Hospital Conceição aponta queda de atendimentos de AVC e infarto durante a pandemia
Série especial destaca os perigos em não buscar atendimento na hora certaA pandemia da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) fez com que diversas rotinas fossem alteradas em todo o mundo. Na área da saúde, uma das consequências foi a suspensão das cirurgias eletivas e de consultas, com impactos para o caixa dos hospitais, mas também, para a saúde dos pacientes. O medo dos pacientes em irem ao hospital em casos graves e urgentes é outra preocupação geral no setor da saúde, já que vem impactando a qualidade de vida dos pacientes (sequelas e complicações) e aumentando o número de mortes evitáveis. Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), há um outro lado que precisa ser olhado: a saúde da população (pacientes) não Covid-19.
O Portal Setor Saúde, em parceria com a FEHOSUL, destaca na 11º entrevista da sua série especial com gestores das instituições de saúde, as consequências deste novo cenário, que preocupa hospitais, médicos e pacientes. “Apresentamos as medidas adotadas para garantir a segurança no ambiente de cada hospital, e estamos divulgando as ações que os mesmos vêm trabalhando para se aproximar ainda mais de seus pacientes, através de ações de engajamento e comunicação com a comunidade. E alertamos para que os pacientes, oncológicos e de cuidados contínuos, não interrompam o seu tratamento”, detalha Cláudio Allgayer, presidente da FEHOSUL.
Confira o relato, de Rafael Ribeiro (foto), gerente de Internação do Hospital Nossa Senhora da Conceição, do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), de Porto Alegre.
Diminuição em atendimentos
Em vários hospitais do mundo, foi registrado uma queda importante nos atendimentos de emergência, causada pelo medo das pessoas se dirigirem aos hospitais. Esta situação pode ocasionar uma diminuição nas chances de recuperação dos pacientes.
No Hospital Conceição a taxa de ocupação na Unidade de Acidentes Vasculares (U-AVC) era de 95% em janeiro e caiu para 71% em abril. Já na de infarto agudo do miocárdio (Unidade de Cuidados Especiais Coronarianos/UCE), a ocupação, que era de 75% em janeiro, passou para 46% em abril.
“Esse fenômeno pode ser evidenciado em nossa instituição na ocupação da unidade que atende os pacientes com acidente vascular cerebral (U-AVC) e da que atende os pacientes com infarto agudo do miocárdio (UCE). Observamos uma redução importante da ocupação nos primeiros meses deste ano associado à ascensão da pandemia do coronavírus”, diz Rafael Ribeiro.
As pessoas precisam estar atentas aos sintomas do AVC, como fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental; alteração da fala ou compreensão; alteração na visão (em um ou ambos os olhos); alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar; dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente. Se o paciente for atendido rapidamente após o início dos sintomas, há menor risco de sequelas e melhora na qualidade de vida. No caso de infarto, que apresenta sintomas como sensação de aperto ou dor no peito; no pescoço; nas costas ou nos braços; fadiga; tontura; batimento cardíaco anormal e ansiedade, a rapidez para receber cuidados também é extremamente importante para evitar sequelas ou diminuir os riscos de morte.
Em relação aos ingressos na emergência (clínica + cirúrgica), consultas ambulatoriais e cirurgias eletivas, Rafael disse que houve “uma redução no período de fevereiro-abril de 2020, comparado ao mesmo período do ano anterior, de 29,1% nos ingressos da emergência clínica/cirúrgica, 32,7% das consultas ambulatoriais e de 17,9% das cirurgias eletivas. ”
A interrupção de tratamentos impacta negativamente os pacientes em médio e longo prazo. Segundo a Confederação Nacional de Saúde (CNSáude) – da qual a FEHOSUL é filiada -, áreas como Cardiologia, Oncologia, Nefrologia (hemodiálises), Obstetrícia (Pré-Natal), entre outras, estão no foco da preocupação, assim como os cuidados Pós-Operatórios. Os tratamentos contínuos, de forma geral, nunca devem ser paralisados sem orientação médica.
Após a liberação das cirurgias eletivas, pelo Governo do RS, ocorrida na última semana de abril, o hospital vem retomando aos poucos à volta aos atendimentos. Segundo o gerente de Internação do Hospital Nossa Senhora da Conceição, foi criado junto com à Secretaria de Saúde de Porto Alegre, um plano para retomada, que consiste em quatro etapas.
“ Conforme a pactuação realizada recentemente junto à Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, o GHC elaborou um plano de retorno às atividades de assistência habituais em etapas programadas (total de 4 etapas) conforme o cenário externo: atualmente nos encontramos na “Etapa 1”, na qual estão priorizadas as consultas de oncologia-hematologia, de obstetrícia, de oxigenoterapia domiciliar, e das linhas de cuidado de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC). A partir do dia 20 de maio, quarta-feira, entramos na “Etapa 2”, com o retorno das consultas das especialidades Neurologia, Saúde Mental, Urologia, Oftalmologia, Reumatologia e Infectologia. O avanço às demais etapas será reavaliado conforme o cenário de pandemia. ”
Ações que garantem a segurança para o paciente
Para garantir a segurança dos pacientes Rafael destaca ações como “isolamento dos casos suspeitos, reforço na orientação do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), uso de precauções padrão, treinamentos obrigatórios presenciais contínuos pelo Controle de Infecção Hospitalar junto às equipes, fluxos internos de movimentação de pacientes bem definidos, restrição de acesso ao hospital, triagem na entrada hospital [queixas respiratórias e medição da temperatura].”
Informação e ações de atenção primária
Para desmistificar o medo das pessoas irem ao hospital para realizarem seus tratamentos, principalmente os doentes crônicos, o hospital vem atuando para orientar os pacientes e a comunidade através de um programa de rádio, que busca garantir acesso à informação para usuários. Além disso, a iniciativa busca manter o vínculo deles com os profissionais da saúde, a Unidade de Saúde Básica Costa e Silva.
“A atração funciona na própria unidade e começou a ser gravada no início de março em uma frequência semanal. A iniciativa surgiu do Projeto de Estágio de Gerenciamento é uma tentativa de organizar as informações sobre a Covid-19. O programa de rádio começou por causa do coronavírus e tem como intenção aproximar mais as pessoas, ser um contato e um ponto de apoio dentro da pandemia. ”
Segundo a Rafael, a iniciativa é comandada pelos Residentes de Medicina de Família e Comunidade, Mayara Floss e Carlos Augusto Vieira, e pela Residente de Psicologia da Saúde da Família, Flora Barbosa.
Série especial: leia as entrevistas já publicadas
Hospital Mãe de Deus estabelece novas rotinas para garantir atendimento seguro a todos os seus pacientes (27/05): Rafael Cremonese
Hospital de Caridade de Erechim vive nova realidade em meio à pandemia do coronavírus (28/05): Claudiomiro Carus
O perigo em não procurar o atendimento adequado no momento certo (Hospital Moinhos de Vento, 29/05): Luiz Antonio Nasi