Gestão e Qualidade, Mundo | 2 de março de 2016

20 grandes empresas se unem para mudar o sistema de saúde nos EUA

Aliança de Transformação da Saúde priorizará alta qualidade e custo baixo
20 grandes empresas se unem para mudar o sistema de saúde nos EUA

No início de fevereiro, 20 grandes corporações dos EUA anunciaram que estão unindo forças para criar a Aliança de Transformação da Saúde (HTA, na sigla em inglês http://www.htahealth.com). As companhias – incluindo a American Express Co., Macy’s Inc e a Verizon Communications Inc. – pretendem usar seus dados coletivos e poder de mercado em uma tentativa de manter baixos os custos para fornecimento de benefícios de saúde aos trabalhadores.

A nova aliança formada pelas companhias (que cobrem aproximadamente quatro milhões de pessoas) planeja compartilhar informações sobre os gastos com saúde de seus funcionários e seus respectivos resultados, visando identificar, de uma forma cooperativa, como eles contratam serviços de saúde. A aliança pretende instituir uma “cooperativa” de compras para negociar menores preços com as seguradoras de saúde ou mudar seus relacionamentos com administradores de seguros e gerentes de benefício para medicamentos.

A ação pretende gerar mudanças nos planos de saúde fornecidos pelos empregadores, que há muitas décadas vem sendo a maneira como a maioria dos norte-americanos – em torno de 170 milhões de pessoas – obtêm a sua cobertura de saúde. Grandes empregadores normalmente financiam por si próprios o tratamento médico de seus trabalhadores, através de planos administrados por operadoras tradicionais, que coletam as contribuições dos empregadores na forma de bonificações e dedutíveis. O CEO da Verizon, Marc Reed, comentou em entrevista ao The Wall Street Journal que o projeto está “tentando fazer tudo de maneira sustentável para que esse tipo de cobertura possa continuar”. Ele destaca que “saúde é uma das coisas que os empregados querem e precisam”.

A Aliança de Transformação da Saúde vai agregar dados e produzir informações sobre custos de prestadores e resultados junto aos pacientes ainda em 2016. É esperado que a aliança também anuncie um projeto piloto, especificamente voltado para a redução de custos com a prescrição de medicamentos.

Em uma “chamada à ação” publicada entre os potenciais membros da aliança, Bill Allen e Kevin Cox, da Macy’s e da American Express, respectivamente, enfatizaram que “empregadores não estão buscando um melhor intercâmbio privado; eles estão procurando um sistema acessível dedicado à promoção e sustentação da saúde”.

A aliança pode ser o catalisador para a mudança fundamental na forma como o atual sistema de saúde funciona. A HTA buscará melhorar a probabilidade de conseguir o que preconiza a abordagem conhecida como “Triple Aim” – melhor atendimento para os indivíduos, melhor saúde para as populações, e menor custo per capita – empregando cinco estratégias:

1. Não basta melhorar sua posição; é preciso mudar o jogo

A aquisição de planos de saúde nos EUA é configurado de modo que cada player (empregador, pagador, prestador de serviços) tenha informações imperfeitas e, portanto, procure dados para ganhar vantagem sobre os outros players. Estas negociações anuais de “soma zero” não levam aos melhores cuidados com o menor custo, não aborda os fatores de custo fundamentais de cuidados desnecessários e complicações evitáveis. Compradores, planos ou prestadores não podem mudar o status quo de forma independente. Há muita disfunção no que diz respeito ao provedor (como assistência variável e falta de padrão), ao pagamento (custos de atendimento sem qualidade), e ao empregador (falta de consideração para além do custo total) para qualquer entidade ser capaz de conseguir um ganho substancial sozinho de forma isolada, sem parcerias. As organizações da HTA podem combater esse status quo, usando a sua energia coletiva para trazer outros players, criando um objetivo comum em que todos se beneficiem.

2. Envolver os sistemas de saúde na mudança

A HTA “antecipa a entrega de melhores cuidados de saúde, reduzindo os custos” através do trabalho coletivo dos seus membros. No entanto, estas grandes corporações  não prestam serviços de saúde. Prestadores, ao lado de pacientes e familiares, é que são determinantes  na prestação dos serviços.A estratégia da HTA reforça o papel do empregador por exercer o poder coletivo dos seus membros, mas não se envolve com prestadores ou pacientes. Isso pode perpetuar uma relação conflituosa, em vez de uma relação de apoio mútuo e com responsabilidade. Só trabalhando em conjunto entre empregadores e prestadores o sistema atingirá os mais altos resultados de qualidade com o menor custo e com o máximo benefício para as pessoas. Para consegui-lo, é preciso trabalhar com fornecedores para determinar as situações que estão gerando maiores custos diretos e indiretos e para desenvolver metas de qualidade mensuráveis. Não se trata de um processo desconhecido para a maioria das grandes organizações, que rotineiramente nomeiam responsáveis ​​por contratos, para identificar os mais fortes fornecedores e, em seguida, medir a qualidade para garantir a entrega de um serviço qualificado em um período de tempo previamente acordado. É altamente provável que os prestadores de serviços de saúde cooperem neste processo.Os médicos são considerados como normalmente bem-intencionados e que visam melhorar a vida daqueles que servem. Eles querem participar do melhor atendimento possível.

3. Definir uma estratégia simples, relevante, que se concentre em resultados

Um simples conjunto de medidas que aborde os componentes do Triple Aim vai ajudar a encontrar um equilíbrio quando se considera o custo dos serviços, a saúde geral da população e a experiência de cada pessoa. A seleção do que trabalhar e as medidas de acompanhamento devem ser relevantes e padronizadas. Além disso, devem ter alto significado para o empregador, para os beneficiários e para os prestadores de serviços. Para tal, é importante utilizar a seguinte estrutura básica para medir o progresso na melhoria dos cuidados:

 – Será que os pacientes recebem cuidados baseados em evidências para a sua condição?

– Os pacientes ficaram satisfeitos com o atendimento recebido?

– O acesso disponível para a condição do paciente ocorreu imediatamente (no mesmo dia)?

– Houve um rápido retorno ao trabalho, por parte do paciente?

– O atendimento era acessível e o objetivo do paciente foi alcançado?

Um exemplo foi o esforço liderado pela Intel em Portland, Oregon, que escolheu uma condição simples (dor lombar) como uma prioridade inicial. Esse problema gerou um custo significativo para a empresa, infligiu sofrimento significativo aos funcionários e suas famílias, causou uma grande quantidade de absentismo no trabalho e o atendimento prestado não pareceu ser eficiente nem padronizado. As organizações da HTA devem compartilhar dados para identificar suas maiores oportunidades locais. Depois de escolher as prioridades, os prestadores, empregadores e contribuintes devem trabalhar em conjunto para definir, coletar e analisar os dados necessários para acompanhar o progresso de uma forma contínua, rápida, além de analisar através de pequenos testes, quais processos são eficazes. Eles devem definir medidas e metas em conjunto, e cada entidade deve ser responsabilizada pelos resultados alcançados.

4. Reconhecer que toda mudança é local

Muito poucas melhorias podem ser alcançadas de forma completa, com aceitação imediata e execução impecável. Além disso, a partir de inúmeras pesquisas de serviços de saúde, é sabido que existem diferenças reais na prestação de serviços. Diferentes grupos raciais, étnicos e sociais recebem cuidados diferentes e têm diferentes percepções e preferências quando se trata de saúde. Da mesma forma, as organizações têm diferentes modelos de liderança, de níveis de conhecimento técnico e de cultura – todas as quais impactam na disponibilidade para participar da mudança. Todas essas diferenças não significam que a mudança e a melhoria não são possíveis. Pelo contrário, significa que as relações locais precisam ser construídas. Portanto, cada uma das 20 empresas no HTA terá de considerar em qual mercado regional irá concentrar-se e, em seguida, juntamente com os prestadores de serviços locais, definir objetivos. A aprendizagem deve ser compartilhada entre as organizações, mas todos devem ter em mente que a melhoria requer tempo, espaço e adaptação.

5. Tornar mais fácil a participação de outros

A HTA diz, no artigo do Wall Street Journal, que espera que outros players participem. Seus 20 membros fundadores devem encorajar outros em seus mercados locais, a participar das iniciativas. Estes esforços locais devem ser uma oportunidade para melhorar os contratos de todos os participantes, não de alguns poucos. A Intel, por exemplo, reconheceu imediatamente que deve se comportar como uma liderança da comunidade de Portland, e não apenas buscar seus próprios interesses. Com isso em mente, o “mercado de colaboração” não procura obter mudanças dos prestadores de serviços apenas para beneficiários da Intel, mas sim dos fornecedores, para melhorar o atendimento para todos na comunidade. Da mesma forma, os 20 membros da HTA devem encarar a aliança como uma oportunidade para ampliar seu papel em cada comunidade local. Deve tornar mais fácil para os mais diversos empregadores, prestadores e operadoras, para unir forças em busca de um padrão mais elevado de qualidade no mercado da saúde.

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