Gestão e Qualidade | 12 de setembro de 2016

Fundos de investimento focados em aquisições no setor saúde

Brasil é o sexto maior mercado do mundo
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A partir de 2015 investidores estrangeiros ganharam autorização do governo federal para investir na aquisição ou fusão de hospitais, através da lei Lei Nº 13.097, sancionada em 19 de janeiro. Ficou permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle de empresas ou de capital estrangeiro na assistência à saúde, ou seja, hospital geral, hospital filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínicas especializadas e laboratórios. Sócio de auditoria na KPMG, Marcos Boscolo, disse ao jornal O GLOBO que o mercado da saúde suplementar tem espaço para ganho de escala com planos de saúde mais baratos.

Desvalorização do real em relação ao dólar, envelhecimento da população brasileira, demanda pela abertura de novos leitos, baixa concentração de mercado – no setor hospitalar – e a recente proposta defendida pelo ministro da saúde Ricardo Barros, de abrir o mercado para uma nova categoria de planos de saúde mais acessíveis, são argumentos que fortalecem a construção de um desenho de mercado mais favorável aos olhos do investidor estrangeiro. A “estabilização” política com o final do processo de impeachment, que resultou no afastamento definitivo da presidente Dilma Rouseff, e a confirmação do nome de Michel Temer, seria o sinal que faltava para que sondagens e estudos avançassem.

Os fundos estrangeiros querem ativos de grande porte

Segundo Daniel Coelho, diretor da consultoria Seferin e Coelho (em sociedade com Claudio Seferin, ex CEO do Sistema de Saúde Mãe de Deus), negócio atrativo para private equity só acima de US$ 100 milhões. Este modelo de negócio é feito no formato de compra de uma participação na empresa para venda após um período determinado, ou seja, o investidor irá obter lucro ao vender sua participação na empresa. Ele explica que só o custo da due dilligence (processo de investigação de uma oportunidade de negócio) é muito alto.

Há duas semanas, o grupo de saúde São Francisco, com sede em Ribeirão Preto, interior paulista, e faturamento de mais de R$ 1 bilhão, teve 30% de seu capital vendido ao fundo Gávea Investimentos (do ex-ministro Armínio Fraga). O São Francisco atua em Mato Grosso, Mato do Grosso do Sul e Goiás, com planos de saúde e de odontologia.

A lista de ativos que atrai o interesse dos investidores inclui:

Planos de saúde

Laboratórios de diagnóstico

Fabricantes de equipamentos

Indústria de medicamentos

Hospitais

Levantamento da consultoria espanhola Transactional Track Record (TTR), que acompanha fusões e aquisições no Brasil e na América Latina, mostra que os negócios no setor de saúde voltaram a crescer nos últimos dois anos no Brasil. Foram 37 transações na área em 2014, 76 em 2015, e só no primeiro semestre deste ano 41 negócios fechados. Desde 2014, as operações movimentaram quase R$ 18 bilhões, considerando as 45 que tiveram os valores divulgados. Mas, como foram fechadas 154 transações no período, o valor total é muito maior.

Alguns fundos consultados pela reportagem de O GLOBO, confirmam que estão garimpando empresas do setor de saúde. A americana Advent, uma das maiores gestoras de private equity e que detém o controle do Grupo BioToscana e 13% dos laboratórios Fleury (que opera no Rio Grande do Sul, após ter adquirido o Laboratório Weinmann)  diz que busca oportunidades.

O fundo britânico Actis tem R$ 2 bilhões para investir no Brasil e a saúde está no centro das prioridades. O mesmo ocorre com as gestoras americanas TPG Capital e Warburg Pincs.

“A saúde no Brasil é um setor que terá grande expansão no futuro em razão do envelhecimento da população, o que vai gerar mais necessidade de prestação médica, de produtos farmacêuticos e assistência médica” disse Juan Pablo Zucchini, responsável pela área de saúde na Advent.

Sexto maior mercado do mundo

A desvalorização do real diante do dólar, que barateou ativos para estrangeiros, é citada por analistas para justificar o interesse. Marcos Boscolo, destaca o tamanho do setor, que movimenta 9% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, o equivalente a R$ 216 bilhões. Isso torna o Brasil o sexto maior mercado do mundo. Atualmente, o Brasil já é o sétimo maior consumidor mundial de medicamentos e a previsão é que alcance a quinta colocação em 2020, segundo dados da IMS Health. Além disso, o setor de saúde cresce a uma taxa de cerca de 20% ao ano.

“Houve grandes negócios pontuais, especialmente na área de laboratórios, mas há muito espaço para consolidação, o que torna o setor muito atrativo” diz Marcos Boscolo, da KPMG.

“A população cresceu, a demanda por saúde também, e alguns hospitais fecharam. O Brasil tem déficit de leitos, e há estudos que apontam o colapso do sistema em 2030. Se houver investimento, há muitíssimo espaço para crescer”, justificou Daniel Coelho.

Entre públicos e privados, o Brasil tem cerca de 6 mil hospitais. A busca por negócios grandes acaba excluindo parte das redes de plano de saúde das miras dos fundos de private equity.

“É mais fácil os investidores entrarem nos hospitais do que nos planos. Já há cinco ou seis grandes redes nacionais consolidadas, no segmento dos hospitais isso não existe” diz Boscolo.

Rede D´Or São Luiz

No Brasil, apenas a Rede D’Or São Luiz, com 27 unidades em estados como Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Pernambuco anunciou a entrada de parceiros internacionais. Antes da abertura aos estrangeiros, o banco BTG tornou-se sócio do cardiologista Jorge Moll Filho, dono da Rede D’Or, comprando debêntures (títulos de dívida) conversíveis em ações, já que têm estrangeiros entre os investidores. O banco ficou com 27% da rede, avaliada em R$ 19 bilhões. No ano passado, quando caiu a barreira aos estrangeiros, o BTG vendeu 8,3% de sua fatia por R$1,7 bilhão para o fundo Carlyle. Logo em seguida, outros 15% foram vendidos ao fundo soberano de Cingapura, por R$ 3,2 bilhões.

Segundo Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), diversos fundos conversam com instituições. As 72 principais delas tiveram, em 2015, receita de R$ 22 bilhões, e mesmo em cenário de crise, devem girar R$ 25,6 bilhões este ano.

A perspectiva de melhora no campo político ajuda a atrair investidores. No ano passado, os custos dos hospitais aumentaram 12% segundo dados da Anahp, enquanto a receita cresceu abaixo da inflação. Isso deixou muitas instituições em situação financeira delicada, o que as torna potencial alvo de compra. A realidade no mercado hoje, salvo algumas exceções, é trabalhar cortando custos e reduzindo investimentos, para se manter no azul.

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* com informações O GLOBO. Edição portal Setor Saúde.

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