Gestão e Qualidade, Política | 25 de junho de 2020

Covid-19: As impressões do gestor público, do privado e do político

Debate promovido pelo CBEXs reuniu a CEO do BP, Denise Santos, o deputado Pedro Westphalen e o secretário de Saúde de SP, José Henrique Germann
Covid-19 as impressões do gestor público, do privado e do político

Como integrar a ótica do Gestor Público, do Privado e do Político em meio à crise gerada pela pandemia da Covid-19? Este foi o tema central do evento nacional do Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde (CBEXs), que reuniu Denise Santos (CEO da BP, Beneficência Portuguesa de São Paulo); Pedro Westphalen (Deputado Federal e Médico); e José Henrique Germann (Secretário de Saúde do Estado de São Paulo). Larissa Eloi, diretora executiva da CBEXs conduziu os debates do webinar realizado na quarta-feira (24).

Os convidados falaram sobre o atendimento de pacientes que interromperam a ida ao hospital – gerando uma segunda onda diferente; as demandas do setor e o papel das entidades representativas; a necessidade de previsibilidade e mudança do clima político; o momento ideal para empreender mudanças na saúde nacional; os 4 P´s da responsabilidade individual de cada cidadão com a saúde ; as ações adotadas na Secretaria de Saúde de São Paulo e a previsão da chegada da vacina, dentre outros temas. Confira.

Adaptação ao desconhecido e uma segunda onda diferente

Denise Santos ressaltou que a pandemia exigiu um enorme trabalho de adaptação ao desconhecido. “Da noite pro dia, tivemos que nos reinventar na gestão de crise. Da noite pro dia, pacientes de outras patologias desapareceram do hospital. Atualmente as pessoas estão preocupadas com uma segunda onda, mas vai vir uma onda de pacientes que deixaram, por insegurança, por medo, de cuidar da sua saúde, sejam doenças crônicas cardiológicas ou como patologias de oncologia, neurológicas. A gente sabe que vai vir uma onda diferente, daquilo que não pudemos cuidar nesse período.” Segundo a CEO do BP, a tendência é que esses pacientes voltem com patologias agravadas. “Isso nos preocupa um pouco, mas não tenho dúvida de que o setor está bastante preparado para isso”, disse.

A intensidade exigida para dar resposta em curto espaço de tempo ajudou a desenvolver a colaboração entre o público e o privado, segundo Denise Santos. “Está claro que o sistema de saúde tem que conversar, colaborar e ter discussões mais aprofundadas. Nós tivemos muitas discussões e aprendizados em conjunto”, diz. Denise Santos entende que uma das oportunidades deste momento é começar um processo que pense a saúde como uma só, em busca de uma maior integração colaborativa.

A CEO da BP acredita que todos, cidadãos e instituições, sairão  fortalecidos da crise. “Acredito que a confusão maior está ficando para trás. Claro que há sempre a insegurança da reabertura, mas estamos vendo o que está acontecendo na Europa, no Oriente, etc, a gente vai conseguir seguir o mesmo caminho… estamos muito melhor hoje do que se estivéssemos fazendo esta conversa um mês atrás”, externou Denise Santos.

Representação do segmento

Para o médico e dirigente hospitalar, deputado federal Pedro Westphalen, a pandemia evidenciou a importância do setor da saúde e do trabalho das entidades representativas, como a CNSaúde, ANAHP, FBH e CMB, assim como o CBEXs, que congrega executivos da saúde e lideranças de diferentes segmentos do setor. Sobre o trabalho no Congresso, Westphalen acredita que o setor da saúde tem conseguido gerar uma despolitização, já que partidos historicamente opostos, se uniram para votar medidas urgentes.

O deputado gaúcho, porém, destacou que a pandemia escancarou o descaso com a saúde, onde as desigualdades e os erros do passado se tornaram evidentes. “Se por um lado demonstrou o papel importante do SUS, de outro, trouxe à tona o grave problema do subfinanciamento.”

Pilares

Conforme Westphalen, é de certa forma positivo que tenha aparecido esta carência, pois “ficou demonstrado que esse diagnóstico deve ser tratado. É importante que, a partir desta crise, municípios, estados e o País foquem naquilo que não foi feito no passado. Nós temos que defender e consolidar o SUS e seu crescimento em cima de quatro pilares: qualidade, acesso, gestão e o adequado financiamento. ”

Para Westphalen, é o momento de exigir que a eficiência de resposta da saúde suplementar, seja replicada no SUS. E defendeu uma ampla organização dos segmentos que integram a saúde nacional. “O sistema de saúde é muito mais do que SUS. Agora chegou o momento de voltar a investir em pesquisa, trabalhar com a  indústria nacional para diminuir a dependência ao mercado externo, tanto de insumos como de medicamentos”, defendeu.

Clima político

O deputado lamentou a falta de previsibilidade e as trocas constantes de ministros, e disse que o “Brasil precisa se pacificar”, para enfrentar “um inimigo muito poderoso [o coronavírus], do qual conhecemos ainda pouco e não sabemos todas as suas potencialidades.”

Na visão de Westphalen o Congresso e o Senado têm sido ágil nas respostas. O deputado citou a Lei 13.992, de sua autoria, que suspendeu por 120 dias, a contar de 1º de março de 2020, a exigência de metas quantitativas e qualitativas estabelecidas em contratos de prestadores de serviços no âmbito SUS. “A Lei está garantindo a certeza do repasse mensal às instituições filantrópicas do país, além de hospitais privados e milhares de clínicas e laboratórios que também prestam serviços assistenciais no âmbito do SUS. A Lei tem impacto na manutenção dos serviços e na manutenção dos empregos, vitais para o enfrentamento desta crise… agora vamos tentar prorrogar este período, já que a situação epidêmica da Covid-19 ainda está forte, exigindo enormes esforços assistenciais para evitar quadros graves e mortes. Os demais atendimentos estão voltando de forma muito tímida, portanto, os hospitais não conseguirão atingir as metas”, explicou Westphalen.

Momento para melhorar a saúde

Westphalen ressaltou que é neste momento de pandemia que as demandas do setor devem ser apresentadas, ou mais uma vez, a saúde voltará ao esquecimento. “Minha percepção é que voltará a ocorrer o que sempre aconteceu, teremos a saúde relegada a um segundo plano. Eu como médico, do setor representativo da saúde, entrei na política para isso, para mudar este panorama. Vejo que se não tivermos a nossa voz atendida agora, a situação voltará a ser aquela de antigamente, uma saúde sem recursos e sem a atenção que merece”, defendeu.

Após a fala de Westphalen, Denise Santos aproveitou para destacar a necessidade de o setor público desburocratizar os seus processos e começar a utilizar a tecnologia e as vantagens do uso de dados e da tecnologia a seu favor. “Nós estamos entrando em julho e um simples documento de formalização de contratualização de leitos para auxílio à pandemia, a gente não consegue… ainda estamos com processos que não combinam mais com o momento [tecnológico do mundo].” Para a executiva do BP, este é um momento para reivindicar soluções aos entraves do setor. “É hora de colocarmos muita mão na massa e discutirmos os problemas prioritários da saúde”, concordou.

Em medicina não existe sempre e nem jamais

Para o secretário estadual de saúde de São Paulo, José Henrique Germann, é preciso, neste momento ter coragem, mas principalmente esperança. “O problema que causa todas as questões que estão postas é pertinente à epidemia, não à quarentena…em medicina não existe sempre, nem jamais, assim como não é possível estabelecer datas. O que nós precisamos para que essa esperança aconteça é em primeiro lugar ser transparente, para que todos os elementos que sejam importantes para dar a informação apareçam. Onde nós estamos pisando e para onde nós estamos indo”, disse.

Covid-19 As impressões do gestor público, do privado e do político_

Se ainda não existe vacina ou medicamento, existem ferramentas

Segundo Germann, três eixos baseiam o trabalho implementado pelo governo de São Paulo: epidemiológico, assistencial e de comunicação. “Primeiro [eixo]: conhecer o vírus, sua velocidade, conhecer a doença. O segundo é assistencial: que condição nós tínhamos que ter, planejadas e obviamente executadas para que a gente não tivesse um grande número de óbitos, e ainda, para o que chamamos de achatamento da curva. O terceiro eixo é o da comunicação: transparência, informações corretas e levar para população uma possibilidade de que isso vai passar. Levando para a população que não existe vacina ou medicamentos, mas que existe ferramentas, como isolamento social, uso de máscaras, higiene pessoal”, explicou.

Na parte assistencial, Germann diz que o governo conseguiu duplicar os leitos de UTI dedicados exclusivamente para pacientes Covid.

4 P´s da responsabilidade com a saúde

Denise Santos defendeu que o cuidado com a prevenção tem elementos que precisam ser distribuídos em termos de responsabilidade individual da saúde. “Estamos falando de estilo de vida, como você conduz a sua vida. Dento da BP temos discutido muito isto, dentro destes 4 P´s, que são: predição, prevenção, personalização e participação. ” Para a CEO da BP, é preciso investir em uma atenção integral, mais personalizada às decisões que impactam a vida da pessoa, com um enfoque forte na educação sobre o seu estilo de vida.

Vacina em janeiro

Neste momento, para Germann, a melhor notícia seria a descoberta de um tratamento já utilizado para outras doenças, já que poderia ser utilizado de forma mais imediata. Ele avalia que uma vacina ainda tende a demorar. A de Oxford, ele ressaltou que está em andamento uma parceria com a Unifesp. Em outra frente, o governo de São Paulo anunciou no dia 11 uma parceria entre o Instituto Butantan e a Sinovac Biotech, farmacêutica chinesa. Sobre esta vacina o secretário disse que em 1º de julho já inicia os ensaios clínicos com 9 mil pessoas.

“Já existem 17 laboratórios distribuídos pelo país que serão responsáveis por aplicar a vacina e depois fazer as consultas, desde o momento da aplicação até a conclusão dos estudos a respeito de quais foram os resultados obtidos. A fase de segurança da vacina já passou, que fica na fase I e II. E agora é a fase da efetividade e eficácia, a III. Começaremos em julho a seleção dos 9 mil pacientes. Metade deles receberão vacina e metade deles placebo. De fato, teremos [provavelmente] a vacina, em janeiro”, disse Germann.

Próximo evento: Saúde a Força de Trabalho Pós Pandemia

O próximo WEBINAR CBEXs Nacional, que acontecerá dia 01 de julho, às 17h30, discutirá com grandes líderes da Saúde a Força de Trabalho Pós Pandemia.  Os convidados especiais são: Adelvâneo Morato, Presidente da Federação Brasileira de Hospitais – FBH, Daniel Greca,  Líder de Healthcare na KPMG Brasil e Luís Fernando Vieira Joaquim, PMP, Sócio de Life Sciences e Healthcare Industry na Deloitte Brasil.  Para se inscrever, acesse aqui.

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