Gestão e Qualidade | 28 de dezembro de 2020

Rede Divina Providência aposta em trabalho em rede e expansão de leitos para enfrentar pandemia

Diretor-geral de Operações, José Clóvis Soares, avalia que a pandemia impôs necessidade de novos modelos de remuneração
Rede Divina Providência aposta em trabalho em rede e expansão de leitos para enfrentar pandemia

A pandemia da Covid-19 impôs o desafio do século para a saúde em todo o mundo no ano de 2020. Expansão de leitos, readequação dos acessos aos hospitais, aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e insumos – que foram disputados e que tiveram preços elevados -, impuseram um desafio histórico. Em Porto Alegre, a construção em tempo recorde de um Centro de Tratamento de Combate ao novo coronavírus, construído de forma anexa ao Hospital Independência, da Rede de Saúde Divina Providência, foi um dos grandes acontecimentos da saúde do Rio Grande do Sul.

O diretor-geral de Operações da Rede Divina, José Clóvis Soares, décimo entrevistado da série especial do Setor Saúde, que conta com a participação de executivos de hospitais e operadoras de planos de saúde do RS, enfatiza a construção e a contribuição dos novos leitos ofertados para o combate à Covid-19 em Porto Alegre.

Ele também analisa a importância do trabalho em rede para encarar os desafios de elevação de despesas e redução das receitas impostos pela pandemia. Com a nova dinâmica nas ocupações de leitos da Emergência e UTIs, o diretor-geral ressalta a importância da construção de um novo modelo de remuneração.

Hospital exclusivo para Covid-19 construído em tempo recorde

“Cito como uma conquista importante a ampliação de leitos do Hospital Independência, com a construção do anexo com capacidade de 60 leitos, para atendimento de pacientes com Covid-19”, destaca.

Hospital Independencia

O novo Centro de Tratamento de Combate ao novo coronavírus (Covid-19), foi construído de forma anexa ao Hospital Independência, pelas empresas Gerdau, Ipiranga, Hospital Moinhos de Vento e o Grupo Zaffari, em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre. A obra foi entregue no dia 28 de maio e foi construída em apenas 30 dias, em tempo recorde na história da construção hospitalar no Brasil. O módulo foi inaugurado no dia 15 de junho.

O hospital contou com um investimento total de R$ 10,4 milhões, sendo que a maior parte realizada por Gerdau e Ipiranga, com R$ 4,2 milhões cada, enquanto o Grupo Zaffari aportou R$ 2 milhões. A Rede de Saúde Divina Providência, por meio do Hospital Independência, ficou responsável pela gestão da unidade de 60 leitos.

O anexo atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após a pandemia, a unidade de saúde seguirá integrando a rede pública de saúde do município, tornando-se um legado para a capital e sua população.

Novo Hospital SUS construído em apenas 30 dias inicia operação em Porto Alegre

Os leitos foram estruturados a partir da técnica de construção modular, criada pela construtech Brasil ao Cubo, que permite entregar obras em caráter definitivo e com velocidade quatro vezes maior que uma construção comum. Essa técnica consiste no encaixe de módulos individuais, produzidos em fábrica e, então, montados no local, como peças de um jogo. A construção modular é uma técnica considerada revolucionária, pois aumenta a eficiência, rapidez, flexibilidade e sustentabilidade das edificações.

Até o dia 23 de dezembro, o módulo anexo registrava 776 internações confirmadas por Covid-19, com 592 altas, 96 transferências para UTI, 26 foram transferidos para outras unidades com necessidade de suporte de subespecialidades, e 38 vieram a óbito.

Conforme a administração da Rede Divina, após a pandemia, os 60 leitos serão de traumato-ortopedia repassados ao Hospital Independência. Atualmente, na instituição, são 90 leitos de internação e 10 de UTI. A especialidade tem alta demanda em Porto Alegre.

Dificuldade para aquisição de equipamentos e trabalho em rede em período de dificuldade

Ao analisar os impactos da pandemia, Soares afirma que as consequências se refletiram na redução das receitas e elevação das despesas. “Ocorreu elevação dos custos com materiais, medicamentos e, principalmente, com equipamentos de proteção individual (EPIs). Também ocorreu aumento do absenteísmo e da rotatividade e na elevação dos preços e dificuldade para aquisição de equipamentos”, afirma.

“O trabalho em rede foi muito importante para o enfrentamento da pandemia, certamente as dificuldades seriam muito maiores trabalhando isoladamente. Para garantir a segurança e proteção de profissionais e pacientes, organizamos nossos hospitais estruturando o caminho do paciente com Covid-19 com unidades específicas para atender os pacientes infectados”, explica.

“Muitos são os benefícios do trabalho em rede. A otimização das estruturas, de recursos humanos e de tecnologia, o compartilhamento de serviços de apoio e de estoques, o poder de barganha na compra e na venda, o suporte assistencial e a potencialização dos conhecimentos”, complementa.

Planejamento para 2021 prevê readequação financeira e expansão de leitos de UTI

Se por um lado o diretor-geral destaca as dificuldades impostas pela pandemia, por outro enaltece que a Rede de Saúde Divina Providência consolidou, em 2020, o trabalho em rede, com modelo de gestão aliado à capacidade de se adequar aos reflexos da pandemia, o que foi fundamental para diminuição dos impactos nas receitas.


“Prevendo um cenário de escassez nos recursos para área de saúde para o próximo ano, trabalhamos no desenvolvimento de projetos e planos com as adequações e ajustes necessários para o equilíbrio econômico e financeiro da Rede”, destaca.


Soares analisa que a pandemia expôs o sistema de saúde à falta de leitos de UTI nos hospitais em geral para atender a demanda de pacientes graves. Por isso, projeta ampliar a oferta de leitos de UTI em todas as unidades em 2021.

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Novas dinâmicas evidenciam necessidade de novo modelo de remuneração

“A pandemia também ressaltou o peso dos custos fixos no orçamento do hospital, principalmente nos Serviços de Emergência e nas Unidade de Tratamento Intensivo, os quais são remunerados pela utilização e não pela disponibilidade, o que torna necessária a construção de um novo modelo de remuneração para estes serviços, que leve em conta a disponibilidade”, analisa.

Novo perfil de paciente e transformação digital

Na visão do diretor-geral, daqui para a frente o setor de saúde terá pacientes cada vez mais conscientes e exigentes, que estarão mais atentos aos cuidados dispendidos a sua saúde. “É o que remete à mudança da remuneração do hospital pelo resultado assistencial, ou seja, pela melhora da sua condição de saúde”, salienta.

Ele também cita a importância do fortalecimento dos controles dos processos assistenciais para a melhor qualidade e segurança dos serviços prestados.

“A pandemia também evidenciou a necessidade de que os hospitais acelerem a transformação digital e evoluam no sistema de gestão de forma a possibilitar as informações em tempo real para melhor tomada de decisão”, afirma.

Lições da pandemia

“A pandemia e todas as suas implicações no ambiente hospitalar é o momento mais desafiador na história de nossos hospitais. O sucesso das ações implementadas pelos nossos hospitais no enfrentamento dos impactos e reflexos da pandemia, se deve principalmente da capacidade, coragem, dedicação, comprometimento, competência, solidariedade, conhecimento, amor ao próximo de todos os nossos profissionais. Cito a frase do padre Eduardo Michellis: ‘O trabalho conjunto gera uma força indestrutível’. Muito obrigado a todos, tenho muito orgulho de fazer parte da Rede de Saúde Divina Providência”, finaliza.

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Rede de Saúde Divina Providência

Fundada em 6 de janeiro 1956, a Rede de Saúde Divina Providência congrega cinco hospitais, além de inúmeros programas e projetos de assistência social em saúde. A Rede, com mais de 2.400 funcionários e 2.500 médicos credenciados, realiza, ao ano, em torno de 21.000 cirurgias, 160.000 atendimentos ambulatoriais e 99.000 exames.

Os cinco hospitais que fazem parte da Rede são: Hospital Divina Providência, Hospital Independência, Hospital Santa Isabel (de Progresso) Hospital São José (Arroio do Meio), e Hospital Estrela (de Estrela).

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 José Clóvis Soares

Especializado em Administração Hospitalar pela Faculdade São Camilo, de São Paulo, é bacharel em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (RS), cursou a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Passo Fundo (RS). É diretor-geral de Operações da Rede Divina Providência desse 2016. Passou pela Sociedade Beneficência e Caridade de Lajeado – Hospital Bruno Born, Beneficência Camiliana do Sul – Hospital Estrela e Hospital de Caridade de Carazinho.



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