciarmos, de forma pública, os problemas que o setor está enfrentando”, fala Véras.

cmb chega de silencio ss

Já na semana de 25 a 28 de abril, ocasião em que Brasília receberá a XXIII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, reunindo prefeitos de todas as partes do país, será realizada ação conjunta envolvendo caravana com integrantes de federações e hospitais filantrópicos. No dia 26, está programado ato simbólico com representantes dos maiores hospitais filantrópicos de cada estado brasileiro.

Ainda sobre as ações que se darão nesse período, a CMB irá agendar reunião com as lideranças parlamentares e oficializará o presidente da República, as presidências da Câmara e do Senado e todos os parlamentares, além dos ministérios, para pautarem sobre a necessária fonte de recursos que possam dar condições de estas instituições suportarem o impacto financeiro do PL.

Discrepância

Desde o início do plano real, em 1994, a tabela SUS e seus incentivos foi reajustada, em média, em 93,77%, enquanto o INPC (Índice de Preços no Consumidor) foi em 636,07%, o salário-mínimo em 1.597,79% e o gás de cozinha em 2.415,94%. “Este descompasso brutal representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviço ao SUS, de todo o segmento”, pontua o presidente da CMB. “Desta forma, se não houver políticas imediatas, consistentes, de subsistência para estes hospitais, dificilmente suas portas se manterão abertas e a desassistência da população é fatal”, salienta.

cmb chega de silencio

Alocação de recursos necessários: R$ 17,2 bilhões

Para que isso não ocorra, as Santas Casas e hospitais filantrópicos requerem a alocação de recursos na ordem de R$ 17,2 bilhões, anualmente, “em caráter de urgência urgentíssima, como única alternativa de assunção das obrigações trabalhistas decorrentes do projeto de lei 2564/20, assim como para a imprescindível adequação ao equilíbrio econômico e financeiro no relacionamento com o SUS”, conclui Véras.

Entidades como CNSaúde (Confederação Nacional de Saúde, Hospitais, Estabelecimentos e Serviços) e FENAESS (Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde) também estão engajadas no movimento.

Abaixo assinado

A CMB lançou nesta quarta-feira (13) uma abaixo assinado para colher assinaturas em prol da campanha por mais verbas para o financiamento dos hospitais que atendem ao SUS. Acesse aqui.

 



VEJA TAMBÉM