Hospital de Caridade de Erechim vive nova realidade em meio à pandemia do coronavírus
Superintendente-geral, Claudiomiro Carus detalha série de mudanças ocorridas na instituição
A pandemia da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) fez com que diversas rotinas fossem alteradas em todo o mundo. Na área da saúde, uma das consequências visíveis foi a suspensão dos procedimentos eletivos – especialmente cirurgias, exames de diagnóstico e consultas – com impactos para para os pacientes, mas também para a sustentabilidade econômico-financeira das instituições. Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), o complexo cenário mira igualmente um outro aspecto que precisa ser considerado: a saúde da população não Covid-19.
O Portal Setor Saúde, em parceria com a FEHOSUL, lançou, na quarta-feira (27), uma série especial de entrevistas com gestores das instituições de saúde. Nas diferentes matérias, abordaremos as consequências deste novo cenário, que preocupa hospitais, médicos e pacientes. “É importante abordarmos a necessidade de não piorarmos os indicadores em outras doenças, não negligenciarmos as demais condições de saúde, que são maioria”, explica o presidente da FEHOSUL, médico Cláudio Allgayer, em entrevista para o Setor Saúde. O presidente da FEHOSUL, alerta também para a questão do caixa dos hospitais, atrelado ao problema da interrupção dos tratamentos feitos nos hospitais. “O que vem ocorrendo é que está se criando uma demanda reprimida. Os tratamentos interrompidos são os que mais nos preocupam. São pessoas que possuem doenças que precisam de uma acompanhamento mais próximo. Os hospitais e as operadoras de planos de saúde devem conversar para trabalharem juntos nesta retomada. O agravamento da saúde de um paciente poderá se tornar muito mais custoso para a operadora logo adiante. E gera muito mais sofrimento para os pacientes e seus familiares”, destaca Allgayer.
Confira, agora, a entrevista concedida pelo superintendente-geral do Hospital de Caridade de Erechim (HC), Claudiomiro Carus.
O perigo em retardar atendimento ou parar um tratamento
Ao parar um tratamento, o paciente crônico, pode ter uma aceleração da piora da sua condição de saúde. Da mesma forma, as complicações agravadas pelo retardamento em procurar atenção médica em casos urgentes e de emergência, têm gerado consequências para a saúde dos pacientes. O superintendente-geral relata que foi constatado, pela demora na procura de atendimento, um paciente com doença cardiovascular, que chegou ao Pronto Socorro do HC com insuficiência cardíaca descompensada e edema pulmonar, com risco de óbito, inclusive necessitando de ventilação mecânica.
Queda de 60% nos atendimentos no Pronto Socorro
A não ida ao hospital pode ser demonstrada pelos indicadores de diminuição de atendimentos. De acordo com Carus, o HC registrou uma redução de 60% na demanda por atendimentos no Pronto-Socorro, no primeiro quadrimestre de 2020 (janeiro a abril), em comparação com a média do ano de 2019.
“Este mesmo percentual se reflete nas consultas eletivas no Pronto Socorro (60%). Já os procedimentos cirúrgicos em geral, tiveram uma redução de 20% no primeiro quadrimestre de 2020 se comparado com a média de 2019”, explica.
Mesmo com liberação para cirurgias eletivas, não houve aumento significativo
O medo dos pacientes, aos poucos, vem diminuindo. Mas o executivo do hospital de Erechim, na região do Alto Uruguai gaúcho (norte do RS),aponta que a recuperação ainda segue bastante tímida. Esta situação, vem se repedindo em muitos hospitais do Brasil.
Com a liberação das cirurgias eletivas pelo Governo do RS, era esperado um aumento no número de procedimentos nos hospitais. Entretanto, o superintendente-geral afirma que a demanda pelos serviços no Pronto Socorro vem se mantendo mais baixa desde o início da pandemia.
“No centro cirúrgico tivemos um aumento de aproximadamente 10% no número de cirurgias agendadas”, detalha Carus.
Ações adotadas que garantem mais segurança no atendimento
Em março, o HC instituiu o seu Comitê Multidisciplinar de Enfrentamento à Covid-19, a partir do qual foram definidas uma série de ações, visando atender a demanda decorrente da pandemia, além de preservar a segurança para pacientes e profissionais que necessitam dos demais serviços do hospital.
Carus diz que desde março, está sendo adotado a alteração do fluxo de atendimento no Pronto Socorro. Cada paciente é questionado na porta de entrada se apresenta sintomas respiratórios. Caso a resposta seja afirmativa, recebe uma máscara adequada – se não tiver usando – e é direcionado a uma sala exclusiva, possibilitando uma separação de pacientes respiratórios dos demais.
Criação do Centro de Atendimento Covid separado das demais áreas
Para garantir a segurança dos pacientes, o atendimento foi dividido em duas alas: UTI Covid e Unidade Covid. Para tanto, dois setores – Unidade Oncológica (UIF) e Unidade Cirúrgica (UIB) -, foram realocados a fim de ceder leitos aos dois novos setores. A UTI Covid se destina a atendimentos de pacientes com quadro moderado a grave, já a Unidade Covid a pacientes não graves, estáveis clinicamente, mas que necessitam monitoramento e reavaliação constantes do quadro.
Outas ações para evitar contágio e aglomerações foram a suspensão dos horários de visitas em todo o hospital, sendo permitido somente um acompanhante; e ainda, a determinação de um horário permitido para visitas na UTI Adulto. Já na UTI Neonatal, foram suspensas as visitas dos avós e irmãos e também estipulados horários para os pais. O agendamento dos exames de laboratório e de imagem foi reorganizado visando evitar aglomerações.
Ações de comunicação com foco na comunidade
As áreas de comunicação e relacionamento com o mercado dos hospitais precisam criar novas estratégias para demonstrar aos pacientes que o ambiente hospitalar são locais altamente seguros, com rígidos protocolos de segurança. De acordo com Carus, o HC mantém canais diretos de comunicação com a população regional por meio de entrevistas – nas rádios, TV´s, jornais e sites de notícia, e envio de matérias alusivas ao tema coronavírus para a imprensa, com destaque para as ações que evidenciam o perigo em retardar atendimentos e a necessidade de os pacientes crônicos retomarem os tratamentos interrompidos.
“Igualmente, o Hospital de Caridade de Erechim utiliza suas redes sociais e site para informar e orientar a respeito dos principais temas relacionados à pandemia, com notícias e campanhas de marketing. Em nosso site, disponibilizamos, ainda, boletim diário com o número de casos da Covid-19 atendidos pelo Hospital. O trabalho é fruto de ação conjunta da equipe de profissionais da instituição”, destaca.
Série especial: leia as entrevistas já publicadas
Hospital Mãe de Deus estabelece novas rotinas para garantir atendimento seguro a todos os seus pacientes (27/05): Rafael Cremonese
Hospital de Caridade de Erechim vive nova realidade em meio à pandemia do coronavírus (28/05): Claudiomiro Carus
O perigo em não procurar o atendimento adequado no momento certo (Hospital Moinhos de Vento, 29/05): Luiz Antonio Nasi