Estatísticas e Análises | 20 de janeiro de 2018

Surfistas são três vezes mais propensos a contrair superbactérias, diz estudo

Pesquisa é a primeira a identificar uma associação entre o surfe e as bactérias resistentes a antibióticos
Surfistas são três vezes mais propensos a contrair superbactérias, diz estudo

Os surfistas possuem três vezes mais chance de contrair superbactérias resistentes a antibióticos do que as demais pessoas. É o que diz um estudo da Universidade de Exeter, do Reino Unido, que constatou que os surfistas engolem até dez vezes mais água do mar do que os demais banhistas. O estudo foi publicado no dia 14 de janeiro na revista Environment International.

Os cientistas compararam as amostras de fezes de surfistas e demais banhistas. O estudo contou com a participação de 273 britânicos, sendo que metade dos participantes pratica surfe regularmente. Os resultados mostraram que 9% dos surfistas, em comparação com 3% das pessoas que não praticavam a atividade, carregavam uma espécie de E. coli (bactéria presente nas fezes) resistente à cefotaxima, antibiótico comumente usado contra essa bactéria.

Os pesquisadores também descobriram que os surfistas regulares eram quatro vezes mais propensos a abrigar bactérias que contêm genes móveis que tornam as bactérias resistentes ao antibiótico. Isso é significativo porque os genes podem ser passados entre bactérias – potencialmente espalhando a capacidade de resistir ao tratamento antibiótico.

Recentemente, a Assembléia do Meio Ambiente da ONU reconheceu a propagação da resistência aos antibióticos no meio ambiente como uma das maiores preocupações ambientais emergentes do mundo.

“Esta pesquisa é a primeiro do tipo a identificar uma associação entre o surfe e a colonização intestinal por bactérias resistentes a antibióticos”, afirma a Dra. Anne Leonard, da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, que liderou a pesquisa.

“ A resistência antimicrobiana foi globalmente reconhecida como um dos maiores desafios de saúde de nosso tempo, e agora há um foco crescente em como a resistência pode ser disseminada através de nossos ambientes naturais. Precisamos saber mais sobre como os seres humanos estão expostos a essas bactérias”, completou.

Apesar das extensas operações de limpeza de águas costeiras e praias, as bactérias potencialmente prejudiciais aos seres humanos ainda entram no meio ambiente costeiro através de esgoto e poluição residual de fontes, incluindo o escoamento de água de culturas agrícolas tratadas com estrume.

O principal uso de antibióticos se dá prioritariamente na pecuária, com incríveis 70%. Apenas 30% é usado para tratamento humano. Além disto, o adubo oriundo das fezes – com antibióticos – dos animais é usado na agricultura e acaba na mesa das pessoas, contribuindo também para a resistência das mesmas aos efeitos dos antibióticos. Toda esta engrenagem cria um ciclo que pode ser mortal com consequências para os hospitais que tratam os pacientes (leia Como as superbactérias podem se tornar a principal causa de morte no mundo)

É necessário mais estudos

Embora o tamanho da amostra e a porcentagem sejam pequenos, os autores ressaltam que os resultados apontam para uma possível associação entre a resistência aos antibióticos e o tempo gasto no mar.

“Não estamos buscando desencorajar as pessoas a passarem tempo no mar, uma atividade que tem muitos benefícios em termos de exercício, bem-estar e conexão com a natureza. É importante que as pessoas compreendam os riscos envolvidos”, diz o Dr. Will Gaze, da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, que supervisionou a pesquisa.

Alertas quanto aos riscos futuros com as superbactérias

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para que possamos estar entrando numa era na qual os antibióticos já não são eficazes para matar infecções bacterianas simples e previamente tratáveis. Isso significaria que infecções como pneumonia, tuberculose, envenenamento por sangue, gonorréia e alimentos e doenças transmitidas pela água poderiam ser fatais. Isso também significaria que não seria mais possível usar antibióticos para prevenir infecções em procedimentos médicos de rotina, como substituições de articulações e quimioterapia.

O relatório O’Neill 2016, encomendado pelo governo do Reino Unido, estimou que as infecções resistentes aos antimicrobianos poderiam matar uma pessoa a cada três segundos até 2050 se as tendências atuais continuarem.

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Com informações do Science Daily. Edição do Setor Saúde.

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