Mundo | 13 de janeiro de 2016

Descoberta enzima que anula os efeitos nocivos do açúcar em excesso

G3PP inibe consequências do consumo exagerado de doces e pode ser solução para novos tratamentos contra diabetes e obesidade
Descoberta enzima que anula os efeitos nocivos do açúcar em excesso

Cientistas da Universidade de Montreal (foto), no Canadá, descobriram, uma potencial arma contra as consequências nocivas do excesso do consumo de doces. A equipe encontrou uma enzima que pode ser a solução para o tema que pode gerar problemas de saúde metabólicos como o diabetes tipo 2, a obesidade e a síndrome metabólica.

A glicerol-3-fosfato-fosfatasa (G3PP) é uma enzima envolvida no metabolismo de energia dentro da célula, que tem a glicose como um dos combustíveis. Ela tem capacidade de controlar a quebra da glicose nas células beta do pâncreas. Assim, também influencia na produção da insulina, hormônio que coloca o açúcar para dentro das células.

Os pesquisadores da Universidade de Montreal identificaram na G3PP a capacidade de reduzir os efeitos tóxicos do excesso de açúcar no organismo, fazendo com que o corpo absorva apenas uma quantidade benéfica de glicose.

A descoberta pode abrir caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos para obesidade e diabetes tipo 2.

Segundo os autores da pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a G3PP está presente em todos os tecidos do corpo de mamíferos e pode ter um efeito de desintoxicação no organismo, eliminando o excedente de glicose. Apesar de ser um dos principais agentes que participam da quebra das moléculas de açúcar dentro das células, esse processo gera um subproduto — glicerol-3 fosfato — que, em excesso, é tóxico ao organismo: prejudica vários tecidos e danifica as células-beta do pâncreas, que são as produtoras de insulina, hormônio que regula o nível de glicose no corpo.

O que chamou a atenção dos cientistas canadenses foi que essa característica única da enzima G3PP de transformar o glicerol-3 fosfato em glicerol simples e retirá-lo da célula, impede que atinja os órgãos. Marc Prentki, um dos autores do estudo, destacou que “quando a glicose está anormalmente elevada no corpo, o glicerol-3 fosfato derivado da glicose atinge níveis excessivos dentro das células. Este metabolismo exagerado pode danificar vários tecidos. Constatamos que a G3PP é capaz de repartir uma grande parcela deste excesso de glicerol-3 fosfato e desviá-lo para fora da célula, protegendo, assim, as células-beta produtoras de insulina e vários órgãos dos efeitos tóxicos gerados pelo alto nível de glicose”, disse, conforme reportagem do jornal O Globo.

A pesquisa afirma que o corpo não produz, naturalmente, uma quantidade suficiente de G3PP para inibir os efeitos do excesso de glicose que levam ao diabetes. Assim, a equipe quer agora descobrir quais são “as pequenas moléculas ativadoras de G3PP”, para entender o que impulsiona essa enzima a entrar em ação. No futuro, com mais pesquisas, deverão ser desenvolvidas drogas para tratar distúrbios metabólicos, obesidade e diabetes tipo 2.

Na avaliação de Olga Amancio, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, “é um resultado muito interessante, e será ótimo se realmente servir para diabéticos. Mas ainda temos muitas perguntas a serem respondidas: será que esta enzima só funciona até certo ponto e é por isso que a gente engorda? Será que algumas pessoas, dependendo da herança genética, podem tirar mais proveito dessa enzima? São dúvidas que somente novos estudos esclarecerão”.

A pesquisa abre horizontes em relação à compreensão do metabolismo. “Desde a década de 1960, é muito raro encontrar uma nova enzima no coração do sistema metabólico em todos os tecidos de mamíferos, e é provável que esta enzima passe a fazer parte dos manuais de bioquímica”, resume Marc Prentki.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo diário de açúcar de, no máximo, 10% das calorias ingeridas diariamente, em uma dieta saudável – cerca de 50g –. Neste cálculo, não estão inclusos o açúcar natural de frutas, verduras, legumes e leite fresco. O consumo desses alimentos in natura é, na realidade, estimulado para toda a população, em todas as faixas etárias. A restrição a 10% fala do açúcar de produtos industrializados.

VEJA TAMBÉM