Estatísticas e Análises | 19 de novembro de 2015

Devemos confiar nas recomendações de idade para triagem de câncer?

Artigo do American Journal of Managed Care questiona o momento de iniciar os exames preventivos
Devemos confiar nas recomendações de idade para triagem de câncer

Pesquisas e orientações históricas do rastreio do câncer são incompatíveis, afirmam novas evidências. A American Cancer Society lançou, recentemente, orientação que aconselha as mulheres a esperar um pouco mais (cinco anos) para iniciarem os exames de mamografia, caso tenham um risco médio de desenvolver câncer de mama.

Agora, novos elementos apresentados pela European Association of Urology também colocam em cheque o rastreio precoce recomendado para o câncer de próstata em homens. “Acreditamos que [os dados] tornam mais claro que a maioria dos benefícios do rastreio só aparecem após os 55 anos”, diz o autor do estudo Leonard Bokhorst, médico da Universidade Erasmus, na Holanda.

Como lembra um artigo do The American Journal of Managed Care, um longo estudo retrospectivo, apresentado no Encontro Multidisciplinar Europeu sobre Cânceres Urológicos em Barcelona, ​​acompanhou mais de 6.822 homens até a idade de 75 anos depois que eles foram diagnosticados com câncer de próstata entre 55 e 59 anos de idade, utilizando o Antígeno Prostático Específico (PSA). A triagem inicial mostrou que 189 em toda a coorte (6.822) tinham câncer de próstata, 40 dos quais morreram até o final do período de estudo. Assim, apenas cerca de 0,6% dos homens poderiam ter se beneficiado de rastreio precoce, enquanto os restantes (99,4%) poderiam ter diagnósticos falso-negativos, tratados de forma excessiva, e teriam que enfrentar efeitos colaterais desnecessários oriundos do tratamento, como incontinência urinária e impotência sexual. “Isso nos leva de volta para a discussão benefício versus danos”, salienta o The American Journal of Managed Care.

Bokhorst explica que os dados populacionais na Holanda sugerem 205 mortes no grupo em estudo, ou seja, “no máximo 10% a 20% de todas as mortes por câncer de próstata esperadas, podem ser evitadas com o rastreio prévio. Os 80% a 90% restantes não se beneficiam da triagem como ocorre na triagem a partir de 55 anos de idade (como realizado no estudo)”.

“Nos EUA, a Força Tarefa de Serviços Preventivos (Preventive Services Task Force – USPSTF) aplica um grau D para a triagem de homens através do PSA para câncer de próstata, citando que os potenciais malefícios são maiores do que os benefícios. Os resultados falso-positivos, de acordo com a USPSTF, pode levar a exames de acompanhamento que podem causar efeitos secundários injustificados, tais como febre, infecção, hemorragia, problemas urinários e dor. Além disso, o tratamento após o teste de PSA pode resultar em impotência, incontinência urinária, problemas com o controle intestinal (depois da radiografia), entre outros”, alerta o artigo.

A USPSTF, que está trabalhando na atualização de suas diretrizes de triagem para os homens sobre o câncer de próstata, recomenda considerar o histórico familiar da pessoa, o estilo de vida e uma consulta com um profissional de saúde para se informar dos riscos esperados antes de decidir sobre triagem e tratamento.

A American Cancer Society acrescenta que, enquanto os homens devem iniciar essa conversa com o médico na idade de 50 anos, aqueles pacientes que têm histórico familiar de câncer de próstata (especialmente um pai ou irmão que tiveram a doença antes dos 65 anos) devem procurar consulta com especialista por volta dos 45 anos.

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