Descoberta enzima que anula os efeitos nocivos do açúcar em excesso
G3PP inibe consequências do consumo exagerado de doces e pode ser solução para novos tratamentos contra diabetes e obesidadeCientistas da Universidade de Montreal (foto), no Canadá, descobriram, uma potencial arma contra as consequências nocivas do excesso do consumo de doces. A equipe encontrou uma enzima que pode ser a solução para o tema que pode gerar problemas de saúde metabólicos como o diabetes tipo 2, a obesidade e a síndrome metabólica.
A glicerol-3-fosfato-fosfatasa (G3PP) é uma enzima envolvida no metabolismo de energia dentro da célula, que tem a glicose como um dos combustíveis. Ela tem capacidade de controlar a quebra da glicose nas células beta do pâncreas. Assim, também influencia na produção da insulina, hormônio que coloca o açúcar para dentro das células.
Os pesquisadores da Universidade de Montreal identificaram na G3PP a capacidade de reduzir os efeitos tóxicos do excesso de açúcar no organismo, fazendo com que o corpo absorva apenas uma quantidade benéfica de glicose.
A descoberta pode abrir caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos para obesidade e diabetes tipo 2.
Segundo os autores da pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a G3PP está presente em todos os tecidos do corpo de mamíferos e pode ter um efeito de desintoxicação no organismo, eliminando o excedente de glicose. Apesar de ser um dos principais agentes que participam da quebra das moléculas de açúcar dentro das células, esse processo gera um subproduto — glicerol-3 fosfato — que, em excesso, é tóxico ao organismo: prejudica vários tecidos e danifica as células-beta do pâncreas, que são as produtoras de insulina, hormônio que regula o nível de glicose no corpo.
O que chamou a atenção dos cientistas canadenses foi que essa característica única da enzima G3PP de transformar o glicerol-3 fosfato em glicerol simples e retirá-lo da célula, impede que atinja os órgãos. Marc Prentki, um dos autores do estudo, destacou que “quando a glicose está anormalmente elevada no corpo, o glicerol-3 fosfato derivado da glicose atinge níveis excessivos dentro das células. Este metabolismo exagerado pode danificar vários tecidos. Constatamos que a G3PP é capaz de repartir uma grande parcela deste excesso de glicerol-3 fosfato e desviá-lo para fora da célula, protegendo, assim, as células-beta produtoras de insulina e vários órgãos dos efeitos tóxicos gerados pelo alto nível de glicose”, disse, conforme reportagem do jornal O Globo.
A pesquisa afirma que o corpo não produz, naturalmente, uma quantidade suficiente de G3PP para inibir os efeitos do excesso de glicose que levam ao diabetes. Assim, a equipe quer agora descobrir quais são “as pequenas moléculas ativadoras de G3PP”, para entender o que impulsiona essa enzima a entrar em ação. No futuro, com mais pesquisas, deverão ser desenvolvidas drogas para tratar distúrbios metabólicos, obesidade e diabetes tipo 2.
Na avaliação de Olga Amancio, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, “é um resultado muito interessante, e será ótimo se realmente servir para diabéticos. Mas ainda temos muitas perguntas a serem respondidas: será que esta enzima só funciona até certo ponto e é por isso que a gente engorda? Será que algumas pessoas, dependendo da herança genética, podem tirar mais proveito dessa enzima? São dúvidas que somente novos estudos esclarecerão”.
A pesquisa abre horizontes em relação à compreensão do metabolismo. “Desde a década de 1960, é muito raro encontrar uma nova enzima no coração do sistema metabólico em todos os tecidos de mamíferos, e é provável que esta enzima passe a fazer parte dos manuais de bioquímica”, resume Marc Prentki.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo diário de açúcar de, no máximo, 10% das calorias ingeridas diariamente, em uma dieta saudável – cerca de 50g –. Neste cálculo, não estão inclusos o açúcar natural de frutas, verduras, legumes e leite fresco. O consumo desses alimentos in natura é, na realidade, estimulado para toda a população, em todas as faixas etárias. A restrição a 10% fala do açúcar de produtos industrializados.