Gestão e Qualidade | 22 de janeiro de 2016

Jejum menos rígido antes de cirurgia oncológica favorece recuperação do paciente

Menor tempo de jejum pré-operatório e alimentação precoce no pós-operatório
Jejum menos rígido antes de cirurgia oncológica favorece recuperação do paciente

A recomendação de jejuns rígidos e prolongados para pacientes que irão se submeter a cirurgias oncológicas não é mais adotada no Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus (ICMD). A quebra de paradigma é decorrência do trabalho da equipe multidisciplinar do ICMD integrada por nutricionistas, cirurgiões e intensivistas que, seguindo práticas internacionais, desenvolveu um protocolo com dietas mais flexíveis. São produtos à base de soluções enriquecidas com substratos energéticos de rápida absorção. O resultado é uma recuperação mais rápida, atenuação da resposta ao estresse da operação e alta precoce porque o paciente vai para a cirurgia com o organismo melhor preparado.

O gestor do Serviço de Cirurgia Oncológica, Dr. Márcio Boff, explica que o estudo europeu Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) permitiu líquidos claros (água, chá e sucos sem resíduos) até duas horas antes do procedimento cirúrgico. A American Society of Anestesiology (ASA) ainda inclui no seu protocolo para líquidos sem resíduos as bebidas carbonadas e sucos de frutas sem polpa.

Essa conduta abriu precedente para que alguns autores brasileiros estudassem a possibilidade de que soluções enriquecidas com substratos energéticos de rápida absorção não comprometeriam o esvaziamento gástrico – importante para evitar complicações durante a anestesia. As pesquisas demonstraram que o uso de uma solução de líquido enriquecida com carboidrato determinaria maior satisfação (menor sensação de fome), menor irritabilidade e aumento do pH gástrico. Especialmente, essa solução reduziria a resposta catabólica (alterações acentuadas do metabolismo) ao estresse cirúrgico. O resultado é uma melhora da recuperação pós-operatória.

“O que fizemos foi adequar as melhores práticas para a nossa instituição”, afirma dr. Boff. Esse trabalho começou a ser desenvolvido no Instituto do Câncer há cinco anos. Inicialmente houve a adoção do acompanhamento nutricional para preparar o paciente para a cirurgia. O objetivo é fazer com que ao se submeter a uma intervenção, ele esteja no seu “melhor momento nutricional”. Ou seja, reverte o quadro nutricional debilitado comum em quem precisa de uma cirurgia oncológica.

A terapia nutricional perioperatória integra os cuidados multidisciplinares e resulta em benefícios para o paciente. A nutricionista clínica do Instituto do Câncer, Maíra Pereira Perez, afirma que, convencionalmente, a adoção de jejum após operações se prolonga por um período de dois a cinco dias. Durante esse período, o paciente, geralmente, fica recebendo apenas hidratação venosa com um mínimo de calorias e sem oferta de proteínas, justamente na fase em que suas necessidades nutricionais estão aumentadas em decorrência do trauma operatório.

A nutricionista reforça que a realimentação precoce pode ser conduzida sem riscos e com potenciais benefícios para os pacientes tais como alta mais precoce, menor incidência de complicações infecciosas, menor resistência à insulina e diminuição de custos. Outra vantagem dessa prática é que proporciona mais alívio e conforto aos pacientes por estarem recebendo a dieta mais rapidamente. Como a orientação do nutricionista se estende ao pós-operatório, favorece a recuperação. Há casos, como cirurgias de esôfago, em que é possível reduzir em dois a três dias o período de internação que, em média, chega a alcançar 12 dias.

Com a expertise alcançada, o ICMD elaborou protocolos para definir a terapia nutricional no pré e pós-operatório que garantam o tempo adequado do jejum para pacientes submetidos às cirurgias oncológicas. Desde julho, essas práticas mais flexíveis são adotadas para cirurgias de trato gastrointestinal, abdominais, tórax, cabeça e pescoço. Assim, nas recomendações pré-operatórias de jejum, o paciente recebe um formulário com todas as orientações a serem seguidas. A última refeição (com líquido apropriado) poderá ser feita apenas duas horas antes da cirurgia.

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