Mundo | 28 de abril de 2016

Banco de sangue do Canadá cogita instituir pagamento para doadores

Coleta de plasma para fazer medicamentos está se tornando um grande negócio
Banco de sangue do Canadá cogita instituir pagamento para doadores

A Canadian Blood Services, organização sem fins lucrativos que administra o abastecimento de sangue em todo o território canadense, quer coletar uma maior quantidade de plasma e, para isso, o CEO Graham Sher não descarta a possibilidade controversa de pagar para os doadores, de acordo com reportagem da CBC News. No Canadá, cada cidade pode determinar a legalidade ou não de iniciativas deste tipo.

O CEO diz que o ideal é expandir a coleta de plasma por meio de doadores voluntários, mas ressalta que isso talvez não gere um volume suficiente. Estas considerações aumentam a controvérsia sobre a ética de pagar por produtos sanguíneos, o que contraria as recomendações da Comissão Krever, um antigo inquérito canadense que averiguou, na década de 1980, um escândalo relacionado a sangue contaminado.

A ideia não agrada Michael Decter, que esteve à frente das investigações na época (primeiro como ministro da Saúde adjunto de Ontário, depois como conselheiro da Comissão Krever). “Eu faria tudo ao meu alcance para alterar essa decisão”, afirmou. “Acredito que a decisão não corrobora com a opinião da população” disse Michael.

O caminho aventado para recolher mais plasma é uma mudança de paradigma para a Canadian Blood Services, que teve unidades de coleta de plasma fechados ao longo dos últimos anos. A agência antecipa uma demanda crescente por produtos de plasma para tratar uma série de doenças imunológicas e de sangue – a decisão de tentar recolher mais material reflete o valor crescente dessa matéria-prima.

O debate ganhou notoriedade porque a primeira clínica de coleta paga do Canadá abriu na cidade de Saskatoon, oferecendo aos doadores um cupom de $ 25 dólares canadenses (cerca de US$ 20 ou R$ 70,00 na cotação de hoje, dia 28/04/16) em troca de seus produtos do sangue. Para atrair doadores a clínica, administrada pela empresa chamada Canadian Plasma Resources, colocou anúncios em banheiros da Universidade de Saskatchewan, convocando os estudantes e dizendo que os doadores qualificados serão compensados.

O apelo tem levantado preocupações. “Há questões éticas sobre quem acaba vendendo seu plasma e o que isso gera para a sua saúde e bem-estar geral”, alertou Ryan Meili, um médico de família de Saskatoon, para a CBC News.

A Canadian Plasma Resources tentou, sem sucesso, abrir clínicas semelhantes em Toronto em 2014. A empresa ainda criou uma “força tarefa” chamada Ontario Plasma Coalition, para tentar influenciar nas eleições regionais de 2014. Registros das eleições de Ontario mostram que a empresa gastou mais de US$ 200 mil em publicidade de candidatos para promover a coleta privada de plasma, constituindo-se em um dos 10 maiores investidores em publicidade durante aquela eleição.

“A Ontario Plasma Coalition surgiu apenas para promover uma indústria de plasma em Ontário durante a eleição de 2014″, disse o CEO da empresa, Barzin Bahardoust. “Não teve sucesso e não é mais operacional”, garantiu. Depois de Ontário aprovar uma legislação para proibir o pagamento a doadores de plasma, a empresa guardou seus equipamentos e se mudou para Saskatchewan, onde o governo prometeu que não iria aprovar uma lei similar à de Ontário.

Bahardoust confessa, no entanto, que o objetivo da empresa ainda é “criar 10 centros semelhantes a este em todo oeste do Canadá e, possivelmente, nas províncias atlânticas do país”. O modelo de negócio da empresa está desafiando uma antiga tradição do Canadá, que se opõe à venda de qualquer parte do corpo humano, incluindo esperma, óvulos, embriões e produtos sanguíneos. Mas a coleta de plasma para fazer medicamentos para doenças imunológicas e sanguíneas está se tornando um grande negócio.

Uma vez que a Canadian Blood Services coloque em prática seus planos para começar a recolher plasma de doadores, poderia surgir uma indústria de plasma. No momento, não há nenhuma instituição licenciada para transformar plasma coletado em terapias de droga, mas isso está prestes a mudar. Graham Sher disse que duas empresas privadas estão prestes a entrar no negócio. A Canadian Plasma Resources planeja vender os produtos (plasma) colhidos em Saskatchewan a uma empresa alemã (Biotest AG) para processamento, antes de o produto finalizado retornar para o Canadá.

Aqueles que são a favor de pagamento a doadores apontam que produtos de plasma usados ​​pelos canadenses já estão sendo feitas com plasma de doadores remunerados dos EUA. Já os críticos dizem que isso não é motivo suficiente para mudar uma longa tradição nacional de doações voluntárias.

No Brasil, receber dinheiro pela doação de sangue é proibido. Qualquer doação deve ser voluntária.

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