Associação de clínicas de diálise alerta para dificuldades para realizar o tratamento de 4 mil pacientes no RS
Pacientes precisam realizar o tratamento que filtra o sangue e retira líquidos em excesso do organismo, no mínimo, três vezes por semana para sobreviverem.A Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT) está mobilizando esforços junto às autoridades governamentais e ao deputado federal Pedro Westphalen (PP-RS), que preside a Frente Parlamentar Mista dos Serviços de Saúde, para que haja prioridade aos serviços de hemodiálise no Rio Grande do Sul. Hoje, a ABCDT enviou hoje um ofício ao Ministério da Saúde solicitando o adiantamento do pagamento mensal que é feito às clínicas de diálise e também uma fatura extra para cobrir os gastos excedentes que surgiram.
Há cerca de 4 mil pacientes renais crônicos na região atingida e eles precisam realizar o tratamento que filtra o sangue e retira líquidos em excesso do organismo, no mínimo, três vezes por semana para sobreviverem, pois seus rins não funcionam mais.
Desde o início das fortes chuvas, 46 das 54 clínicas de hemodiálise localizadas nas 29 cidades afetadas pelas enchentes estão enfrentando sérias dificuldades operacionais. Por conta da inacessibilidade devido às intempéries, houve impacto direto no fornecimento dos insumos essenciais para os tratamentos de diálise. Indústrias do setor, em articulação com a Defesa Civil, Bombeiros e Forças Armadas, e empresários da região, conseguiram entregar os insumos nas unidades que já estavam com estoques no fim, ao longo dos últimos dias, mais ainda há unidades com dificuldades para recebimento.
“Nessa madrugada, por exemplo, funcionários de uma das empresas fornecedora conseguiram fazer toda a movimentação de carga, retirando insumos de um depósito da transportadora e levando para outro, para fazer a separação. Mas durante a madrugada, o nível do rio subiu e alagou parte do depósito. Eles não conseguiram concluir toda a triagem. Seguiram trabalhando com gerador, porque ficaram sem energia, mas não sabem quando efetivamente vão conseguir levar os insumos para a base aérea de Canoas para abastecer 5 unidades que aguardam pelos insumos. São Jeronimo e Pelotas, por exemplo, estão ilhadas. O caminho terrestre de Porto Alegre a Canoas também tem levado mais de 4 horas para se percorrer. Até aqui, por meio aéreo, os insumos estavam sendo levados para as cidades menores, mas a enchente de Porto Alegre traz um novo cenário de dificuldades. Falta energia e água em umas das indústrias do setor de diálise que fica em Porto Alegre. A todo momento, estão chegando relatos de novas dificuldades”, afirma o vice-presidente da ABCDT, Leonardo Barberes.
Desde o início das chuvas, várias dificuldades também vêm sendo enfrentadas por vários pacientes que precisaram ser deslocados até suas clínicas por helicóptero. Muitos estão abrigados temporariamente em outras cidades para que recebam o tratamento. Muitas clínicas estão oferecendo alimentação e medicamentos aos pacientes que não podem voltar para casa.
De acordo com a médica Nara leal, na Clinefron, em Lajeado, uma clínica de hemodiálise que recebe pacientes de 25 cidades do Estado e atende a 156 pacientes, cerca de 20 de seus pacientes dependeram de helicóptero para chegar na clínica. “As clínicas estão providenciando material de higiene e alimentação para eles. Cinco pacientes nossos que vinham de outras cidades conseguiram dialisar em outra cidade. Então, há clínicas recebendo pacientes extras de outras cidades e precisando de mais insumos. Nossa dificuldade é porque os insumos da diálise são fornecidos aos poucos, ninguém tem grande estoque”, diz.
“Aqui hoje infelizmente chovendo bastante e as previsões são pessimistas! A nossa unidade, Centro de Referência em Nefrologia do Hospital São Francisco de Paula, fica na zona sul do estado, em Pelotas, atendemos hoje em programa de hemodiálise 145 pacientes, 08 pacientes em diálise peritoneal e 35 em pós transplante. Precisamos receber os insumos. Abrimos um quarto turno para 25 pacientes de um serviço de diálise de mais de 300 km de distância! Estamos dialisando acima da nossa capacidade instalada e com a mesma mão de obra que voluntariamente estão fazendo mais horas de trabalho! Estamos finalizando o quarto turno as 02 horas da manhã com a mesma equipe que voluntariamente está trabalhando!”, relatou o médico Franklin Barcellos.
O médico João Carlos Bienart fala da falta de água em Porto Alegre. “Hoje usamos água de carro pipa para fazer 3 turnos de diálise e temos água até amanhã. Cerca de 95% da cidade está sem água potável e paradoxalmente sendo invadida ainda por água do Guaíba, pois diversas bombas que jogavam água de volta ao rio-lago estão inoperantes por inundação, problemas elétricos”. Jaberson Severo, médico na Vita Rim, de Porto Alegre, complementa. “Falta tudo aqui. Água, internet, telefone, combustível. Trabalhei para garantir o dia de hoje, mas não sei como será amanhã”.
A ABCDT está realizando uma campanha de solidariedade às clínicas de diálise. Doações podem ser enviadas ao pix: abcdt@abcdt.org.br.