Manejo multidimensional da dor crônica é destaque em evento do Hospital Moinhos
Profissionais de diferentes áreas trouxeram exemplos de abordagens ao tratamento da doençaA edição de julho do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento trouxe diferentes abordagens para um caso clínico de paciente com dor crônica. Com o tema Dor Crônica: Aspectos Multidimensionais do Tratamento, o evento contou com quatro palestras de profissionais que explanaram as diferentes maneiras de tratar a dor crônica, com o intuito de evidenciar a necessidade e os benefícios de um tratamento multidimensional.
Foram quatro debatedores: João Rizzo, anestesiologista com especialização em Dor e Cuidados Paliativos, Luís Josino Brasil, anestesiologista com especialização em Dor, Lorena Caleffi, psiquiatra com especialização em Dor e Medicina Paliativa, todos do Hospital Moinhos de Vento, e Adriana Coltro, fisioterapeuta do Projeto Educa Dor e Mestre em Ciência do Movimento Humano pela UFRGS.
O relato analisado foi de uma paciente de 70 anos, obesa e hipertensa, com histórico de quatro cirurgias na coluna – sofre com dores crônicas há pelo menos 15 anos. “Quando trabalhamos com dor crônica, trabalhamos diretamente com qualidade de vida, e essa abordagem multidimensional é fundamental para termos uma interrelação com as outras equipes médicas e equipes de saúde que trabalham no Moinhos”, explica Luciano Machado de Oliveira, anestesiologista com especialização em Dor e Cuidados Paliativos Oncológicos do Hospital Moinhos de Vento e moderador desta edição.
Abordagem medicamentosa
Na abordagem multidimensional, conforme explica o anestesiologista João Carlos Rizzo, a dor deve ser medida por mais de um parâmetro, e não só em uma escala numérica, como é costumeiramente feito. “A dor crônica é uma doença por si só, não é um sinal de alerta. É multidimensional e precisamos levar em consideração a autonomia do paciente, a volta à atividade laboral, ao lazer, à interpessoalidade”, destaca.
A hipersensibilização decorre do aumento da atividade da via nociceptiva – aumento da excitabilidade neuronal, aumento da eficácia sináptica e/ou redução da via inibitória nociceptiva. “Não existe dor crônica sem dor aguda. A dor aguda precisa ser tratada energicamente, antes que entre em um processo de cronificação”, reforça o especialista.
Para a abordagem medicamentosa adequada, indica-se que, na anamnese farmacológica, sejam mapeados todos os medicamentos ingeridos pela paciente, durante toda a cronologia da dor, para determinar quais apresentam uma resposta positiva, por menor que seja. “É preciso associar fármacos com diferentes mecanismos de ação – e pensar sempre em uso prolongado. Associar medicamentos com o mesmo mecanismo de ação, de forma fixa, é um erro brutal”, alerta Rizzo.
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Abordagem da medicina intervencionista da dor
Também anestesiologista com especialização em dor do Hospital Moinhos de Vento, Luís Josino Brasil trouxe um relato sobre a abordagem da medicina intervencionista da dor. “A dor é única para cada um. É aquilo que o paciente diz que tem, sempre que ele disser que tem. É uma experiência, não é uma modalidade sensorial. E existem dores específicas e inespecíficas – e essas dores inespecíficas são 90% das dores”, detalha.
Para tentar encontrar dores que nem sempre são facilmente identificadas pelo paciente, os especialistas da clínica de dor trabalham com o bloqueio diagnóstico. Com a aplicação de uma microdose de anestésico local na estrutura alvo, é possível buscar a origem da dor. “Se houver um alívio de 50% ou mais, é dali. Acertamos em 85% dos casos”, relata Brasil.
O médico apresentou a radiofrequência pulsada, metodologia minimamente invasiva recente, que deverá ser disponibilizada também pelo Moinhos. “A pulsada atua abaixo de um receptor magnético, que alivia a dor de forma resolutiva. A redução da intensidade da dor e do uso de medicamentos sugerem que os procedimentos devem ser indicados em qualquer momento da doença, inclusive oncológica, e não apenas como última alternativa”, afirma o médico.
Abordagem não farmacológica: a importância dos exercícios
Já na fisioterapia, de acordo com a Adriana Coltro, fisioterapeuta e mestre em Ciências do Movimento, são utilizados métodos não farmacológicos para o manejo da dor crônica. “Eletroterapias, terapias manuais e exercícios. E os exercícios têm mostrado maior eficácia no tratamento de pacientes com dores crônicas, embora sejam pacientes mais pessimistas, que têm medo de fazer qualquer coisa que piore a situação de dor”, pondera.
No entanto, o desuso do corpo leva a desfechos funcionais negativos. “Quanto menos hábil se torna, menos força o corpo tem, e a tendência do quadro é piorar. É preciso quebrar o ciclo vicioso para que haja alguma diferença”, explicou Adriana, que recorre a “contratos verbais” para explicar a importância dessas medidas aos pacientes.
Abordagem comportamental e psicoeducação
No que diz respeito ao pessimismo de quem sofre com dores crônicas, a psiquiatra Lorena Caleffi relata que, muitas vezes, os pacientes são bastante machucados nas relações médico-paciente.
“É importante termos uma medicina centrada no paciente. Sem isso, a pessoa pode se sentir desumanizada. Não podemos desvalorizar o que é um aspecto físico patológico. O conceito de dor é um conceito que já é indissociável, é uma experiência sensorial e emocional desagradável. Os pacientes precisam ser acolhidos”, enfatiza.
No caso clínico apresentado por Luciano, a paciente sofre de transtorno de ansiedade generalizada, cujas características são tensão muscular, preocupações e ansiedade excessivas, o que pode agravar um quadro de dor crônica.
“O tratamento da dor é físico, com exercícios, com procedimentos, com farmacológicos, é psíquico, por meio de psicoterapia, e educacional. Ou seja, é sempre multiprofissional”, destacou Lorena. Com isso em mente, um grupo de profissionais criou o projeto Educa Dor, que busca contribuir de forma ativa na melhora da qualidade de vida dos pacientes, para educar e informar sobre dor crônica.
O evento está disponível na íntegra no Canal do Youtube do Hospital Moinhos de Vento. Acesse neste link.