Mundo, Tecnologia e Inovação | 20 de outubro de 2015

Testes de sangue da “revolucionária” Theranos sob suspeita

Dos 240 exames de sangue, apenas 15 seriam de tecnologia própria
Testes de sangue da revolucionária Theranos sob suspeita

Uma das maiores inovações propagadas no mundo da saúde dos últimos anos, a Theranos http://setorsaude.com.br/invencao-possibilita-obter-resultado-de-30-exames-com-apenas-uma-gota-de-sangue/ está sob a mira da imprensa norte-americana.

A empresa sediada em Palo Alto, Califórnia, foi fundada em 2003 por Elizabeth Holmes e atraiu atenção com rápidos testes de laboratório. Basta uma pequena quantidade de sangue para conseguir resultados rápidos a um custo menor para o consumidor. Avaliada em mais de US$ 9 bilhões, a empresa supostamente não é tão eficiente ou inovadora como se diz.

A polêmica surgiu após o The Wall Street Journal publicar um artigo, que fala sobre um antigo funcionário que citou que, dos 240 testes oferecidos pela empresa, apenas 15 são, de fato, realizados com a tecnologia dos equipamentos proprietários e, especialmente, de uma máquina, a Edison, enquanto todos os outros estão sendo feitos em uma máquina da Siemens e de outras grandes empresas tradicionais do setor.

Outro antigo funcionário acusa a empresa de não reportar resultados questionáveis do equipamento – ferindo regras federais para laboratórios. A CEO da Theranos, Elizabeth Holmes, afirmou ao The Wall Street Journal, que estaria sendo atacada pela indústria de laboratórios.

Entenda, em dez tópicos, a polêmica envolvendo a Theranos.

Acusações feitas pelo The Wall Street Journal

1. O que o jornal chama de “eixo da sua estratégia”, o exame de sangue Edison, representa apenas uma pequena parcela dos testes da Theranos. O site da empresa diz que oferece mais de 240 exames de sangue com apenas uma picada no dedo de sangue. No entanto, o Edison é usado para apenas 15 tipos de testes (em dezembro de 2014), de acordo com quatro ex-funcionários. A Theranos contesta a afirmação de que o Edison trabalha com apenas 15 tipos de testes, mas se recusou a especificar quantos são. O jornal norte-americano diz que, até o final de 2014, a empresa realizou 190 de seus exames de sangue em máquinas tradicionais.

2. A empresa dilui amostras para 60 testes. De acordo com o relatório, a empresa faz três tipos de testes. Quinze são executados no sistema de Edison, 130 são executados em máquinas tradicionais com amostras de sangue em quantidade tradicional e outros 60 testes adicionais são feitos em máquinas tradicionais com a quantidade de sangue usado pela Edison. No entanto, as “microamostras” devem ser diluídas para atingir os requisitos de volume de líquido para rodar nas máquinas tradicionais. De acordo com a reportagem, a diluição aumenta a margem de erro e a maioria dos laboratórios tradicionais só usa este método em circunstâncias específicas.

3. A Theranos mudou seu site durante as repercussões do artigo, justificando precisar de “ajustes de marketing” (marketing accuracy). O jornal sustenta que o site da empresa retirou do ar a frase “Muitos de nossos testes exigem apenas algumas gotas de sangue” e outra, sobre a quantidade de micro-tubos de ensaio usados nos testes.

4. Enquanto a empresa apresentou mais de 120 de seus testes para autorização da FDA (um foi liberado até agora) suas práticas em ensaios de proficiência “levantam algumas questões”. A Theranos divide suas amostras entre máquinas Edison e máquinas tradicionais, que produzem resultados diferentes. Quando um funcionário pediu que os resultados fossem relatados ao governo, o presidente da empresa e diretor de operações, Sunny Balwani, afirmou em email que “as amostras nunca devem devem ser executadas inicialmente com Edison”. Em março de 2014, um funcionário da Theranos relatou para a Secretaria de saúde pública do estado de Nova York que a empresa pode ter manipulado resultados.

5. A reportagem afirma que os testes Theranos não são precisos. A empresa confirmou que o dispositivo Edison produziu resultados para os testes diferentes daqueles encontrados em equipamentos tradicionais. Ex-funcionários denunciaram que o método de coleta através de uma picada no dedo pode ser imprecisa porque o tecido e o fluido celular podem interferir na amostra. Muitas fontes disseram ao jornal que resultados anormais não são, posteriormente, confirmados em testes hospitalares.

As fontes da reportagem

6. Elizabeth Holmes recusou os pedidos de entrevista ao The Wall Street Journal por mais de cinco meses, por falta de tempo em sua agenda. Ao invés dela, a reportagem falou com o advogado da empresa e com Heather King, conselheiro-geral da empresa.

7. A reportagem também falou com um número de ex-empregados, médicos, enfermeiros e viúva do bioquímico britânico Ian Gibbons, Ms. Holmes, que ajudou a desenvolver 23 patentes para a empresa antes de sua morte. Os ex-funcionários eram altos funcionários do laboratório e os enfermeiros e médicos trabalharam em instalações que tinham usado o teste Theranos.

Resposta da Theranos

8. A Theranos emitiu uma resposta, escrita após a divulgação da reportagem. “A história da Wall Street Journal sobre a Theranos é factual e cientificamente errada e fundamentada em afirmações infundadas de ex-funcionários inexperientes e descontentes e operadores da indústria”.

9. A empresa diz que as fontes utilizadas no artigo não são confiáveis. A declaração diz: “As fontes consultadas no artigo nunca estiveram em posição de compreender a tecnologia da Theranos e não sabem nada sobre os processos atualmente empregados pela empresa. Nós estamos decepcionados que, em um esforço para tornar a sua história mais dramática, este repórter se baseou apenas na posição dos quatro ‘anônimos’ descontentes ex-funcionários, concorrentes e seus aliados, ao invés de procurar muitos dos líderes científicos, médicos e empresários que realmente viram, testaram, usaram e examinaram nossas tecnologias inovadoras”.

10. Theranos afirma que o jornal preferiu ignorar vários fatos e não teve contato com a tecnologia. O comunicado diz que providenciou à reportagem, fatos que refutam diretamente as alegações feitas no artigo, mas a edição preferiu publicar sem referência a estes dados. A Theranos também afirma que o Wall Street Journal recusou acompanhar uma demonstração dos testes, de acordo com o comunicado.

VEJA TAMBÉM