Estatísticas e Análises, Mundo | 30 de julho de 2015

Afinal, adoçantes artificiais são mais ou menos prejudiciais do que açúcar normal?

Médico desmitifica os riscos da sacarina e do aspartame
Afinal, adoçantes artificiais são mais ou menos prejudiciais do que açúcar normal?

A discussão sobre qual forma de adocicar uma bebida, com adoçantes artificiais ou açúcar, é o tema de um artigo de opinião publicado no jornal The New York Times, assinado pelo professor da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, Dr. Aaron E. Carroll. Segundo o especialista, ao invés de se confiar em mitos, pode-se acrescentar a este debate, o resultado que pesquisas – ás vezes pouco divulgadas -, apresentam.

Evidências apontam para o fato de que parece haver uma correlação entre o consumo de açúcar e problemas de saúde. Porém, o mesmo não ocorre com os adoçantes artificiais como sacarina e aspartame. Sobre os produtos artificiais, Dr. Carroll ressalta que “por décadas, o adoçante foi atacado como uma substância química nociva. Mas tudo é uma ‘química’ e nem tudo é ruim para nós. Um dos mais antigos adoçantes artificiais é a sacarina”. Ele lembra que, na década de 1980, o governo norte-americano determinou que o produto fosse vendido com o aviso: “O uso deste produto pode ser perigoso para sua saúde. Este produto contém sacarina, a qual foi determinada como causa de câncer em animais de laboratório”.

Uma revisão feita pela revista Annals of Oncology, em 2004, identificou que mais de 50 estudos haviam sido publicados, sobre o uso de sacarina em ratos. Vinte deles eram estudos de “uma geração”, o que significa que eles não analisavam a prole dos ratos. Em apenas uma pesquisa foi constatada uma grande quantidade de câncer gerada por sacarina, e em um tipo de rato que é frequentemente infectado com um parasita da bexiga – o que poderia deixar o animal suscetível à sacarina induzida. O artigo afirma que estudos de “duas gerações”, em que os ratos e seus descendentes foram alimentados com muita sacarina, foi descoberto que o câncer de bexiga foi significativamente mais comum em ratos de segunda geração.

O problema, no entanto, é que o mesmo não foi confirmado entre seres humanos. Além disso, verifica-se que alguns ratos são apenas mais propensos a ter câncer de bexiga. Alimentá-los com grandes quantidades de vitamina C também ocasiona câncer. “Com base nesses estudos mais recentes, a sacarina foi removida da lista de cancerígenos em 2000. Mas à essa altura, a opinião popular já estava definida”, considera o autor.

Outros adoçantes artificiais não têm se saído melhor. Estudos iniciais com aspartame mostraram que não causava câncer em animais, sendo assim considerado mais seguro do que a sacarina. Mas em 1996, um estudo publicado no The Journal of Experimental Neuropathology and Experimental Neurology, intitulado “Aumento da Taxa de tumores Cerebrais: Há uma ligação de Aspartame?”, questionava o produto.

“A maioria das pessoas ignorara a interrogação. Em vez disso, eles observaram que o texto dizia que: o câncer cerebral tornou-se mais comum entre 1975 e 1992; e que mais pessoas tinham começado a consumir aspartame recentemente”, avaliou o Dr. Carroll, que aponta para um problema nessa lógica. “A maior parte do aumento de câncer estava em pessoas de 70 anos ou mais velhos, que não eram os principais consumidores de aspartame. E como o aspartame foi aprovado em 1981, culpá-lo pelo aumento dos tumores ocorridos na década de 1970 parece impossível”, contestou.

Um estudo controlado em 1998 não detectou nenhum problema neuropsicológico, neurofisiológico ou qualquer efeito comportamental causado pelo aspartame. Mesmo uma dose 10 vezes superior ao consumo normal não teve efeito sobre crianças com transtorno de déficit de atenção. “Uma revisão de segurança, feita em 2007, descobriu que o aspartame tinha sido estudado extensivamente e que evidências mostram que é um produto seguro”.

Dr. Aaron Carroll salienta que “pessoas com fenilcetonúria (doença rara e congênita, na qual a pessoa nasce sem a capacidade de quebrar adequadamente moléculas de um aminoácido chamado fenilalanina), precisam limitar o consumo de aspartame, já que a fenilalanina é um dos seus componentes. Mas para a maioria das pessoas, não é uma preocupação”, declarou.

Já a agência Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC – Centers for Disease Control and Prevention) dos EUA relata que as crianças consomem, em média, entre 282 calorias (meninas) e 362 calorias (meninos) de açúcares por dia. Isto significa que mais de 15% da ingestão calórica dietética é de açúcares. Entre adultos, o consumo não é distribuído igualmente, pois em torno de 50% das pessoas não consomem bebidas açucaradas, como refrigerantes, nunca; 25% consomem cerca de 200 calorias por dia; e 5% consumem mais de 560 calorias por dia, o equivalente a mais de quatro latas de refrigerante por dia. “Nesse contexto, estamos falando de açúcares adicionados, não os açúcares que ocorrem naturalmente com hidratos de carbono, encontrados em frutas. Estes não são, na sua maior parte, o problema. Os açúcares adicionados são”.

Estudos epidemiológicos descobriram que, mesmo após o controle de outros fatores, a ingestão de adoçante de uma população está associada com o desenvolvimento de diabetes tipo 2 (aumento de 1,1% para cada lata de refrigerante com açúcar consumido em média, por dia).

Uma publicação do JAMA Internal Medicine, focado em uma população acima dos 14 anos, indicou que aqueles que bebiam altas doses de refrigerante tinham mais do que o dobro do risco de morrer de doença cardiovascular, mesmo depois de controlar outros fatores de risco. “O estudo observou que o aumento do risco de morte começa quando uma pessoa consome o equivalente a 570 gramas de refrigerante, em uma dieta de 2.000 calorias, e chega a aumentar quatro vezes mais se as pessoas consumiram mais de um terço da sua dieta em adoçantes”.

Aaron Carroll encerra o artigo com o exemplo pessoal. “Minha esposa e eu limitamos o consumo de refrigerante dos nossos filhos a quatro ou cinco vezes por semana. Quando deixamos, é quase sempre um refrigerante sem cafeína e sem açúcar”.

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