Mundo | 24 de setembro de 2015

Medicamento Daraprim passa de US$ 13,50 para US$ 750 da noite para o dia

Empresa adquire os direitos de produzir a droga e aplica aumento de 5.455%
Medicamento Daraprim passa de US$ 13,50 para US$ 750 da noite para o dia

Martin Shkreli, um empresário de 32 anos, se tornou o símbolo da ganância desenfreada nos EUA. Fundador da empresa de medicamentos Turing Pharmaceuticals, ele adquiriu os direitos para produzir um medicamento chamado Daraprim, que custava US$ 13,50 por comprimido, e aumentou o preço para US$ 750 dólares – cerca de 5.455% -, denunciou o jornal The New York Times.

A droga, desenvolvida em 1940, é utilizada no tratamento da toxoplasmose, uma infecção rara e particularmente perigosa, que pode ser letal em bebês e em adultos com o sistema imunológico comprometido (como pacientes em estágios avançados de AIDS ou em tratamento contra o câncer).

Não há nenhuma mudança em sua composição que justifique o aumento aplicado por Shkreli. O exorbitante aumento do preço comercial do Daraprim deve torná-lo inacessível a instituições com menos recursos. A Sociedade de Doenças Infecciosas da América (Infectious Diseases Society of America) e a Associação de Medicina de HIV (HIV Medicine Association) dos EUA enviaram uma carta aberta conjunta para a Turing Pharmaceuticals no início de setembro, reclamando que o aumento repentino e estratosférico do preço do Daraprim era “injustificável para a população medicamente vulnerável” e que também era “insustentável para o sistema de saúde”.

Ao canal Bloomberg News, Shrekeli defendeu a decisão dizendo que “nós precisávamos que esse medicamento passasse a dar lucro”. Também comentou que é necessário alto investimento para desenvolver novas versões do remédio, e que o preço antigo do Daraprim estava defasado. Prometeu, ainda, fornecer o medicamento sem custos para quem não puder comprar. “Se você não puder pagar a droga, damos de graça”.

A reputação negativa do empresário não é nova. O grupo Citizens for Responsibility and Ethics in Washington já denunciou o investidor por short-selling (manobra no mercado financeiro em que se lucra com a queda do preço de ações, espalhando rumores sobre as empresas em questão para que o preço de suas ações realmente caísse), mas o Departamento de Justiça norte-americano nunca levou adiante a investigação. Anteriormente, Shkreli também já aumentou o preço de um medicamento (Thiola) para uma doença renal rara em 2000%.

O aumento abusivo de medicamentos tem se tornado constante no mercado norte-americano. A cicloserina, por exemplo, é um medicamento usado para tratar um tipo de tuberculose resistente a vários tipos de drogas. Depois de adquirida pela Rodelis Therapeutics, o preço subiu de US$ 500 (30 pílulas) para US$ 10.800. A empresa justificou que precisava do aumento para investir mais e assim poder garantir o fornecimento. Da mesma forma a Valeant (uma das maiores farmacêuticas dos EUA) comprou duas drogas (Isuprel e a Nitropress) para doenças coronarianas e alavancou o valor em 525% e 212%, respectivamente.

A pré-candidata à presidência dos EUA pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, se manifestou, via Twitter. Segundo ela, a prática é “ultrajante” e um plano para impedi-la será elaborado. O tweet de Hillary derrubou os preços de várias empresas farmacêuticas, e fez o índice Nasdaq despencar momentaneamente.

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