Gestão e Qualidade, Tecnologia e Inovação | 21 de maio de 2021

Os desafios do uso de dados e a visão de especialistas do Einstein, HCor e Unimed Porto Alegre

Confira como foi a webinar promovido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Os desafios do uso de dados e a visão de especialistas do Einstein, HCor, Unimed Porto Alegre

Os desafios da utilização ágil e segura dos dados hospitalares, a digitalização e a integração de sistemas, assim com os desafios impostos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) à governança foram temas do Webinar promovido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), na quinta-feira (20) à noite.

O evento, apresentado no canal oficial do HCPA no YouTube, contou com a participação de lideranças do Hospital e convidados do Hospital Israelita Albert Einstein, do Hospital do Coração de São Paulo (HCor), e da Unimed Porto Alegre.

A diretora-presidente do HCPA, Nadine Clausell, agradeceu aos convidados pela presença e ressaltou a importância de avançar nos debates sobre o tema. “Nós tivemos essa ideia de compartilhar dúvidas e angústias sobre como se faz com a geração muito grande de dados dentro de um hospital do porte do Hospital de Clínicas, e de outros que estão nos acompanhando. Como esses dados podem gerar melhoria na assistência, gerar conhecimento, melhorar a gestão, dentro de um arcabouço de utilização de dados que é novo e que nos deixa, de uma certa forma, com muito mais dúvidas do que certeza. Mas temos a certeza de que temos de avançar nesse campo”, disse Clausell, que ainda salientou que é preciso gerar conhecimento constante sobre o tema.

hcpa

A Webinar do HCPA contou com a apresentação dos seguintes convidados:

Andrea Thome Suman – Superintendente de Estratégia e Inteligência de Dados da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.


Fernando Torelly – Superintendente Corporativo do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo.


Débora Gonçalves – gestora da equipe de Business Analytics da Unimed Porto Alegre.

Confira como foram as apresentações.

Andrea Thome Suman

A superintendente ressaltou que a gestão dos dados faz parte do plano estratégico do Albert Einstein desde 2016. Ela ressaltou que os dados impactam tanto os setores privados como públicos da assistência hospitalar da instituição.

Suman pontuou que os dados são importantes e oportunizam a evolução da saúde, a partir da melhoria da saúde populacional (como ações preditivas), redução de custo (como a otimização de escala) e melhoria da experiência do paciente (com, por exemplo, o monitoramento em tempo real).

Há três grandes direcionadores que fazem o suporte da gestão: dados (democratização de dados); Analytics (gerar valor por meio dos dados); e cultura (desenvolver pessoas e estabelecer parcerias).

Suman explicou que boas práticas do uso de dados passam por algumas características: que os dados sejam possíveis de serem encontrados; devem ser acessíveis; os dados precisam ser organizados para ter interoperabilidade, ou seja, podem ser cruzados e integrados; e deve haver o estímulo ao reuso de dados utilizados.

einstein

A superintendente elencou cinco grandes pilares para a governança e gestão dos dados que balizaram as ações de governança dos dados do Einstein:

Acesso aos dados – é preciso organizar e informar corretamente onde estão os dados.


Qualidade dos dados – dividir a ampla gama de dados em diferentes dimensões.


Conhecimento – definição de domínios e responsáveis em cada área pela gestão dos dados. O Einstein identificou 46 Data Stewards (responsáveis pela gestão dos dados). Além disso, organizar diferentes áreas com pessoas com perfil mais analítico, com domínio sobre o assunto.


Tecnologia – com a definição da arquitetura de dados. O Einstein arquitetou toda a governança de dados em um sistema integrado chamado EDGE (Einstein Data Global Enviroment).


Segurança e privacidade – Garantir adequação à LGPD.

“Quero dizer que isso é uma jornada, que não muda do dia para a noite. Inicia com um momento de exploração, de insights. À medida que começa a ter valor, com áreas que começam a mostrar que geram valor, é preciso se estruturar de outra forma, capturar mais valor, e aí precisamos nos preocupar com a escala, como produzir as soluções. Até que uma hora a nossa área não precisaria mais existir, porque estará no DNA de toda a instituição. Mas sabemos que as tecnologias estão avançando tão rápido que sempre teremos novos desafios”, finalizou.

Fernando Torelly

O superintendente corporativo do HCor, de São Paulo, iniciou a apresentação explicando que a instituição se preparou para as mudanças impostas pela LGPD. De acordo com Torelly, o HCor contratou um escritório especializado, que revisou 158 processos e identificou 89 oportunidades. O superintendente ressalta que a instituição internamente teve um grande impacto a partir desse “assessoramento externo muito forte”.

Para adequação que a LGPD irá impor aos dados hospitalares, será preciso investimento muito forte das instituições, acredita Torelly. “Muitas instituições não conhecem as fragilidades e todos os riscos que encontram”, disse.

Além da LGPD, as instituições também precisarão investir cada vez mais na segurança dos seus dados. O superintendente contou casos de ataque cibernético que ele observou em sua passagem pelo Hospital Sírio-Libanês como diretor executivo. A partir do ataque, que paralisou grande parte dos sistemas da instituição, foi definida a contratação de uma equipe especializada para proteger a instituição de ataques de hackers, os chamados “hackers do bem”. Eles são responsáveis por “atacar o hospital” diariamente, identificando fragilidades e sugerindo ações e barreiras contra as ameaças cibernéticas e de sistemas.

“A organização hospitalar que não tem um orçamento de segurança da tecnologia da informação (TI) muito grande, não sabe o risco que está correndo. Quando efetivamente contrata empresas especializadas, você observa o quanto a instituição está frágil e [o quanto] precisa investir, praticamente [promovendo] uma revolução da estrutura hospitalar”, afirmou.

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Além disso, Torelly destacou a importância de otimizar a qualidade dos dados. Ele citou como exemplo ações preditivas que serão possíveis a partir da correta organização de dados. Para ele, chegará o momento em que o paciente “não vai mais agendar consulta no médico, o médico vai me chamar”. O médico estará acompanhando seus pacientes com tanto detalhamento de dados que será possível fornecer um cuidado mais preventivo, com uma atenção primária em maior grau.

Ele destacou a importância da gestão integrada dos dados, citando como exemplo o Sírio que, de acordo com ele, precisa cuidar de 200 mil vidas a partir de um modelo de atenção primária baseado em um sistema de gestão integrada das informações.

O superintendente enfatizou o cuidado com uso ético das informações, que utilizam dados sensíveis (como doenças). “O que preocupa é o uso ético dessas informações e o uso adequado somente por médicos, porque estamos falando de informações muito sensíveis”, salientou.

Sobre o uso do Business Intelligence (BI), ele defende um modelo em que “eu (gestor) não acesso o BI, o BI me acessa”, com alertas sobre pontos que devem corrigidos ou olhados mais de perto. Além disso, Torelly frisou que deve haver transparência do uso dos dados para de fato ajudar a gestão.

Torelly também defende investimento em uma auditoria externa dos dados, possibilitando às instituições publicarem indicadores com um selo de uma auditoria independente.

Débora Gonçalves

A gestora da equipe de BI da Unimed Porto Alegre explicou como é trabalhada a governança de dados e o impacto da LGPD para a Unimed Porto Alegre.

Ela citou como principais desafios o custo e o tempo de implantação de novas tecnologias, a integração segura e veloz entre plataformas de dados, desburocratização de dados, e o cuidado com a proteção de dados sensíveis, entre outros.

Gonçalves citou os marcos de inovação e transformação digital da história da Unimed Porto Alegre. Em 2020, a cooperativa criou a área de Business Analytics, lançou o MeuMédicOnline (telemedicina).

De acordo com a palestrante, a governança corporativa da Unimed Porto Alegre conta com um forte programa de integridade, estruturado com estatuto médico, ouvidoria, compliance, comitês, entre outros.

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A gestora explicou as medidas que a Unimed Porto Alegre tomou para se adequar à LGPD. Algumas das medidas: Foi definido o Data Protection Officer (DPO) para a cooperativa; foi contratada uma consultoria externa; realizado treinamento dos colaboradores; implementado termos de responsabilidade e confidencialidade do colaborador quanto ao uso dos dados.

“A Unimed tem dentro da governança todo o processo para que se tome decisões baseadas em dados consistentes. É assim que a Unimed se espelha quando fala em governança de dados”, diz.

Gonçalves explicou que o papel do Business Analytics na governança de dados se dá a partir da arquitetura da modelagem do data warehouse (armazém de dados), com disponibilização dos dados por meio de dashboards, uso de inteligência artificial para auditoria, análise e ações preditivas ainda no início de 2020 para enfrentamento da pandemia, etc.

Debate

Após as apresentações, foi realizado um debate entre os três palestrantes e o convidado Antonio Luiz Pinho Ribeiro (Coordenador da Rede de Telessaúde de Minas Gerais, e Coordenador de Pesquisa e Inovação do Hospital das Clínicas da UFMG – HC/UFMG), além de profissionais do HCPA.

Em formato de perguntas e respostas, foram aprofundados tópicos como a necessidade de um grande investimento em proteção de dados por hospitais e outros players da saúde; a necessidade de maior participação do segmentos da saúde junto à ANPD; os avanços que estão acontecendo atualmente em termos de inovação e uso de dados; assim como relatos e análises sobre o impacto da Covid-19 no setor da saúde brasileiro.

O debate pode ser assistido a partir do momento 1h 03 min:

 



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