Política | 24 de maio de 2018

O impacto das paralisações dos caminhoneiros nos hospitais e instituições de saúde do RS

Hospital de Clínicas de Porto Alegre relata problemas de abastecimento

A greve dos caminhoneiros que ocorre no Brasil coloca em alerta as instituições de saúde e os pacientes. Nesta quinta-feira (24), o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) informou que já está sofrendo com desabastecimento de alimentos, oxigênio e insumos de consumo diário. A Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FEHOSUL) está pedindo sensibilidade dos grevistas para que possam ser transportados normalmente medicamentos e outros insumos para uso de hospitais e demais centros de saúde. É preciso que os profissionais da área da saúde também consigam se deslocar de suas casas até estes estabelecimentos para garantir o atendimento aos pacientes.

De acordo com o HCPA, 120 entregas costumam ser realizadas na instituição diariamente, e apenas três ocorreram na quinta-feira (24). O fornecimento de alimentos perecíveis (leite, carnes, pães, frutas e verduras) é um dos principais problemas enfrentados. “Em função disso, a partir de amanhã (25) haverá mudanças no cardápio das refeições servidas à comunidade no Refeitório, com redução de alguns itens. Esta medida é indispensável para que seja possível manter a alimentação prescrita aos pacientes com o mínimo de alterações”, informa o Clínicas.

O HCPA acredita que os estoques existentes permitem a manutenção deste esquema de contingência até o próximo domingo (27). “Se até esta data o problema persistir, a partir de segunda-feira (28) o Refeitório precisará ser fechado”, alerta. O Clínicas informa que está enfrentando “sérios problemas” de fornecimento de oxigênio. De acordo com a instituição, “os estoques existentes devem durar até sábado e novas entregas não estão ocorrendo, já que o fornecedor está situado em Guaíba. O hospital está negociando, com apoio dos gabinetes de crise dos governos estadual e municipal, a possibilidade de escolta para que o produto chegue até a instituição”, frisa o HCPA.

O presidente da FEHOSUL, Dr. Cláudio Allgayer, afirma que é necessário ter solidariedade com casos excepcionais, como é o caso dos profissionais do segmento de saúde e da segurança pública. “É perfeitamente compreensível a paralisação em virtude da ´falta de compromisso´ de Brasília com a ´vida real´ dos brasileiros. Porém, devemos ter em mente que a saúde e a segurança das pessoas devem ser preservadas. Não queremos ver mortes em virtude do desabastecimento de medicamentos ou da falta de pessoal para prestar os serviços. Alimentos e remédios precisam ser entregues aos que estão passando por recuperação em nossos centros de saúde”.

Demais instituições

O Portal Setor Saúde entrou em contato com instituições de saúde do estado do RS. Até o momento, apenas o Clínicas relatou problemas de abastecimento. O Hospital Ernesto Dornelles (Porto Alegre) e o Hospital Tacchini (Bento Gonçalves), inclusive, informaram que já possuem estratégias de contingenciamento, caso o impasse persista. Por outro lado, preferiram não detalhar ainda o período que conseguirão manter os serviços sem problemas.

O Hospital Moinhos de Vento; Hospital Mãe de Deus; Grupo Hospitalar Conceição; Hospital São Lucas da PUCRS; Hospital Ernesto Dornelles; Hospital Tacchini (Bento Gonçalves); Hospital Virvi Ramos (Caxias do Sul); Hospital Divina Providência; e Hospital Santa Lúcia (Cruz Alta) também relataram que estão atendendo sem contratempos.

De forma geral, a preocupação é caso a greve se mantenha por mais de 48 horas. Alguns estabelecimentos estão reagendando as cirurgias eletivas para garantir o estoque por um período maior.

Porto Alegre

Em reunião realizada no Centro Integrado de Comando da Cidade de Porto Alegre (Ceic) na tarde da quinta-feira, 24, o Gabinete de Crise da prefeitura municipal de Porto Alegre avaliou os desdobramentos decorrentes da paralisação dos caminhoneiros, que está provocando a falta de combustível na Capital. Segundo a prefeitura, a área da Saúde não foi atingida até o momento. Umas das preocupações neste momento é em relação ao transporte público, já que pode afetar a chegada de profissionais aos estabelecimentos de saúde.

O transporte coletivo terá atendimento emergencial na Capital nesta quinta, 24. No horário de pico da tarde, entre 17h e 19h30, o serviço será normal, mas seguindo com viagens de hora em hora até 23h30. No intervalo entre 23h30 e 4h30, os ônibus não circularão.

O atendimento emergencial será repetido nesta sexta-feira, 25, começando às 4h30 e segue a tabela normal até as 8h30. Das 8h30 até as 17h, os ônibus operam de hora em hora. A partir das 17h até as 19h30, os ônibus operam em tabela normal. A partir das 19h30 até 23h30, os ônibus funcionarão de hora em hora.

O serviço de lotações segue nesta sexta-feira, 25, autorizado a transportar passageiros em pé e circularem nos corredores de ônibus fora dos horários de pico.

Brasil

A Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) – entidade da qual a FEHOSUL faz parte – afirma que a falta de combustível já afeta grande parte do estoque de medicamentos e insumos essenciais utilizados no dia a dia dos hospitais e demais estabelecimentos da saúde, com é o caso de gás medicinal, material anestésico, medicamentos, insumos para o tratamento da água, entre outros produtos, que são vitais para a manutenção dos serviços de saúde, bem como, para a segurança do profissional médico e do próprio paciente. Outra preocupação diz respeito ao funcionamento de grande parte das caldeiras utilizas no setor saúde que são movidas a óleo diesel. Os estabelecimentos de saúde não dispõem de grandes tanques de estocagem que venham permitir longos períodos de carência desse produto.

O presidente da CNSaúde, Tércio Kasten, destaca a preocupação do setor com o desabastecimento de serviços essenciais à população. “Se a greve persistir por períodos longos, a prestação de serviços de saúde sofrerá severas consequências, inclusive as ambulâncias de emergências, caso não seja garantido minimamente o seu abastecimento, causando a paralisia desse importante serviço à população. ”

Em seu site oficial e em suas redes sociais, a CNSaúde solicita que os manifestantes garantam o acesso prioritário dos veículos que transportam materiais médicos e o abastecimento dos tanques de armazenamento de óleo diesel de todos os estabelecimentos de saúde, pois as reivindicações desses manifestantes não devem colocar em risco o socorro e a prestação de serviço de saúde à toda a população brasileira.

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