Estatísticas e Análises, Mundo | 2 de setembro de 2015

As mulheres e a síndrome de burnout

Pesquisas mostram que elas são mais afetadas que os homens pelo estresse e esgotamento profissional
As mulheres e a síndrome de burnout

A síndrome de Burnout, ou esgotamento profissional, é uma espécie de depressão causada por fadiga, um mal que pode atingir a todas as áreas. É como se corpo e mente, esgotados, colocassem um ponto final na própria capacidade. Um cansaço devastador, absoluta falta de energia. Os profissionais da área da saúde, principalmente aqueles que trabalham em locais com grande intensidade de trabalho, estão muito sujeitos a esta doença ocupacional.

No ambiente profissional, uma pessoa – antes competente e atenciosa – pode sentir a troca da motivação pelo sentimento de irritação, diminuição de concentração, desânimo e sensação de fracasso. São indícios de uma doença cruel e de difícil diagnóstico que avança nos hospitais, nas empresas, escolas (http://setorsaude.com.br/burn-out-sinais-de-alerta-para-diagnosticar-a-depressao/).

O termo em inglês significa “estar chamuscado, queimado, calcinado por um fogo que se alastra como numa floresta” e foi criado pelo psicanalista americano Herbert Freudenberger em 1974 para descrever o adoecimento que observou em si mesmo e em seus colegas. No Brasil, 30% dos profissionais apresentam esse grau máximo de Burnout, segundo pesquisa da filial nacional da International Stress Management Association (Isma), que avaliou mil pessoas de 20 a 60 anos entre 2013 e 2014.

Um relatório feito com base em 20 mil entrevistas, o Medscape Physician Lifestyle Report 2015, divulgado em janeiro, concluiu que 46% dos médicos dos EUA têm burnout. Em 2013, a taxa era de 40%. As categorias mais atingidas são as que lidam com pessoas que se expõem ao sofrimento humano, como enfermeiros, psicólogos, professores, policiais, bombeiros, carcereiros, oficiais de Justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários, advogados, executivos e jornalistas.

Além disso, as mulheres são mais atingidas. “Elas são mais afetadas porque não se lembram de seguir a ‘orientação das aeromoças’: colocar em si mesmas a máscara de oxigênio antes de ajudar os outros”, constataram Sheryl Sandberg, diretora do Facebook, e Adam Grant, professor de administração da Universidade da Pensilvânia, em artigo sobre mulher e trabalho, publicado no The New York Times. O dado é oriundo de uma análise de 183 estudos sobre diferenças de gênero e burnout em 15 países.

Uma das razões é a expectativa de que as mulheres realizem, além das suas funções, também o serviço “doméstico” do escritório, como atender telefone, tomar notas, servir café e organizar festas, sem serem recompensadas por isso. Quando negam, são malvistas, o que pode prejudicar a carreira. Assim, ela abraça mais obrigações, até chegar ao ponto da síndrome do burnout.

Três características marcam a doença

1)    A exaustão é citada por 97% das brasileiras na pesquisa do Isma. Há fraqueza, dores musculares e de cabeça, náuseas, alergias, queda de cabelo, distúrbios do sono, maior suscetibilidade a gripes e diminuição do desejo sexual; 91% das pesquisadas relataram desesperança, solidão, raiva, impaciência e depressão; 85% citaram raciocínio lento, memória alterada e baixa autoestima.

2)    A despersonalização ou ceticismo e distanciamento afetivo. A pessoa passa a ter contato frio e irônico com os receptores do seu trabalho e, não raro, torna-se uma presença ranzinza e negativista.

3)    A produtividade, com baixo grau de satisfação pessoal. A pessoa produz pouco e acha que isso não tem valor. As mudanças são graduais. O sono não consegue reparar o organismo, períodos de excitação se intercalam com horas de desânimo. Há queda no rendimento, dúvidas quanto à própria capacidade, e por fim gera a agressividade. Isso amplia o risco de diabetes, cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão.

O perigo da perfeição

O Burnout é uma mescla de fatores pessoais, profissionais e sociais. Entre as causas destacam-se o perfeccionismo, que leva à busca de uma excelência às vezes impossível, e o idealismo em relação à profissão, cobrando um engajamento pessoal para além dos limites. Uma revisão de estudos, realizada por uma equipe do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 2007, apontou ainda a competitividade, a impaciência, a necessidade exagerada de controlar as situações e a dificuldade para tolerar frustração, delegar tarefas e trabalhar em grupo, como agravantes. Fatores laborais que servem de gatilho são: demandas excessivas que ultrapassam a capacidade de realização, baixo nível de autonomia e de participação nas decisões, falta de apoio das chefias, sentimento de injustiça, impossibilidade de promoção, conflitos com colegas e isolamento.

Tratamento

A doença é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma patologia ocupacional. Por isso, admite-se o afastamento do profissional para conter o burnout. A dificuldade maior é diagnosticar, já que pode ser confundida com a depressão. Em geral, antidepressivos fornecem um pouco de alívio, mas o tratamento deve ser mais completo. É preciso reduzir o ritmo de trabalho e, em alguns casos, é recomendada a psicoterapia. Meditação e técnicas de relaxamento associadas ao tratamento combatem o estresse, mas a volta ao trabalho é um ponto delicado e deve ser feita gradualmente. Os profissionais alcançam melhor performance e experimentam menos burnout quando respeitam as próprias necessidades e limites.

Dicas para evitar a síndrome de burnout

·         Não seja workaholic. Abandone o lema “meu nome é trabalho”. Diversifique as fontes de gratificação e descubra seus hábitos de prazer. Leia mais, vá ao cinema, curta os amigos e animais de estimação.

·         Faça uma avaliação sobre custo e benefício: o que atraiu você nesse emprego e o que o mantém nele?

·         É o salário que importa? Seja qual for a motivação, focalize no que é positivo em vez de olhar os aspectos negativos que, em geral, são muitos.

·         Restabeleça contatos profissionais. Faça networking, procure novas chances no mercado ou em outro setor da empresa se o que você faz, no momento, é exaustivo.

·         Atenção aos sinais corporais. A exaustão pode ser sintoma de várias doenças, da anemia a distúrbios da tireoide. Sempre consulte um médico. Se for estresse, procure reduzir o ritmo e faça uma tarefa de cada vez.

·         Cuide do estilo de vida. Alimente-se bem, em horários regulares, sem exagerar no álcool e na cafeína. Durma o necessário para acordar reanimado.

·         Inclua exercícios físicos na rotina. Eles ativam a circulação, estimulam o metabolismo, energizam e ajudam a administrar o estresse.

·         Conte com o apoio da família, dos amigos ou de uma prática espiritual.

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