Estatísticas e Análises | 6 de fevereiro de 2017

Antibiótico rotineiramente prescrito pode não ser o melhor para tratar infecções graves

Vancomicina obteve melhores resultados que Metronidazol para Clostridium difficile
Antibiótico rotineiramente prescrito pode não ser o melhor para tratar infecções graves

O Journal of the American Medical Association (JAMA) divulgou no dia 6 de fevereiro, um estudo que sugere que um dos antibióticos mais prescritos não é o melhor tratamento para casos graves de infecção do tipo Clostridium difficile (C. Diff). Cientistas do Salt Lake City Health Care System e da University of Utah ressaltaram que pacientes com uma infecção grave de C. Diff foram menos propensos a morrer quando tratados com o antibiótico vancomicina em comparação com o tratamento padrão de metronidazol.

A C. diff é uma bactéria que produz dois produtos químicos que são tóxicos para o corpo humano. Estas toxinas trabalham em conjunto para irritar as células do revestimento intestinal produzindo os sintomas associados com a doença. Os sintomas de C. Diff incluem diarreia aquosa, febre, perda de apetite, náuseas e dor abdominal e sensibilidade. Casos graves são associados à inflamação do cólon.

O estudo mostrou ainda que há até 20% de chance de mortalidade dentro de 30 dias após uma infecção considerada grave do C. Diff.

As diretrizes atuais recomendam principalmente dois antibióticos metronidazol ou vancomicina para trata ar C. Diff. Embora a vancomicina tenha sido o tratamento original, a comunidade médica tem favorecido o metronidazol nas últimas décadas, porque é menos dispendioso e limitará a resistência à vancomicina em outras infecções hospitalares. As diretrizes são baseadas em pequenos ensaios clínicos realizados há cerca de 30 anos.

“Este é um problema muito real que afeta a qualidade de vida dos pacientes”, diz a autora principal do estudo, Vanessa Stevens, professora pesquisador do IDEAS 2.0 Center, e principal autora do estudo.

“Por muitos anos os dois antibióticos foram considerados equivalentes na sua capacidade de curar C. diff e prevenir a recorrência da doença”, diz Stevens. “Nosso trabalho e vários outros estudos mostram que isso nem sempre é o caso.” Na edição atual da JAMA Internal Medicine, a equipe de pesquisa analisou a eficácia das duas drogas, comparando o risco de mortalidade após o tratamento com estes dois antibióticos.

Os investigadores conduziram o maior estudo feito até hoje, examinando os dados de mais de 10 mil doentes tratados para C. diff através do Departamento de Veteranos dos EUA, de 2005 a 2012. Um caso grave de C. diff foi definido como aquele paciente com um elevado nível de glóbulos brancos ou com creatinina sérica, dentro de quatro dias do diagnóstico de C. diff. Já um caso de C. diff leve a moderado foi definido como um paciente com contagem de glóbulos brancos normais e com níveis de creatinina aceitáveis. Cerca de 35% dos casos neste estudo foram considerados graves.

Pacientes com caso severo de C. diff apresentaram menores taxas de mortalidade quando tratados com vancomicina em comparação com metronidazol (15,35% versus 19,8%). Os cientistas calcularam que apenas 25 pacientes com C. diff grave precisariam ser tratados com vancomicina para prevenir uma morte. “Esse é um resultado poderoso e positivo para o bem-estar do nosso paciente”, explica Stevens.

Ela adverte que os pesquisadores ainda não descobriram ao certo como a escolha do antibiótico afeta as taxas de mortalidade.

“Embora os antibióticos sejam um dos maiores milagres da medicina moderna, ainda há grandes lacunas no nosso conhecimento sobre quando e como usá-los para dar aos nossos pacientes os melhores resultados de saúde”, explica o médico Michael Rubin, professor de medicina interna e investigador no VA Salt Lake City Health Care System.

“Esta pesquisa mostra que os prescritores devem escolher vancomicina para tratar pacientes com C. diff, o que deve resultar em um menor risco de morte para os pacientes críticos”, disse Rubin. O estudo mostrou que menos de 15% dos pacientes com C. diff, incluindo casos graves, receberam vancomicina.

Stevens adverte que o estudo foi de natureza observacional. Além disso, centrou-se em pacientes que eram principalmente homens; no entanto, estudos anteriores mostram que os resultados do tratamento de C. diff para homens e mulheres foram semelhantes.

De acordo com Stevens, o trabalho futuro deve equilibrar a aplicação específica do tratamento com vancomicina, especialmente para casos C. diff graves, com considerações econômicas e as consequências da resistência aos antibióticos. “A melhor maneira de avançar é fazer análise de decisão que nos permita avaliar os prós e os contras das várias estratégias de tratamento”, diz ela.

Acesse o estudo (em inglês): Comparative Effectiveness of Vancomycin and Metronidazole for the Prevention of Recurrence and Death in Patients With Clostridium difficile Infection

 

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