Gestão e Qualidade | 19 de maio de 2015

Investimento estrangeiro irá transformar o mercado de saúde nacional

Especialistas afirmam que empresas precisam se preparar para se manterem no mercado
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No primeiro dia da Feira Hospitalar 2015, dia 19, em São Paulo, a abertura ao investimento estrangeiro em serviços de saúde, possível desde janeiro deste ano, foi tema da atividade Investimentos Estrangeiros nos Mercados de Saúde, evento reservado a convidados, que antecedeu a abertura oficial da Feira Hospitalar. O Portal de Notícias da Fehosul, SETOR SAÚDE, participou da atividade.

A alteração de lei trouxe a expectativa de novas fusões e aquisições na área, como a que ocorreu recentemente com a Rede D’Or, com sede no Rio de Janeiro, que teve parte de suas ações compradas pelo fundo Carlyle (ver aqui).

A presidente e fundadora da feira Hospitalar, Dra. Waleska Santos e Gilmara Pereira Espino, diretora da empresa GPeS e publisher da revista Melhores Práticas em Saúde, Qualidade e Acreditação, fizeram a abertura da atividade. Os assuntos foram discutidos por especialistas da consultoria internacional McKinsey, Rede D’Or, Anahp, BTG Pactual, Crescente Consultoria e do escritório de advocacia Nunes & Sawaya.

O presidente do Conselho da Rede D’Or São Luiz, médico Jorge Moll e o presidente do Conselho de Administração da Anahp, Francisco Balestrin, participaram ao final da atividade, juntamente com os palestrantes, de uma rodada de perguntas.

Os especialistas foram unânimes em salientar que o mercado da saúde já recebe uma atenção especial de players internacionais interessados, e que hospitais, clínicas e outros estabelecimentos devem se preparar para um cenário que terá fusões, aquisições e parcerias que acirrarão fortemente o nível de concorrência.

O advogado especializado em saúde, Renato Nunes, destacou que a abertura não veio acompanhada de algum tipo de restrição especifica para o setor saúde, ou seja, as aquisições e fusões não possuem grandes barreiras jurídicas como em outros setores. O advogado esclareceu que basta haver uma negociação entre as partes e atentar aos trâmites comuns de compra e venda de negócios, não sendo necessária nenhuma autorização prévia do governo. Segundo o especialista a lei simplifica o processo e abre novos caminhos para o mercado buscar investimento.

Em relação aos hospitais filantrópicos – também passíveis de aquisição por parte do capital estrangeiro – alguns questionamentos têm surgido. As entidades que se enquadram neste perfil têm buscado encontrar uma maior clareza sobre as possibilidades advindas da abertura promovida pela nova lei. “Não vemos impedimento que ela participe de outras sociedades” disse Renato Nunes, ressaltando que nada impede que o filantrópico possa destacar uma nova unidade de negócio, por exemplo, com o parceiro estrangeiro, em uma nova estrutura de negócio.

Rodrigo Pavan, business profile da BTG Pactual, apresentou detalhes dos mercados americano e brasileiro. Os gastos de saúde nos EUA representaram no ano de 2013, mais de 17% do PIB, enquanto que o Brasil apresentava 7,9%. Outro dado que também marca os dois mercados é a grande diferença existente entre a média, por estabelecimento, do número de leitos encontrados nos hospitais americanos e nos daqui, respectivamente 161 e 56. Em ambos os mercados, a participação privada nos gastos é maior do que a pública, 65,5% nos EUA e 53,2% no Brasil. Os principais protagonistas no mercado americano, segundo o especialista da BTG Pactual, são as seguintes redes hospitalares e sistemas de saúde:  HCA – Hospital Corporation of America, UHS – Universal Health Services, CHA -Colorado Hospital Association, Tenet, HealthSouth, LifePoint e LHC Group, pela ordem, em valor de mercado.

Pavan salientou, também, que o modelo de pagamento fee-for-value avança nos EUA, em detrimento do fee-for-service, chegando a 30% na forma de pagamento que premia a eficiência. “Os prestadores de serviços participam cada vez mais do risco de tratamento. Além disto, os grandes operadores de hospitais estão investindo pesado como estratégia de buscar a consolidação e hegemonia entre fontes pagadoras”, falou.

As aquisições e fusões, defende o especialista, é “o nome do jogo”. Somente em 2013, o mercado de hospitais no Brasil teve o maior número de transações, desde 1998. “Transações envolvendo players ambulatoriais tem sido o grande highlights e foco, como day clinic, centros médicos e serviços multiprofissionais”. Pavan destaca ainda as inovações que podem ser disseminadas com os novos investimentos  estrangeiros, desde aplicativos, automação e telemedicina, além de nova cultura de gestão.

A sócia-diretora da consultoria McKinsey, Tracy Francis, apresentou as seis principais perguntas-chave que os investidores usualmente fazem para avaliar um mercado ou um negócio em prospecção:

As perspectivas macroeconômicas do mercado são favoráveis?

Quão fortes são as alavancas de crescimento do mercado?

Quais são os principais riscos do negócio?

Existem alvos atrativos disponíveis? 

Existe boa governança estabelecida no alvo?

Para investidores estratégicos, como este investimento contribui para o meu negócio atual?

Segundo Tracy Francis dentre as alavancas de crescimento do setor de hospitais no Brasil, alguns dos destaques que chamam a atenção são a demanda elevada e crescente, além do potencial de alta rentabilidade. O Brasil possui o terceiro maior mercado privado de saúde, um cenário com grande aumento no número de idosos e um déficit de 13,7 mil leitos (até 2016). “As empresas devem se posicionar neste novo mercado para se tornarem alvo atrativo, oferecendo escala para crescimento, time de líderes capacitados e manter sólida governança estabelecida. Para se preparar para competição é necessário reforçar áreas de especialidade, aperfeiçoar operação com foco em custo, fidelizar corpo clínico e demais talentos, além de buscar novos parceiros para fortalecer a atuação”, sugeriu.

O diretor de novos negócios da Rede D’Or São Luiz, Carlos Costa, falou sobre o processo de valuation, apresentando sinteticamente formas de se calcular o valor das empresas. Segundo Costa, a racionalidade deve ser levada em conta quando se avalia um negócio. Mesmo que o hospital, por exemplo, tenha terrenos ou imóveis, “uma empresa vale o que ela gera de resultado econômico. O valor de uma empresa é expresso pelo resultado presente e futuro, devendo ser levado em conta certas premissas e cenários”. Desse modo, os resultados de hoje e as projeções de ganhos a partir de elementos micro e macroeconômicos são fundamentais para a situação de análise por parte do investidor .

O executivo da Rede D’Or São Luiz listou no segmento de prestadores, os tipos de negócios que “teoricamente” apresentam maior ou menor risco. Os hospitais apresentariam menor risco, porém com maior necessidade de investimento. As empresas de medicina diagnóstica teriam risco e investimento moderados, enquanto as clínicas apresentariam um menor risco e capital envolvido, conforme análise apresentada por Costa.

O adviser em Mergers and Acquisitions (M&A) – fusões e aquisições – da empresa Crescente Consultoria, Marcelo Pinheiro Soares demonstrou o passo a passo de um típico processo de M&A. Dentre as etapas, estão o desenho do processo, desenvolvimento de pacote de informações, start do processo, diligência e propostas, negociação, e assinatura/fechamento do negócio. O especialista ressaltou elementos envolvidos, como as motivações para uma venda, relacionamento dos sócios na hora de uma negociação e diferenças entre Sociedade Anônimas e Sociedade Limitada que impactam no resultado para quem está vendendo.

No final os convidados puderam fazer perguntas aos convidados. Jorge Moll (presidente da Rede D’Or São Luiz) e Francisco Balestrin (presidente da Anahp) se juntaram aos palestrantes e alertaram aos presentes, composto por executivos da área, que inúmeras oportunidades de mercado com a abertura ao capital das empresas estrangeiras estão surgindo.

“Quem pretende permanecer no mercado tem que se preparar, agora mais do que nunca, é um mercado novo” sentenciou Jorge Moll. Ao ser perguntado sobre como os associados da Anahp tem recebido a chegada da lei, Francisco Balestrin lembrou-se do inicio da Associação, dizendo que ela sempre teve uma visão que defende a boa governança e a sustentabilidade financeira, o que inegavelmente favorecerá os membros da entidade a se adaptarem aos novos desafios de mercado.

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Rodrigo Pavan, da BTG Pactual

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O advogado Renato Nunes, destacou que a abertura não veio acompanhada de algum tipo de restrição especifica

Tracy Francis, da consultoria McKinsey

Tracy Francis, da consultoria McKinsey

Diretor de novos negócios da Rede D’Or São Luiz, Carlos Costa

Diretor de novos negócios da Rede D’Or São Luiz, Carlos Costa

Marcelo Pinheiro Soares, da empresa Crescente Consultoria

Marcelo Pinheiro Soares, da empresa Crescente Consultoria

Executivos do setor saúde convidados para o evento

Executivos do setor saúde convidados para o evento

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Mesa de palestrantes

Francisco Balestrin, da Anahp

Francisco Balestrin, da Anahp

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Jorge Moll, presidene da Rede D’or ao de lado Tracy Francis, da consultoria McKinsey

 

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