Estatísticas e Análises | 12 de setembro de 2016

Profissionais que atuaram no 11 de setembro ainda apresentam problemas de saúde

Efeitos dos atentados na saúde de bombeiros vem aumentando ao longo dos últimos 15 anos
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Após os ataques contra o World Trade Center (WTC) de 11 de setembro de 2001, o departamento de bombeiros de Nova York (FDNY, na sigla em inglês) iniciou um acompanhamento médico e um programa de tratamento e estabeleceu um centro de dados para registrar os resultados de saúde a longo prazo dos 16 mil bombeiros e trabalhadores de serviços de emergência médica expostos ao atentado, ou que trabalharam nos momentos iniciais da recuperação.

Através de comparações de informações médicas de antes e depois dos ataques, questionários e análises de pesquisas, uma equipe liderada por Jennifer Yip, do Departamento de Medicina do Montefiore Medical Center, chegou a conclusões sobre quais profissionais foram mais afetados por doenças e complicações. Os resultados foram publicados no American Journal of Industrial Medicine.

Como ilustra o portal Medscape, “ os sintomas ou diagnósticos de condições de saúde respiratórios foram raros no grupo antes do 11 de setembro, mas a partir 2015 quase metade (47,2%) do grupo do FDNY que atuou no resgate/recuperação, tiveram pelo menos um dos seguintes diagnósticos: doença obstrutiva das vias aéreas, rinossinusite crônica, ou doença do refluxo gastroesofágico”.

O estudo afirma que “a maioria dos pacientes experimentou um declínio sem precedentes na função pulmonar logo após o 11 de setembro e continua sem mostrar qualquer recuperação ou apenas uma recuperação parcial até 14 anos mais tarde”.

Em geral, aqueles que presenciaram os ataques naquela manhã, em oposição àqueles que estiveram lá à tarde ou nos dias e semanas seguintes, tiveram os piores resultados físicos e mentais, segundo o estudo.

Os resultados incluem os seguintes dados:

Doença do refluxo gastroesofágico: Antes do 11 de setembro, apenas 5,2% dos bombeiros do FDNY relataram sintomas (refluxo ácido, dor de garganta, queimação/aperto no peito, dificuldade para engolir). No primeiro ano pós-atentado, 41% relataram sintomas, sendo a dor de garganta o mais prevalente (61%). Em 2015, a prevalência de diagnósticos médicos foi de 28%.

Desconforto respiratório: Mais de metade (53%) dos profissionais que trabalharam no resgate/recuperação revelaram tosse logo após os ataques. Os demais sintomas respiratórios mais comuns foram falta de ar (38%) e chiado no peito (33%). Em 2015, o diagnóstico de doença obstrutiva das vias aéreas ocorreu em 24% dos participantes, com a asma sendo o diagnóstico mais comum (19%).

Rinossinusite crônica: Antes do 11 de setembro, 4,4% dos bombeiros do FDNY informaram terem rinossinusite frequente. Do primeiro ano pós atentado até 2015, sintomas da rinossinusite crônica afetaram consistentemente cerca de 40% dos trabalhadores do resgate/recuperação. A revisão dos registros médicos mostrou que a prevalência de diagnósticos aumentou de 11% em 2005 para 30% em 2015.

Câncer: Sete anos após o 11 de setembro os bombeiros da FDNY expostos ao ataque às torres gêmeas tiveram uma taxa global de incidência de câncer 10% maior (a SIR, sigla para Taxa de Incidência Padronizada, é de 1,10) do que a média da população de norte-americanos homens. As taxas eram mais elevadas em alguns cânceres específicos entre os bombeiros que atuaram na ocasião, em comparação com a população em geral do sexo masculino, particularmente no caso de próstata (SIR de 1,49) e da tiróide (SIR de 3,07). Taxas de câncer de tireóide e próstata permaneceram elevadas, quando comparadas com um grupo de bombeiros de Chicago, Filadélfia e São Francisco, mas as taxas globais de câncer foram semelhantes quando comparados com os bombeiros dessas cidades.

Sarcoidose: Nos primeiros 14 anos após o 11 de setembro, 75 membros das equipes de resgate e recuperação foram diagnosticados com novas incidências de sarcoidose. Antes do atentado, todos os raios-X de tórax foram normais e as espirometrias (medição da capacidade inspiratória e expiratória) não apresentavam sintomas. “Esta taxa de sarcoidose pós 11 de setembro de cerca de 22 casos por 100 mil foi consideravelmente foi maior do que a taxa média de incidência pré-atentado (15 por 100 mil)”, escrevem os autores.

Uso de álcool / tabaco: Nos questionários feitos após o 11 de setembro, 15% dos bombeiros de resgate/recuperação disseram que eram fumantes, e 29% disseram que aumentaram o uso do tabaco depois dos ataques. Um terço (34%) das 14.228 pessoas que realizaram os questionários de saúde mental disseram que tinha aumentado o consumo de álcool.

Depressão: A alta prevalência de depressão variou de 20% no sexto ano, para 16% no 14º ano, e é maior entre aqueles que chegaram primeiro no local do atentado. As taxas de aposentadoria mostram alguns dos efeitos globais dos ataques: nos primeiros quatro anos após o 11 de setembro, mais de 3 mil dos bombeiros do FDNY que atuaram no atentado se aposentaram, o que foi mais do que o dobro do número de aposentadorias nos quatro anos anteriores. “O aumento nas aposentadorias foi atribuída a desafios associados ao trabalho nas torres gêmeas, incluindo lesões físicas, condições de saúde respiratórias e distúrbios psicológicos”, escrevem os autores.

O programa de saúde e o centro de dados vão continuar monitorando os efeitos dos atentados em relação a doenças respiratórias, bem como ao câncer, doenças autoimunes e cardiovasculares nos próximos anos.

“As análises sobre as taxas de mortalidade e condições que surgem posteriormente, juntamente com o período de acompanhamento, podem produzir um aumento no número de casos de recuperação em períodos latentes”, afirmam os autores. Tratamento gratuito para as necessidades de saúde relacionados com o 11 de setembro é oferecido a todos aqueles que trabalharam no resgate/recuperação, tantos os ativos quanto os aposentados. O projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (National Institute for Occupational Safety and Health).

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