Estatísticas e Análises, Mundo | 8 de junho de 2016

Estudo que aponta erro médico como a terceira causa de morte nos EUA é contestado

Consenso é de que o rastreamento de erro médico deve ser mais claro e apurado
Estudo que aponta erro médico como a terceira causa de morte nos EUA é contestado

Pesquisadores discordaram de uma publicação do British Medical Journal (BMJ) que aponta o erro médico como a terceira principal causa de morte nos EUA.

A referida pesquisa diz que o erro médico é a terceira principal causa de morte em os EUA, sendo responsável por 250 mil mortes a cada ano, de acordo com uma análise divulgada no início de maio. Como não existe um sistema para a codificação dessas mortes, os pesquisadores Martin Makary e Michael Daniel, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, usaram estudos (feitos a partir de 1999) para descobrir que os erros médicos são responsáveis ​​por mais de 9,5% de todas as mortes no país. Segundo eles, apenas doença cardíaca e câncer são mais fatais.

Em uma resposta à análise, também publicada no BMJ, o cientista Kaveh L Shojania, do Instituto de Pesquisa de Sunnybrook, e Mary Dixon-Woods, professora de pesquisas em serviços de saúde da Rand Corporation (empresa de pesquisa e análise dos EUA), escreveram que os resultados vieram de uma metodologia inadequada, informal e mal interpretada de quantas pessoas efetivamente morrem anualmente por erro médico.

A resposta argumenta que a metodologia da análise era “precária”, porque extrapolava evidências de taxa de mortalidade e o uso de estudos com metodologias diferentes comparados com as principais causas de mortes. Os especialistas também disseram que eles “e muitos clínicos e pesquisadores” consideraram os números difíceis de acreditar, porque ocorrem em torno de 700 mil mortes nos hospitais a cada ano, o que significaria que um terço das mortes (⅓) em hospitais foram causados ​​por erro médico.

A análise calculou as mortes por erro médico porque a classificação internacional de doenças (ICD, na sigla em inglês) da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a codificação de mortes, – utilizada em 118 países, entre eles EUA e Brasil – não inclui uma codificação para erro médico. Na resposta à análise, os pesquisadores também fizeram o seu próprio cálculo sobre as mortes por erro médico analisando estudos anteriores sobre o tema. Pelos novos cálculos, em torno de 25.200 mortes por ano são potencialmente evitáveis. Ou seja, 10% da estimativa do estudo inicial.

Os autores da resposta afirmaram que estavam preocupados que o estudo alarmava de forma demasiada o erro médico, perdendo sua nuance na segurança do paciente, vinculando a prática da medicina a mortes. “Assim como a maioria das mortes não envolvem erro médico, a maioria dos erros médicos não leva ao óbito – mas eles ainda podem produzir substancial morbidade, aumentar custos, sofrimento e angústia”, reiteram os autores.

Os críticos do estudo ainda disseram que concordam com os autores da análise sobre um ponto: “Eles dizem que ‘métodos científicos, começando com uma avaliação do problema, são essenciais para se aproximar de qualquer ameaça à saúde aos pacientes’. Infelizmente, o levantamento não dá exemplo sólido de tais dados científicos”, conclui a resposta assinada por Kaveh L Shojania e Mary Dixon-Woods.

Os autores do estudo que iniciou a celeuma – com grande repercussão na imprensa norte-americana -, reconheceram que o erro humano é inevitável e que essas mortes não são necessariamente sempre culpa dos médicos. No entanto, eles disseram que a informação mostra que há espaço para instituir um sistema de monitorização mais clara para o rastreamento de erro médico, que poderia informar a concepção de sistemas mais eficazes e mais seguros.

 

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