Mundo | 14 de setembro de 2016

Após fortes críticas nos EUA, indústria farmacêutica cria campanha publicitária

Setor pretende demonstrar que alto preço dos novos medicamentos são justificáveis
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Um grupo de grandes farmacêuticas está lançando nos EUA uma campanha publicitária para defender o setor, cujas empresas têm sido criticadas por suas práticas de preços. “Estamos sob pressão e escrutínio como nunca antes”, argumentou Jim Greenwood, diretor executivo da Biotechnology Innovation Organization (BIO).

Como destaca o portal Bloomberg, “a campanha chamada Innovation Saves (Inovação Salva), diz que novas drogas podem salvar tanto vidas quanto as finanças dos sistemas de saúde”. A BIO está gastando cerca de US$ 1 milhão a US$ 5 milhões com anúncios, de acordo com Greenwood. A entidade está tentando reformular as percepções ruins após um ano de debates envolvendo as operadoras de planos de saúde, as próprias empresas farmacêuticas e prestadores de serviços de saúde sobre os motivos pelos quais os novos medicamentos são demasiadamente caros.

Nas últimas duas semanas, a Mylan NV (empresa especializada em genéricos) foi repreendida por membros do Congresso norte-americano por aumentar repetidamente o preço do medicamento para alergia EpiPen. Desde que a Mylan adquiriu os direitos da EpiPen, em 2007, o preço da droga,  indicada para o tratamento de emergência de reações alérgicas agudas (anafilaxia), para a auto-administração pelo doente, aumentou de US$ 56,64 para US$ 317,82 nos EUA, o equivalente a um aumento de 461%, segundo o jornal The Guardian.

Em 2 de setembro, a candidata presidencial Hillary Clinton lançou um conjunto de propostas para combater a aumentos ‘injustificados’ nos preços dos tratamentos orientados para os idosos, lembra o Bloomberg.

Sentimentalismo e “cheque em branco”

Os anúncios publicitários do grupo de biotecnologia são focados em um estilo sentimental e dispõem de pacientes que foram ajudados por novas drogas.

“O que Bill Remak descobriu sobre avanços na tecnologia inibidora viral foi o que salvou ele da necessidade de um terceiro transplante de fígado”, diz um anúncio, referindo-se a um caso que ficou conhecido nos EUA, do diretor executivo da National Association of Hepatitis Task Forces que se beneficiou dos novos tratamentos da hepatite C desenvolvidas pela Gilead Sciences Inc., Abbvie Inc. e outros que têm sido criticados como dispendiosos. “Queremos focar o ponto em que essas drogas, sejam caras ou não, salvam vidas”, disse Greenwood.

Críticos dizem que a BIO está pedindo um “cheque em branco” para as suas práticas de preços. “Esta campanha é sobre defender o indefensável: aumentos de preços astronômicos, truques de preços de drogas e enormes aumentos de custos”, apontou Clare Krusing, porta-voz da America’s Health Insurance Plans (associação nacional que representa o setor de saúde suplementar, com mais de 1.300 empresas representadas). “A maneira que a indústria farmacêutica pode mostrar a verdadeira inovação é adotando soluções que façam tratamentos e curas acessíveis a todos os pacientes”, acrescenta o comunicado.

Pressão do Congresso

As farmacêuticas têm estado cada vez mais sob pressão, depois de executivos da Valeant Pharmaceuticals International Inc. e o ex-CEO Martin Shkreli, da Turing Pharmaceuticals, terem sido convocados para depor perante o Congresso dos EUA em fevereiro, após aumentarem drasticamente os preços.

Greenwood, por sua vez, procurou distanciar a BIO das farmacêuticas acusadas. “Quando vimos o que a Turing fez, nós retiramos imediatamente o convite para a sua adesão à BIO”, disse. “Nós olhamos para a Valeant e dizemos que a compra de empresas e a degradação das pesquisas e desenvolvimentos não é o que somos. A Mylan é uma empresa genérica, que não é membro da BIO”, defende-se.

A Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (grupo comercial que representa empresas da indústria farmacêutica no EUA) também intensificou sua defesa da indústria com a iniciativa “Custos em Contexto” (Costs in Context), que inclui blogs, infográficos e vídeos dizendo que o “valor aprofundado” que trouxe aos pacientes novos medicamentos, está sendo negligenciado por causa de alguns maus players. A PhRMA gastou mais de US$ 18 milhões em lobby em 2015, o primeiro aumento dos gastos desde 2009. A BIO já havia feito campanha sob o tema “O Tempo é Precioso” e o impulso publicitário de agora é a segunda fase desse esforço.

Campanha da Pfizer e menor investimento

Pfizer Inc., maior farmacêutica dos EUA, também começou a executar um projeto publicitário, chamado “Antes de se tornar Medicina” (Before It Became a Medicine), que acompanha o processo de desenvolvimento de medicamentos, buscando mostrar por que o financiamento é necessário para criar novas drogas.

Jim Greenwood, da BIO, teme que os legisladores imponham controles de preços “que vão levar o investimento para longe de empresas de biotecnologia e a nossa incrível capacidade para buscar tratar Alzheimer, diabetes e centenas de doenças será destruída”.

A BIO criou um website para a campanha publicitária que destaca dados que fornecem suporte aos seus argumentos. A cobertura da prescrição de drogas do sistema público norte-americano (Medicare) “resultou em economias em hospitalização de cerca de US$ 1,5 bilhão por ano”, diz. O site não menciona, porém, que as economias representam apenas 2,2% dos US$ 67,7 bilhões gastos pelo Medicare.

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