Gestão e Qualidade | 2 de junho de 2025

ASCO 2025: estudo brasileiro melhora compreensão sobre prognóstico em idosos com câncer metastático

Segundo Cristiane Bergerot, os resultados indicam que há espaço — e demanda — para modelos assistenciais mais sensíveis às necessidades emocionais e cognitivas dos pacientes idosos.
ASCO 2025 estudo brasileiro melhora compreensão sobre prognóstico em idosos com câncer metastático

Uma abordagem inovadora voltada para pacientes idosos com câncer metastático acaba de mostrar resultados promissores ao melhorar significativamente a forma como esses pacientes compreendem e lidam com seu prognóstico. O estudo Prognostic awareness in older adults with metastatic cancer: Secondary analysis of a randomized controlled trial” (ABSTRACT #: 1624) será apresentado no dia 1º de junho durante a Poster Session da ASCO 2025 (American Society of Clinical Oncology), o maior congresso de oncologia do mundo, e traz dados que podem transformar o cuidado oncológico de uma população frequentemente negligenciada.


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A pesquisa, liderada por Cristiane Bergerot (foto), psico-oncologista e líder nacional da especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas&Co., analisou dados de uma intervenção chamada GAIN-S (Geriatric Assessment-Guided Supportive Care Intervention), para pacientes com 65 anos ou mais em diversos estados brasileiros. A proposta vai além do tratamento padrão, ao oferecer cuidados personalizados baseados no resultado da avaliação geriátrica. Em 12 semanas, os pacientes que receberam a intervenção demonstraram avanços importantes em aspectos emocionais e adaptativos relacionados à consciência prognóstica — ou seja, à sua compreensão sobre a evolução da doença e expectativa de vida.


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“Ter consciência do prognóstico é um componente crítico para decisões compartilhadas, alinhamento de expectativas e cuidado centrado no paciente, especialmente quando o tempo passa a ser um recurso escasso”, afirma.

Mudança de paradigma no cuidado oncológico

Com taxa de adesão de 93%, o estudo mostra que é possível implementar uma abordagem centrada em adultos com 65 anos ou mais mesmo em contextos desafiadores. A intervenção utilizou o questionário PAIS (Prognostic Awareness Impact Questionnaire), uma ferramenta validada e sensível a mudanças emocionais e comportamentais, permitindo avaliar com precisão como os pacientes se sentem e reagem frente às informações sobre seu estado clínico.


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“Além do impacto emocional, a maior compreensão do prognóstico pode ajudar a reduzir o sofrimento, evitar intervenções desnecessárias e garantir que as decisões sobre o tratamento estejam realmente alinhadas com os valores e desejos do paciente”, explica Bergerot.

Destaques da pesquisa:

– Primeira iniciativa do tipo no Brasil: o estudo é pioneiro na aplicação da intervenção GAIN-S em diferentes estados, demonstrando sua viabilidade e potencial de escalabilidade.

– Foco em uma população negligenciada: idosos com câncer metastático representam uma parcela significativa da população oncológica, mas ainda são sub-representados em estudos clínicos.

– Ferramenta inovadora de avaliação: o uso do PAIS permitiu capturar nuances emocionais e de comportamento raramente analisadas em ensaios clínicos.

– Relevância ética e clínica: ao favorecer o planejamento antecipado de cuidados, o modelo contribui para o respeito à autonomia do paciente e para decisões mais conscientes no fim da vida.

– Diversidade geográfica e cultural: a participação de pacientes de diferentes regiões do país fortalece a aplicabilidade dos achados em múltiplos contextos assistenciais.


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Segundo Cristiane Bergerot, os resultados indicam que há espaço — e demanda — para modelos assistenciais mais sensíveis às necessidades emocionais e cognitivas dos pacientes idosos. “Quando oferecemos tempo, escuta e um cuidado estruturado, mesmo em situações clínicas complexas, o impacto pode ser surpreendente. E isso, mais do que uma descoberta científica, é um compromisso ético com quem está enfrentando uma doença avançada”, conclui.

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