Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Gestão e Qualidade, Tecnologia e Inovação | 30 de abril de 2015

Pesquisa faz mapeamento de como e onde as bactérias se desenvolvem dentro de hospitais

Cada sala tem seu próprio microbioma
Mapeamento de como e onde as bactérias se desenvolvem dentro de hospitais

Em uma nova abordagem para reduzir infecções hospitalares, uma equipe de cientistas está testando milhares de amostras de micróbios do Hospital Universitário de Chicago, na tentativa de entender melhor como um estabelecimento pode diminuir a incidência de infecções.

O Hospital Microbiome Project reuniu dados – que ainda estão em análise – durante três anos. O projeto do hospital de Chicago é considerado, até o momento, como o esforço mais abrangente orientado para o estudo da vida microscópica de um grande centro médico.

Os pesquisadores têm encontrado evidências de que ventilação, umidade, e características de design (como móveis e utensílios), afetam a proliferação dos diferentes tipos de bactérias encontradas em um hospital. As informações serão usadas para criar soluções para reduzir o surgimento das temidas bactérias resistentes a antibióticos, manipulando as condições dos ambientes hospitalares.

Eles também esperam, eventualmente, tornar o próprio edifício hospitalar um elemento de cura probiótica (organismos vivos que conferem benefício à saúde do hospedeiro), talvez através de paredes ou móveis com bactérias que melhoram a saúde do paciente. A principal autora do estudo, Emily Landon, da University of Chicago’s New Center for Care and Discovery, disse ao The Wall Street Journal que projeta “um futuro distante onde usaremos bactérias para nos proteger das bactérias que nos prejudicam. Nós poderíamos fazer do próprio hospital um tratamento para o paciente”.

De acordo com uma pesquisa anual feita pelo órgão norte-americano, Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), com 14.500 hospitais, instituições têm se esforçado para reduzir infecções contraídas após os pacientes se internarem. As medidas incluem normas mais rígidas de esterilização, uso mais cuidadoso de antibióticos e maiores níveis de atenção na higiene.

Ainda assim, todos os dias, cerca de um em cada 25 pacientes é diagnosticado com alguma infecção contraída durante o atendimento hospitalar. Isso gera um custo superior a US$ 36 bilhões por ano e matam, em média, 75 mil pessoas nos EUA.

Mais da metade das infecções hospitalares são causadas por bactérias que se desenvolvem nos ambientes hospitalares. Alguns são encontrados em cateteres, mesmo com higiene rigorosa; outros contaminam áreas cirúrgicas inadequadamente esterilizadas. Mais de um terço das infecções são causadas por profissionais que não lavam as mãos corretamente ou que se esquecem de adotar esta medida regularmente. Alguns dos patógenos hospitalares (vírus, bactérias e parasitas) vivem tanto em seres humanos como em equipamentos médicos.

O projeto decorre da crescente consciência de que cada um de nós abriga uma coleção única de uma centena de trilhões de micróbios em nossos corpos. Esta comunidade de bactérias – microbioma – influencia a nossa saúde, humor, hábitos alimentares e padrões de sono de maneira que os cientistas estão começando a entender.
Uma pessoa normalmente despeja cerca de 37 milhões de bactérias a cada hora no ar ou sobre superfícies tocadas. “Deixamos nossos micróbios em todo o lugar”, lembrou o biólogo James Meadow, da Universidade de Oregon, que em 2014 analisou os micróbios que habitam um hospital de 155 quartos. Cada edifício parece ter seu próprio microbioma, dependendo de como ele é construído e utilizado e dos tipos de serviços operados.

Nos hospitais, o ar que os pacientes respiram, reciclados através de sistemas de aquecimento e de ar condicionado, concentram bactérias e pessoas com potenciais agentes patogênicos. Já em quartos com janelas abertas, o ar consegue circular, o que é benéfico para precaver infecções.

Estudos recentes descobriram que as bactérias que gostam de umidade e vivem em chuveiros, têm potenciais agentes patogênicos bem diferentes dos micróbios encontrados em cortinas de chuveiro, mesmo estando extremamente próximos. Bactérias resistentes a antibióticos podem viver por até uma semana em alguns tecidos comuns, enquanto outros como o estreptococos podem sobreviver por meses em uma superfície seca.

Cerca de metade dos pacientes de hospitais norte-americanos tomam um medicamento antimicrobiano durante a sua internação. Metade deles recebem dois ou mais. As drogas podem matar, mas bactérias se tornam mais resistentes, que por sua vez, geram gerações de bactérias ainda mais resistentes. Como antibióticos de amplo espectro matam também bactérias normais do corpo de um paciente, abre caminho para agentes patogênicos que já estão no quarto ou no leito, segundo os especialistas.

Os microbiologistas e especialistas em controle de infecção que trabalham no projeto recolheram dados de DNA enquanto a unidade hospitalar da universidade estava em construção, catalogando bactérias provavelmente trazidas por terra, vento, água, materiais de construção ou trabalhadores. Quando o hospital abriu oficialmente suas portas, em fevereiro de 2013, os investigadores identificaram uma mudança na vida microscópica do edifício.

“Durante a noite, o edifício tornou-se um novo ser vivo com todas as bactérias humanas”, disse o microbiologista ambiental Jack Gilbert, outro coordenador do projeto. “O microbioma aumentou repentinamente na diversidade e em complexidade. Houve maior variação entre diferentes setores do edifício”.

No ano seguinte, pesquisadores se concentraram em cinco quartos de pacientes no nono andar do hospital e cinco quartos no 10º andar. Eles instalaram sensores para coletar informações sobre uma série de medidas ambientais que afetam o modo como as bactérias crescem. Todos os dias, eles coletaram amostras de DNA de camas, grades de cama, água, ar, telefones da sala e outras superfícies, bem como de pacientes, enfermeiros e outros funcionários.
Normalmente, pessoas entravam e saíam das salas diversas vezes por dia, arrastando plumas invisíveis de bactérias. Algumas superfícies das salas continham milhares de tipos de bactérias, outras tinham apenas algumas centenas. Poucas horas depois da chegada de um novo paciente, no entanto, novas bactérias se espalham por toda a sala, misturando-se com as já presentes, criando um novo e único microbioma.

Os executores dos projeto acreditam que a iniciativa criará uma série de novas práticas de controle de infecção. Acesse o site (em inglês) do projeto no link (http://hospitalmicrobiome.com/).

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