Mundo | 8 de janeiro de 2015

Cientistas descobrem antibiótico mais eficaz

Estudo pode indicar uma solução ao problema da resistência antimicrobiana
Cientistas descobrem antibiótico mais eficaz

Um estudo internacional, com participação de especialistas norte-americanos e alemães, descobriu um composto com propriedades antibióticas que tem potencial para matar uma série de bactérias causadoras de doenças humanas resistentes aos antibióticos atualmente disponíveis no mercado.

Em abril do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o problema no relatório global sobre resistência antimicrobiana (ver aqui). Para descobrir um novo potencial antibiótico, batizado de teixobactina, os cientistas procuraram, no solo, bactérias que, por serem muito difíceis de cultivar em laboratório, nunca tinham sido isoladas.

Os resultados foram publicados na revista Nature. O artigo, assinado por Losee Ling, da NovoBiotic Pharmaceuticals (EUA), Tanja Schneider, da Universidade de Bona (Alemanha), e Kim Lewis, da Universidade Northwestern (EUA), destaca que “a resistência aos antibióticos está se espalhando mais depressa do que a introdução de novos compostos na prática clínica, causando uma crise de saúde pública”.

“A maioria dos antibióticos foram produzidos a partir de microrganismos presentes no solo, mas esta fonte limitada de bactérias cultiváveis esgotou-se nos anos 1960”, lembram os cientistas. “As abordagens sintéticas para a produção de antibióticos têm-se revelado incapazes de substituir essa plataforma”. Para isolar as espécies “incultiváveis”, os cientistas desenvolveram métodos de cultura no próprio ambiente natural da bactéria ou aplicando fatores de crescimento específicos no laboratório.

Desta forma, isolaram 10 mil tipos de bactérias em quantidades suficientes para obter extratos ricos nos compostos produzidos. Ao testar a capacidade desses inúmeros extratos para inibir o crescimento de estafilococos dourados – incluindo as formas resistentes a vários anibióticos –, observaram que a teixobactina, produzida pela bactéria Elephtheria terrae, possuía atividade promissora contra aquela bactéria patogênica, fonte de graves infecções hospitalares.

O estudo demonstrou que ratos infectados com estafilococo dourado ou com estreptococos causadores de pneumonias tinham a infecção reduzida sem aparentes efeitos tóxicos. O resultado mais comemorado pelos cientistas, no entanto, foi o fato de não ter sido possível gerar mutantes de estafilococo dourado – nem do bacilo da tuberculose – resistentes à teixobactina. Isto se dá pelo modo de ação antimicrobiana do composto.

Em geral, os antibióticos têm como alvo determinadas proteínas das bactérias infecciosas. Assim, o surgimento de mutações genéticas pode tornar as bactérias rapidamente resistentes a esses antibióticos. No entanto, a teixobactina não se liga a qualquer proteína: atua destruindo a membrana do estafilococo e de outras bactérias ao se conectar a substâncias precursoras de dois lípidos da membrana, que não são comandadas pelos genes das bactérias, mas a partir de substâncias orgânicas disponíveis.

A teixobactina funciona apenas contra as bactérias chamadas Gram-positivas, mas não contra as Gram-negativas (como a Escherichia coli, bactéria do intestino). Como explica o artigo, isso se deve ao fato delas possuírem uma membrana adicional, exterior à primeira, que impede o acesso do antibiótico aos seus alvos.

A descoberta ainda vai levar alguns anos para estar disponível, devendo passar por testes em humanos. A previsão é de cinco a dez anos para o início de sua comercialização.

 

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