Mundo | 11 de fevereiro de 2016

Pesquisa alerta para riscos em plásticos utilizados para armazenar alimentos

Estudo mostra que compostos químicos causam perturbações no sistema reprodutivo
Pesquisa alerta para riscos em plásticos utilizados para armazenar alimentos

O Bisfenol A (BPA) é um difenol, utilizado na produção do policarbonato mais comum (bisfenol A) e de outros plásticos. A substância é proibida em países como Canadá, Dinamarca, Costa Rica e alguns Estados dos EUA. No Brasil, foi muito utilizado na produção de garrafas plásticas, mamadeiras, copos para bebês e produtos de plástico variados, mas foi proibido no final de 2011.

Alertas do uso do “BPA-free” começou após estudos que apontaram para uma ligação entre o BPA e problemas de saúde, como puberdade precoce e câncer de próstata. Depois disso, os produtos com Bisfenol S (BPS) surgiram como uma alternativa mais segura.

O BPS é usado em colas a base de resinas epóxi (plástico termofixo, que endurece quando se mistura com um agente catalisador ou “endurecedor”) de secagem rápida, e como anti-corrosivo. Também é usado como reagente em reações de polímeros, como desenvolvedor de papel sensível. ao calor, retardadores de fogo, agentes de curtimento de couros e peles e outros compostos.

Um recente estudo liderado pela UCLA, publicado no jornal Endocrinology, sugere que o BPS pode ser tão prejudicial quanto o BPA, causando um rápido desenvolvimento embrionário e perturbações do sistema reprodutivo em animais.

O estudo é o primeiro a focar os efeitos que o BPA e o BPS podem ter sobre as células do cérebro e genes ligados ao desenvolvimento de órgãos de reprodução. Para testar os produtos químicos, os pesquisadores analisaram o peixe-zebra, cujos embriões transparentes facilitam a observação dos pesquisadores sobre o crescimento celular, com quantidades muito pequenas de BPA ou BPS. Com o uso de marcadores (proteínas) fluorescentes verdes, eles foram capazes de rastrear o desenvolvimento das células cerebrais do sistema reprodutivo endócrino dos animais, responsável pelo controle da puberdade e da fertilidade.

Em ambos os casos, eles observaram alterações na fisiologia na fase embrionária, dentro de 25 horas. Eles descobriram que o número de neurônios do sistema endócrino aumentou até 40%, o que sugere que o BPA estimula excessivamente o sistema reprodutivo, mesmo em casos de baixa exposição. “A ovulação em tempo acelerado, leva ao nascimento prematuro”, afirma a principal autora do estudo, Nancy Wayne. “Os embriões se desenvolveram muito mais rápido do que o normal na presença de BPA ou BPS”, acrescentou.

A pesquisa pode ajudar investigadores a entender melhor a suposta ligação entre a desregulação endócrina e o aumento dos nascimentos humanos prematuros, bem como o início precoce da puberdade registrada ao longo das duas últimas décadas nos EUA. As descobertas sustentam que tanto o BPA quanto o BPS geram danos hormonais. O hormônio da tireóide desempenha um papel importante no desenvolvimento do cérebro durante a gravidez.

O próximo passo da pesquisa é apontar um caminho para evitar esses produtos químicos e os objetos de plástico que os contêm (como mamadeiras, recipientes de armazenamento de alimentos, talheres de plástico, etc).

Dra. Wayne afirmou, em reportagem do portal Gizmag, que abandonou os produtos plásticos em 2007, quando surgiram as primeiras pesquisas sobre os riscos. “Armazeno alimentos em recipientes de vidro. Vidro, aço inoxidável e cerâmica são boas alternativas. A ressalva é que eles são mais pesados do que o plástico, e vidro e cerâmica são frágeis, o que pode causar um outro conjunto de problemas”, alerta.

Para a presidente da Comissão de Desreguladores Endócrinos da Sociedade Brasileira de Endrocrinologia, Dra. Tânia Bachega, “quando você tem um produto metabolizado pelo fígado, você tem que analisar inclusive os compostos menores que ele elimina, que podem ser tão nocivos quanto o produto original”, comentou, em entrevista ao programa Rádio Atividade, da Jovem Pan. Uma dica é não colocar alimento quente ou aquecer este produto com Bisfenol.

O Bisfenol não está só no plástico, mas também na resina de alimentos enlatados. “Por isso a gente sempre ouve: não compre alimentos em latas amassadas”, diz a especialista. Para Tânia Bachega, o certo é proteger a população, considerando as evidências, antes que todos comecem a apresentar problemas.

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