Gestão e Qualidade | 18 de dezembro de 2020

Hospital Santa Lucia de Cruz Alta desenvolve novo padrão de gerenciamento e melhora índices de segurança

Fernando Pedroso é o segundo entrevistado de série especial do Setor Saúde
Hospital Santa Lucia de Cruz Alta desenvolve novo padrão de gerenciamento e melhora índices de segurança

Não é novidade que a pandemia da Covid-19 trouxe desafios ao setor de saúde de todo o Brasil. Em Cruz Alta, o Hospital Regional Santa Lucia teve que mudar o foco em 2020: a instituição, que sempre trabalhou com parâmetros orçamentários e planejamento estratégico, passou a mirar com prioridade absoluta a segurança assistencial. O resultado foi positivo: o índice de colaboradores infectados ficou em menos da metade da média nacional (43 funcionários e 7 médicos). Além disso, o diretor-executivo, Fernando Pedroso, destaca como positivo o índice de pacientes com Covid-19 recuperados na instituição: de 158 pacientes internados, 144 se recuperaram.

Na segunda entrevista da série especial do Setor Saúde, que conta com a participação dos gestores dos principais hospitais do Rio Grande do Sul, Pedroso detalha a retomada de investimentos que prevê em 2021 para a instituição, além de revelar como a instituição se adaptou rapidamente às mudanças impostas pela pandemia. Confira:

Desafio: rápida adaptação dos hospitais à pandemia

Para Pedroso, a pandemia trouxe como desafios a necessidade de rápida adaptação do sistema hospitalar, com novos protocolos de segurança para os profissionais, além dos aprendizados diários impostos.

“Sem dúvida, o ano de 2020 mudou os paradigmas existentes em várias áreas, tanto pessoais, quanto profissionais. A área médica e o segmento hospitalar ganharam uma visibilidade que nunca tiveram, passando a ser o centro de difusão de todas as informações sobre a pandemia. O principal choque foi termos que de forma muito rápida readequarmos todo o funcionamento da instituição, e ter ao mesmo tempo o cuidado especial de medidas de proteção à saúde dos nossos colaboradores. Mas o mais importante foi a necessidade de aprendermos diariamente a como melhorar o tratamento dos pacientes, sendo que a troca de informações entre os médicos e entre os hospitais foi fundamental para que nossa curva de aprendizado evoluísse de forma rápida”, avalia.

Com foco em segurança assistencial, resultados de destaque

Em virtude da pandemia, a necessidade de adaptação de leitos e de proteção dos profissionais passou a ser fundamental. Por isso, o Hospital Santa Lucia mudou o seu foco e colocou como grande prioridade a segurança assistencial.


“Foi um ano de aprendizado. Sempre trabalhamos com parâmetros orçamentários e com planejamento estratégico. Essas duas referências da instituição foram perdidas em fevereiro com a chegada da pandemia e a partir daí tivemos que achar um novo padrão de gerenciamento para administrarmos o ano. A segurança assistencial foi o foco do gerenciamento e nesse ponto tivemos importantes índices de recuperação de pacientes Covid em UTI e na preservação da saúde dos colaboradores, onde nosso índice de colaboradores infectados ficou em menos da metade da média nacional. Avançamos também em novas formas de atendimento, através da telemedicina, com o Pronto Atendimento on-line 24 horas”, afirma.


Até o dia 14 de dezembro, o Santa Lucia registrava 158 internações por Covid-19, com 144 recuperados e 10 óbitos. E os números em relação aos profissionais de saúde referendam o destaque dado pelo diretor-executivo: 43 funcionários tiveram coronavírus – a instituição conta com 350 no total. No corpo clínico, com cerca de 120 profissionais, apenas 7 profissionais tiveram a confirmação de Covid-19.

Impacto financeiro em virtude das cirurgias eletivas canceladas

“O impacto financeiro foi maior no início da pandemia, em razão das restrições de cirurgias eletivas e da baixa procura pelos pacientes pelos consultórios médicos e hospitais, pelo medo do contágio”, diz.

Pedroso salienta que as medidas de proteção ao emprego ofertadas pelo governo federal foram muito importantes para atravessar esse momento, “tendo em vista que os hospitais enfrentaram um sobrepreço exorbitante em EPIs (equipamentos de proteção individual), materiais e em alguns medicamentos”.

Demanda reprimida e retomada de investimentos em 2021

O aumento de atendimentos em 2021, em virtude da demanda reprimida em boa parte de 2020, é um sinal de alerta para o executivo. “A partir de junho, iniciou um processo de aumento da ocupação, de pacientes com um perfil assistencial de maior complexidade, que predomina até hoje.  Temos que estar preparados para atender em 2021 uma demanda reprimida de atendimentos que não foram realizados esse ano”, avalia.


“O desafio prioritário para 2021 é continuarmos trabalhando como estamos no momento, mantendo um equilíbrio entre as questões econômicas e as questões assistenciais. O ano de 2021 será um ano de retomada dos investimentos em infraestrutura, que foram postergados esse ano. Para 2021 temos planejado a criação de um ambulatório de especialidades, um novo serviço de ultrassom, o aumento da oferta de serviços na área de cardiologia, além do reinício agora em dezembro do serviço de oxigenoterapia hiperbárica”, diz.

Além dos projetos de infraestrutura, Pedroso ressalta que o Santa Lucia tem também plano de expansão de vendas do seu cartão de acesso, o Cliente Saúde, que conta hoje com quase 11 mil vidas e possui centrais de atendimento em outros 4 municípios da região de Cruz Alta.


Hospital pós-pandemia

O Pronto Atendimento digital, o crescimento de trabalho via home office e a procura maior por diagnósticos, com maior atenção à saúde, serão as mudanças imediatas sentidas no “hospital pós-pandemia” na visão do diretor-executivo.


“Creio que várias barreiras foram quebradas com a pandemia, principalmente do ponto de vista tecnológico e isso já tem uma influência sobre os hospitais hoje. O Pronto Atendimento digital é uma delas, pois diminui o acesso físico do paciente, mas por outro lado aumenta a demanda pelos serviços médicos acessados de forma remota. Isso altera a dinâmica da emergência, por exemplo. O home office também proporciona hoje à empresa contratar uma pessoa de outra cidade, por exemplo, e isso amplia a capacidade de contratação de talentos para a instituição. Acredito que os meios diagnósticos terão uma participação mais relevante, dado o aumento da   preocupação das pessoas com a saúde a partir de agora. As pessoas viram o quão grave é fazer parte de grupos de risco e isso será um ponto de atenção no futuro”, destaca.


Série especial as ações do Hospital Regional Santa Lucia na epidemia da Covid-19

Novas tendências: verticalização, fusões/aquisições e parcerias estratégicas entre hospitais

“Esse movimento ganhou força nos últimos dois anos e começa a chegar na região Sul. As estratégias organizacionais que pressupõem uma atuação isolada são confrontadas por essa realidade das fusões e aquisições. São movimentos presentes e cada instituição deve avaliar o tema dentro de sua lógica de negócio”, avalia.

Telessaúde já é realidade na instituição

A telessaúde está presente nas discussões no setor de saúde há muitos anos. Porém, a pandemia fez com que o tema saísse apenas dos debates e fosse implementado na prática. E, de acordo com o diretor-executivo, a tendência já está sendo desenvolvida há tempo na instituição.


“Somos adeptos da telessaúde. O grupo Santa Lúcia tem participação em uma empresa de tecnologia, a Naxia Digital, que além de outras áreas também trabalha com telemedicina. Temos no hospital hoje, além da Pronto Atendimento on-line, também a interconsulta entre especialistas. A telemedicina veio para ficar, com discussões avançadas sobre o seu marco regulatório. Sabemos que há limitações e nem todos os atendimentos são indicados para o meio remoto. Por isso, o uso da telemedicina deve vir acompanhado de protocolos e principalmente do preparo do médico ou profissional de saúde que está atendendo, para direcionar o paciente da melhor forma”, salienta.


Santa Lucia possui comitê para implementação da LGPD desde 2019

“Sobre a LGPD, temos um comitê de implantação e acompanhamento que trabalha desde o início de 2019 sobre o tema, alterando processos e atuando principalmente nas questões de segurança do banco de dados”, diz.

Principal foco em 2021 para a saúde: atendimentos represados

Pedroso ressalta que, apesar dos resultados recentes do início da vacinação, as questões pertinentes à pandemia irão persistir, pois “ainda não tem uma previsão quando voltaremos à vida normal”. Os atendimentos represados, em virtude dos meses de pandemia em 2020, são a grande preocupação do executivo para 2021.


“A grande preocupação, e creio que deve ser o foco, é a quantidade de atendimentos que foram represados esse ano e que, infelizmente, poderão chegar aos hospitais agravados no próximo ano. Estatisticamente, existe uma quantidade enorme de diagnósticos que não foram realizados esse ano, o que pressupõe a existência de pessoas já doentes, mas sem saber disso e que quando chegam aos consultórios e hospitais já podem estar em um estágio avançado, que por consequência, demanda um tratamento mais longo e dispendioso. A preocupação é de como a rede pública vai lidar com esse excesso de demanda”, avalia.


Lições da pandemia

Adaptar para atuar em um cenário menos previsível, utilização de novos indicadores e reconhecimento do trabalho realizado pelos hospitais e seus profissionais. Estes foram alguns dos principais ensinamentos trazidos pelo ano atípico de 2020, segundo Pedroso:


“O grande aprendizado foi o de ter que se adequar rapidamente a um novo momento, sem a previsão de quando as coisas voltariam ao normal. Foi termos que aprender a planejar a semana, o mês, ao invés de seguir um planejamento feito em um cenário previsível. Os resultados passaram a serem analisados por novos indicadores e por novas variáveis que não eram utilizadas antes. Esse processo de aprendizado rápido foi a grande lição que a pandemia trouxe para as instituições e para as pessoas. Obrigatoriamente todos tivemos que mudar nossa forma de trabalho e de pensamento. Também o reconhecimento que os hospitais e, principalmente, as pessoas que trabalham nos hospitais tiveram, isto foi muito importante”, reflete.


Hospital Santa Lúcia é líder na implantação do Lean Healthcare no interior do RS

 “Saímos mais fortes”

Apesar dos grandes desafios impostos pela pandemia, Pedroso ressalta que o ano de 2020 fez com que as pessoas e instituições se fortalecessem. Ele também agradece aos profissionais do Santa Lucia.


“A mensagem que deixo é a de que saímos mais fortes esse ano, como pessoas e instituições. Fomos desafiados diuturnamente e conseguimos nos manter estáveis, cada pessoa e instituição ao seu modo. Em nome da diretoria do Hospital Regional Santa Lúcia, agradeço aos nossos colaboradores, médicos, parceiros, que se mantiveram firmes no propósito de servir, desejando um ano de 2021 com muita saúde para todos”, diz.


Hospital Santa Lucia de Cruz Alta desenvolve novo padrão de gerenciamento e melhora índices de segurança

Fernando Pedroso

Bacharel em Direito pela Unicruz – Universidade de Cruz Alta; Especialista em Gestão Financeira, Auditoria e Controladoria, Administração de Empresas, pela FGV – Fundação Getúlio Vargas; Especialista em Gestão Empresarial, Administração de Empresas, pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing; Especialista em Gestão Hospitalar, pela Fasaúde/IAHCS – Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde; Extensão em Administração e Marketing, pela The University of California (EUA). É diretor da FEHOSUL e presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde da Região Serrana (Sistema FEHOSUL). Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs).

 



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