Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Gestão e Qualidade | 26 de dezembro de 2016

Como se sentir menos pressionado pelo tempo

Solução pode ser surpreendente: "ganhar tempo oferecendo o nosso tempo"
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O sentimento de que se está em uma constante corrida contra o relógio para fazer as coisas é cada vez mais comum. E uma possível solução para esse problema pode parecer estranha, mas surpreendentemente eficaz: dedique algum tempo para os outros. Mesmo para aqueles que trabalham na área assistencial em hospitais, clínicas e laboratórios – já dedicam tempo para ajudar os outros – , as dicas podem ser úteis, já que o tempo gasto no trabalho se relaciona às tarefas que invariavelmente se repetem num mesmo ambiente. Diferente daquelas em que mudamos nossa rotina, e descobrimos novas sensações.

Como avalia um artigo do The Wall Street Journal, assinada por Cassie Mogilner Holmes (professora na Anderson School of Management, da Universidade da Califórnia – UCLA) e Michael Norton (professor da Harvard Business School), “pesquisadores dizem que o tempo gasto com outras pessoas aumenta a sensação de abundância de tempo, melhorando a auto-eficácia, ou a sensação de ser capaz de realizar tudo o que nos propusemos a fazer”.

Embora possa parecer contra-intuitivo sacrificar um pouco do seu tempo – justamente aquilo que você acha que não tem o suficiente –, a pesquisa mostra que “dar um pouco de tempo” pode, de fato, fazer com que as pessoas se sintam menos pressionadas e mais capazes de cuidar de coisas que estão fora de suas listas de afazeres cotidianos..

Nos EUA, essa carência de tempo já fez com que estudiosos falem em uma “fome por tempo” (time famine). O tema, como lembra o jornal norte-americano, levanta duas questões importantes:

Quando as pessoas se sentem pressionadas pelo tempo, quais atividades são mais prováveis de serem renunciadas? E, poderiam essas atividades que as pessoas estão dispostas a cortar mais imediatamente, ser as que mais presumivelmente ajudariam a curar a essa fome por tempo?

“Descobrimos que quando as pessoas estão se sentindo com limitações de tempo, elas apertam o cinto e se concentram em si mesmas e deixam de se concentrar sobre os outros, e o que está ao redor. Na verdade, sentir essa pressão do tempo pode significar deixar de aproveitar oportunidades e pedidos para ajudar os outros, uma vez que exigiria que a pessoa diminuísse seu ritmo”.

Um antigo estudo, publicado em 1973 no Journal of Personality and Social Psychology, (chamado From Jerusalem to Jericho: A study of situational and dispositional variables in helping behavior), analisou variáveis do comportamento solícito.

Os resultados mostraram que “mesmo as pessoas as quais se esperaria estarem entre os mais compassivos (estudantes seminaristas), literalmente se afastaram de um homem que tossia e claramente necessitava assistência quando eles foram informados de que estavam atrasados para a próxima parte do estudo e precisavam se apressar. Faz sentido que quando nos falta tempo suficiente para nós mesmos, nós cortamos o tempo disponível para os outros e direcionamos esse recurso escasso para onde mais precisamos”.

O melhor remédio

Apesar da tendência das pessoas em acumular horas quando sente que tem limitações de tempo, pesquisas já demonstraram que se permitir ter um pouco de tempo disponível pode ser, de fato, o melhor remédio.

Um trabalho em conjunto entre a UCLA, a Harvard Business School e a Universidade Yale, instruiu as pessoas participantes a passar um tempo, durante um sábado, fazendo algo para si ou ajudando alguém. “No final do dia, os acompanhamos até descobrir como eles gastaram seu tempo, e como isso impactou seus sentimentos em relação à fome de tempo”.

Entre os que foram instruídos a gastarem um tempo com algo pessoal, alguns optaram por um banho de espuma ou pedicure, outros foram fazer uma corrida ou se envolveram com um livro, enquanto outros se ocuparam com itens de sua lista de tarefas (o que deveria fazê-los se sentirem com mais tempo, porque há menos coisas para fazer).

“Para aqueles participantes instruídos a gastarem tempo com outros, as atividades variaram entre fazer um jantar especial para a esposa, ajudar o vizinho a limpar a varanda, juntar o lixo em um parque do bairro, entre outras. Uma pessoa escreveu uma carta à sua avó, que estava se sentindo solitária desde a morte de seu avô”, revelou o artigo.

Os resultados foram claros. Independentemente de como as pessoas especificamente gastaram seu tempo, seja consigo ou com outra pessoa – ou até mesmo quantos minutos eles passaram –, aqueles que passaram algum tempo com outros relataram sentirem-se como se tivessem mais tempo do que aqueles que passaram algum tempo fazendo alguma coisa para si.

Também foram analisados os benefícios de doar tempo em um padrão ainda mais rigoroso: recebendo um pouco de tempo livre inesperado. No final de uma sessão de laboratório, algumas pessoas foram designadas a passarem 15 minutos ajudando estudantes universitários a editarem seus ensaios de aplicação, enquanto outros foram autorizados a deixarem a sessão mais cedo – recebendo um “bônus de 15 minutos” em seu dia. Aqueles que passaram um tempo ajudando os outros posteriormente relataram terem mais “tempo livre” do que aqueles que receberam 15 minutos sem tarefas.

Um impacto tangível

Por que o tempo gasto em outros alivia o estresse do tempo, quando a intuição poderia sugerir que uma massagem ou um tempo ocioso poderia ser mais benéfico?

Como se constata, o foco em si não altera a auto-eficácia. “Massagens são agradáveis, com certeza, mas elas não conseguem aumentar o nosso sentido de sermos capazes de fazer as coisas. E assim como concluir um item ou dois na nossa lista de coisas a fazer tem o potencial de gerar a sensação de tarefa feita, também pode simplesmente servir como um lembrete dos 31 itens restantes ainda na lista”, considerou o The Wall Street Journal.

Por outro lado, ajudar os outros faz com que as pessoas sintam que tiveram um impacto específico, tangível – a varanda do vizinho está limpa, ou a avó está animada – e esse sentimento diminui o estresse de não ter tempo suficiente. E oferecer seu tempo gera outros benefícios, sendo essa doação – o voluntariado – associada a um maior bem-estar.

Se sentir pressionado pelo tempo aumenta o estresse e diminui a felicidade. “A pesquisa sugere que relaxar para poder ajudar os outros pode, realmente, atrasar o relógio. Podemos, de fato, ganhar tempo oferecendo o nosso tempo”, conclui o artigo.

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