Gestão e Qualidade, Tecnologia e Inovação | 20 de outubro de 2020

The Economist aponta Brasil como destaque em medicina de precisão na América Latina

Especialistas destacam o papel do Brasil para o desenvolvimento de soluções mais assertivas na medicina
The Economist aponta Brasil como destaque em medicina de precisão na América Latina

Os resultados do relatório da The Economist Intelligence Unit (divisão de pesquisa e análise do Economist Group, responsável pela revista The Economist), sobre a atuação dos países da América Latina em relação à medicina personalizada, foram apresentados pela farmacêutica Roche Farma Brasil durante o Roche Press Day 2020, realizado na sexta-feira (16). O head de Medicina Personalizada da Roche Farma Brasil, Marcelo Oliveira, e a presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Dra. Clarissa Mathias, que é coautora na construção do estudo, apresentaram o relatório e analisaram o caminho que o Brasil está tomando em relação ao tema.

O relatório aponta o Brasil como um dos cinco países da América Latina “prontos para decidir” rumo a uma abordagem integral para avançar na chamada medicina personalizada. Patrocinado pela Roche Foundation Medicine, o levantamento mostra que, ao lado de Argentina, Colômbia, Costa Rica e Uruguai, o país tem um amadurecimento considerável em quatro áreas determinantes para a consolidação de políticas públicas que contemplem a personalização: governança; conscientização e atitudes; infraestrutura; e administração financeira.

O relatório aponta:

Países prontos para decidir: Argentina, Colômbia, Costa Rica, Colômbia e Uruguai

Reforçando as bases: Chile e México

Iniciando a jornada: Equador e Peru

Medicina_Personalizada

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Do “one-size fits all” para os cuidados personalizados

A transição de poucas soluções aplicadas para muitas pessoas (“one-size fits all”) para os cuidados personalizados está apenas começando, mesmo nos países mais adiantados da América Latina, mas já existem avanços importantes que pressagiam a magnitude da mudança que é possível. De acordo com a análise do The Economist, iniciativas pontuais sobre elementos dessa estrutura são comuns nos países, muitas delas relevantes para promover o atendimento personalizado, que pode ser resumido como o diagnóstico e o tratamento adequados para o paciente certo no momento oportuno.

Mundialmente, o maior progresso da medicina personalizada até agora está na oncologia e no campo das doenças raras. É consenso entre os especialistas ouvidos para o relatório é que hoje é possível oferecer um cuidado mais assertivo ao personalizar o atendimento do paciente conforme as características moleculares.

Visão holística

No entanto, o The Economist indica que uma visão holística ainda é necessária. Por exemplo, enquanto os rígidos processos regulatórios do Brasil têm evoluído em agilidade nos últimos anos, um dos grandes desafios para as autoridades será lidar, cada vez mais, com novos tipos de evidências, tais como aquelas provenientes de estudos clínicos do tipo “basket” ou adaptativos, além do uso de novas fontes de dados, como evidência de mundo real.

Os conjuntos de dados genômicos, coletados em registros de pacientes, exemplifica o The Economist, fornecem evidências que não apenas apoiam a aprovação de novos medicamentos, mas também restringem as aprovações existentes àqueles pacientes que certamente serão beneficiados, o que é importante para controlar o custo total dos tratamentos e evitar efeitos colaterais de drogas desnecessárias naquele contexto. No Brasil, em particular, são necessários avanços em registros eletrônicos, compilação de dados e acesso aos exames de perfil molecular de pacientes já diagnosticados.

Setor privado e público

Segundo o levantamento do The Economist, os especialistas apontam que o uso de biomarcadores para determinar as opções de terapia é uma prática mais comum no setor privado, mas esta não é a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS), embora alguns centros públicos de referência tenham seus próprios orçamentos para testes e equipamentos especializados.

Por outro lado, o Brasil é a principal referência na América Latina em avaliação de tecnologias em saúde (ATS), que é considerada uma ferramenta essencial para a capacidade dos sistemas de saúde de selecionar racionalmente quais intervenções personalizadas é possível oferecer para toda a população de forma sustentada. O The Economist ressalta que a incorporação de novas tecnologias no país em média triplicou durante os cinco anos seguintes à criação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias em Saúde do Brasil (Conitec), em comparação com os cinco anos anteriores.

The Economist aponta Brasil como destaque em medicina de precisão na América Latina_

Financiamento e melhores desfechos

O relatório do The Economist externa, ainda, que o financiamento continuará sendo um desafio até que a medicina personalizada seja considerada um investimento e não um custo. Contudo, o documento pondera que os sistemas de saúde não podem adiar indefinidamente a medicina personalizada, seja pela demanda crescente dos próprios pacientes ou pelo aumento exponencial dos custos coletivos de abordagens pouco assertivas que negligenciam o uso de tecnologias mais avançadas e seus melhores desfechos.

Brasil está pronto para decidir

“O Brasil está pronto para decidir. Temos utilizado a medicina personalizada dentro da saúde suplementar de forma bastante consciente e responsável e isso tem feito uma diferença muito grande para os pacientes”, disse Mathias.

Mathias destaca que o país precisa ter um compromisso de cooperação com os demais países. “O Brasil tem uma responsabilidade muito grande, na América Latina, de ajudar os países que estão iniciando a jornada de medicina personalizada”, destacou.

O head de Medicina Personalizada da Roche Farma Brasil, Marcelo Oliveira, avaliou que “o Brasil está bem desenvolvido. A medicina personalizada ainda está começando em todo o mundo”. De acordo com ele, há experiências positivas de medicina personalizada no país principalmente na saúde suplementar, e em algumas iniciativas vindas do Governo. Ele enfatizou a importância do lançamento do programa Genomas Brasil, que permitirá sequenciar o genoma de mais de 100 mil pacientes. Para ele, a iniciativa permite que seja vislumbrado um cenário otimista para a medicina de precisão no Brasil. O Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão, batizado de Genomas Brasil, foi lançado oficialmente no dia 14, em Brasília. Ele é inspirado no projeto 100.000 Genomas do Reino Unido, iniciado no ano de 2012. O principal objetivo do programa é a criação de um banco de dados nacional, com o sequenciamento de genes de portadores de doenças raras, cardíacas, câncer e infectocontagiosas, como a covid-19. De acordo com o Ministério da Saúde, a escolha das doenças levou em conta a quantidade de casos no país e o alto custo que geram ao SUS.

“É importante que tanto a iniciativa privada quanto o governo possam desenvolver soluções focadas em saúde de precisão e genômica. Este programa [Genomas Brsasil] é resultado de um programa anterior e evoluiu para um programa mais amplo que visa sequenciar o genoma de mais de 100 mil pacientes, entre doenças como câncer, doenças cardiológicas, doenças raras e infectocontagiosas como até mesmo a Covid-19. Quando estamos diante de uma iniciativa como essa, eu tenho uma visão bastante otimista de que a gente pode desenvolver soluções. O ministro da Saúde disse que a genômica pode ser uma das prioridades para os próximos anos. Quando se escuta isso, não tem como não ter uma visão otimista para o Brasil”, salientou.

Pesquisa clínica e sustentabilidade

A presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica apontou que muitos médicos do setor privado já estão preparados para a medicina de precisão, e que as pesquisas clínicas poderão ser a chave para reduzir as diferenças e aproximar os setores público e privado para atuarem na medicina personalizada.


“Uma das maneiras de reduzir o abismo que existe entre o sistema público e privado é através da pesquisa clínica. É importante saber que, com a pandemia, várias pesquisas foram fechadas, deixaram de vir ao Brasil, e isso nos preocupa bastante. Porque, economicamente, não tem como oferecer medicina personalizada para todo mundo, com drogas-alvo”, ressaltou Mathias, apontando para a necessidade de maiores investimentos.

Oliveira, salientou que a sustentabilidade é um fator fundamental para a implementação da medicina personalizada. “Acreditamos muito que a medicina personalizada é a forma de conseguirmos atingir, com os tratamentos certos, os pacientes certos e no momento certo, mas que principalmente isso possa ser feito em um ambiente em que os recursos possam ser gerenciados de forma sustentável”.


Importância do diagnóstico precoce e vacinações

Mathias ressaltou que as ações de saúde preventiva ao câncer precisam focar em diagnósticos precoces e campanhas de vacinação. “Quero pedir, em nome da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, de forma encarecida, que vinculem a campanha da vacinação. Precisamos desmistificar aos pais que não será acelerada o início da vida sexual por causa da vacinação, mas vai sim prevenir o câncer de colo de útero e câncer de pênis. Em relação ao câncer de cólon, observamos uma queda significativa de mortalidade por conta do rastreamento, realizado através da colonoscopia. Sobre o câncer de pulmão, vários estudos estão mostrando que podemos ter uma redução de aproximadamente 20% na mortalidade se realizarmos o rastreamento com tomografia de baixa dosagem, anualmente”, destacou.

Dados de Vida Real

O head da Roche Farma Brasil apontou que Dados de Vida Real – estudos que coletam informações dos pacientes em geral e desta forma avaliam o impacto de novas tecnologias em saúde – são um ponto fundamental que precisa ser levado em conta para que a medicina de precisão possa ser uma realidade consistente no país, sendo levado em conta os custos e a sustentabilidade a partir do investimento nesses dados.


Acesse o relatório completo: Medicina personalizada na América Latina: Universalizando a promessa de inovação


 



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