Mundo | 25 de abril de 2014

Bactérias versus antibióticos, quem está vencendo?

Combate às doenças pode se tornar cada vez mais difícil
Bactérias versus antibióticos quem está vencendo

Um número crescente de doentes tem sido afetado pela resistência de bactérias a antibióticos. A ineficácia crescente de medicamentos gera a perspectiva sombria de um futuro em que a capacidade em combater doenças será cada vez mais difícil. Tuberculose, cólera, formas mortais de disenteria e germes contraídos durante cirurgias são exemplos de grandes perigos para as próximas gerações.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou programas em todo o mundo para retardar o surgimento de nova resistência e preservar os tratamentos disponíveis. “Os antibióticos são agora vítimas de seu sucesso: a sua ampla utilização desde as décadas de 1960 e 1970 permitiu que bactérias aprendessem a se defender”, alerta o professor Patrick Plésiat, coordenador do Centro Nacional de Referência de Resistência a Antibióticos de Besançon (França), em entrevista ao jornal Le Figaro.

A OMS vai discutir o tema em maio, em sua Assembleia Anual, e também debaterá a criação de um plano global de ação contra a resistência microbiana. O assunto não é novo, mas ganha relevância porque países como o Reino Unido estão convencidos de que anos de inatividade tornaram o problema cada vez mais grave.

Bactérias multirresistentes foram inicialmente desenvolvidas em hospitais, onde a situação é duplamente favorável. Primeiro, porque é onde metade do consumo de antibióticos está concentrada, e segundo pela quantidade de indivíduos infectados e interligados pelos mesmos cuidadores.

Os esforços atuais se concentram em algumas Enterobacteriaceae (grupo de bactérias que podem causar infecções do aparelho gastrointestinal e de outros órgãos do corpo), resistentes à duas classes de antibióticos (cefalosporinas de terceira geração e carbapenêmicos). Presentes no ambiente humano, tais bactérias circulam amplamente de pessoa para pessoa e pode compartilhar rapidamente com muitas outras bactérias suas “receitas de sucesso” em resistência. Dessa forma, elas aprendem a digerir uma nova molécula ou se descontaminar do produto tóxico (antibiótico).

A Chatham House, uma organização internacional sediada no Reino Unido, realizou duas reuniões para analisar a questão: uma em outubro de 2013 e e outra em março de 2014. Nas ocasiões, foi destacado o fato de que nenhuma classe nova de antibióticos foi descoberta nos últimos 26 anos, o que favorece a defesa das bactérias. A conclusão é de que, se nada for feito para alterar esse cenário, em poucas décadas poderemos começar a morrer por cirurgias consideradas, hoje, comuns, e também por doenças que atualmente são tratadas facilmente.

VEJA TAMBÉM