Gestão e Qualidade | 12 de junho de 2018

Terapia psicológica online sem restrições

Atendimento não presencial estava limitado, anteriormente, pelo Conselho de Psicologia
Terapia psicológica online sem restrições

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) autorizou a prática de terapia online sem restrições. Desde 2012, orientações online já eram permitidas pelo CFP, mas a modalidade estava limitada a um atendimento máximo de 20 sessões e com um objetivo específico (superar o término de um relacionamento, por exemplo). A nova norma, permitindo o atendimento não presencial, entra em vigor em novembro.

Com a resolução 11/2018 do CFP, está totalmente liberada a terapia online, da mesma forma como ocorre o atendimento presencial. Portanto, não há mais limite nos atendimentos e o paciente, e seu terapeuta, pode falar sobre diversas questões e assuntos.

“Nós estamos regulamentando uma coisa que já acontece na prática”, diz Rosane Granzotto, conselheira do CFP. Segundo o conselho, mais de 700 sites já buscaram se cadastrar para as orientações online no modelo atual. Para verificar se o endereço está devidamente cadastrado no conselho, é possível checar em http://cadastrosite.cfp.org.br/cadastro/.

Com a nova resolução, esses sites, aplicativos e plataformas que oferecem o serviço terão que se readequar. Antes era necessário cadastrar o site do serviço e esperar pela aprovação do CFP. Agora, os psicólogos que fazem atendimento online terão que, individualmente, fazer um cadastro nacional para então serem autorizados a realizar terapia virtual. Segundo Granzotto, o objetivo da nova resolução é ampliar o acesso da população a serviços de saúde mental.

Entenda as novas regras

  • * O atendimento online será ilimitado, não tendo mais o limite atual de 20 sessões
  • * É necessário que o psicólogo se cadastre em seu conselho regional e aguardar autorização.
  • * Cadastro deve ser atualizado anualmente.
  • * Considera-se indevido o atendimento online de pessoas em situações de urgência, como em crises
  • * Não é permitido o atendimento online em situação de emergências, desastres e situações de violência e abuso
  • * Os sites atualmente autorizados a fazer orientações online podem ser conferidos em http://cadastrosite.cfp.org.br/cadastro/

Profissionais avaliam as mudanças

O modo de vida da sociedade atual, com pessoas em constantes mudanças de cidades ou de país e demais questões de logística são alguns dos motivos que explicam porque há tantas procuras por atendimento online.

“Na minha experiência como clínico, frequentemente atendo pacientes online, principalmente pela quantidade de pacientes que começam a ter uma vida nômade”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor da USP.  Para pacientes que estão internados ou em certos quadros de ansiedade em que ir à rua é uma aventura, a estratégia é muito boa, diz ele.

Wagner Gattaz, diretor do IPq (Instituto de Psiquiatria) e do Laboratório de Neurociências do Hospital das Clínicas da USP,fez há alguns anos um estudo comparando atendimentos online e presencial de pessoas com depressão (em estado estável). Depois de 12 meses de estudo, os resultados clínicos eram semelhantes, mas os pacientes abandonaram mais o acompanhamento presencial. “Estudos em outros países também mostram uma equivalência entre os dois métodos”, diz Gattaz, que afirma que essa é uma tendência irreversível.

Por outro lado, Dunker teme que alguns elementos se percam com atendimentos desenvolvidos inteiramente online. “Quando você está em uma sessão presencial, tem a sensação que aquele espaço simbólico, físico, é um abrigo, um parêntese, uma pausa”, diz. “Quando você está diante de um computador, que é um instrumento que você usa para fazer milhares de outras coisas, essa sensação de abrigo se perde ou diminui um pouco”, ressalta.

“Para a terapia online ser considerada similar à presencial, os terapeutas precisam adequar a esse novo formato”, diz Cláudia Catão, psicanalista que oferece cursos de terapia online. Segundo ela, não é incomum ver psicólogos atendendo em locais inadequados. Muitas vezes, os próprios pacientes também aparecem —virtualmente— para consultas de forma imprópria, sem camisa ou deitados na cama, por exemplo.

Mesmo com a nova resolução, o atendimento online não deve substituir o presencial, diz Granzotto – segundo ela, a forma mais completa e recomendada de acompanhamento.

 

Com informações da Folha de SP. Edição do Setor Saúde.

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