Gestão e Qualidade | 7 de julho de 2016

Pacientes estão mais vulneráveis a erro em consultórios odontológicos do que em hospitais 

Acreditação pode ajudar a diminuir eventos adversos
Pacientes estao mais vulneraveis a erro em consultorios odontologicos do que em hospitais 

Quando entramos em um consultório odontológico para fazermos qualquer tipo de procedimento, seja simples como uma limpeza ou mais complexo como uma cirurgia, muitas vezes não sabemos a quais riscos estamos expostos. De acordo com a odontologista Isabela Castro, os pacientes estão mais vulneráveis ao erro dentro de um consultório odontológico.

“Hospitais, apesar de possuírem cenário com grandes nuances que podem levar ao erro, já ingressaram no universo da segurança do paciente bem antes da odontologia e, por isso, tiveram a oportunidade de se organizar e estruturar barreiras e ferramentas para redução de risco”, aponta. “Estamos muito atrasados no tema da segurança do paciente para a Odontologia, e esse assunto é de extrema relevância para a sociedade e para as boas práticas na saúde.”

Isabela explica que dentro de uma instituição odontológica podem acontecer os mais variados eventos, dos mais simples, até eventos mais graves, com dano ao paciente, ou mesmo ao próprio profissional e à sua equipe. “Não é raro acontecer eventos como a extração de dente errado, complicações na anestesia local, acidentes com eventos de engasgos ou broncoaspiração, seja da água usada pelo motor de alta rotação, o temido motorzinho, ou ainda por saliva, materiais manipulados durante procedimento ou ainda de dentes e coroas protéticas. A natureza do evento, porém, não está apenas relacionada aos procedimentos, ela tem relação com a especialidade principal a que o cirurgião dentista se dedica”, explica.

Castro ressalta que o cirurgião deve estar alinhado também às necessidades dos grupos mais vulneráveis, tais como pacientes idosos ou com necessidades especiais. Nesses grupos, a atenção deverá ser redobrada. “É preciso ter um conhecimento altamente ampliado para indicação segura de qualquer tipo de terapia nesses grupos. Já vi casos de o paciente chegar ao CTI porque engoliu peças de implante ou prótese durante um procedimento odontológico”, relata.

Outras situações mais complexas também podem acontecer, mesmo a médio prazo. Se o dentista não valorizar o questionário de saúde do paciente e todas as suas informações prévias, os danos podem ser graves. “Uma complicação que pode ocorrer é a osteonecrose dos maxilares, uma ferida altamente dolorosa e de tratamento longo e difícil, que pode ser induzida por extração de um dente de paciente que faz uso de bifosfonato ou que recebeu tratamento para o câncer previamente”, exemplifica.

Além desses, Isabela cita vários outros erros que, com simples medidas, poderiam ser facilmente evitados. “Já entrei em consultório em que os instrumentos cirúrgicos eram ‘esterilizados’ com água fervente”, conta. Ela cita ainda outros que são igualmente preocupantes, como:

– Erros de diagnóstico e terapêutica, que faz o paciente perder o tempo de cura;

– Erro no planejamento e técnica na extração do dente que pode ocasionar a entrada do dente no seio maxilar;

– Uso indiscriminado de antibióticos;

– Falta de conhecimento nos protocolos e indicações de prescrição frente a Endocardite infecciosa. 

Isabela explica que a melhor forma de ampliar a segurança do paciente e da própria equipe em ambiente odontológico é por meio da revisão de todos os seus processos de trabalho. “A criação de modelos padrão, checklists e instrumentos confiáveis servem de barreira contra o erro e também geram dados, que poderão ser avaliados para construir ciclos de melhoria contínua”, garante.

Saiba mais

Uma maneira de clínicas odontológicas aprimorarem a segurança do paciente é por meio da acreditação, a certificação concedida a instituições de saúde que seguem padrões de qualidade e segurança.

A Organização Nacional da Acreditação (ONA) é a maior certificadora de qualidade em saúde do país, com mais de 500 instituições certificadas. Desde 2012, a ONA possui um manual de avaliação voltado especificamente para serviços odontológicos. Entre os itens avaliados estão a capacitação profissional, condições operacionais e de infraestrutura, diretrizes de prevenção e controle de infecções, entre outros. Atualmente, apenas duas clínicas alcançaram os padrões exigidos para acreditação ONA: os Centros de Especialidade Odontológica em Cascavel e Limoeiro do Norte, ambos no Ceará.

O processo de acreditação é voluntário, ou seja, é feito por escolha da organização de saúde. As informações coletadas em cada organização durante o processo de acreditação são confidenciais e ajudam as instituições na melhoria contínua da assistência.

Sobre a ONA

A Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos que certifica a qualidade de serviços de saúde, com foco na segurança do paciente. Sua metodologia de acreditação é reconhecida pela ISQua (International Society for Quality in Health Care), associação parceira da OMS e que conta com representantes de instituições acadêmicas e organizações de saúde de mais de 100 países.

Com 17 anos de atuação e mais de 500 instituições certificadas, a ONA se consolidou como a principal acreditação de saúde do país.

Seus manuais são específicos para nove diferentes tipos de estabelecimentos: hospitais, ambulatórios, laboratórios, serviços de pronto atendimento, home care, clínicas odontológicas, clínicas de hemoterapia, serviços de terapia renal substitutiva e serviços de diagnóstico por imagem, radioterapia e medicina nuclear.

A ONA também certifica serviços de apoio a instituições de saúde, como lavanderia, dietoterapia, esterilização e manipulação.

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