Estatísticas e Análises | 13 de junho de 2016

Organização norte-americana reavalia posição em relação ao teste PSA

Revisão sistemática vai “formar a base de recomendação” do exame
Organização norte-americana reavalia posição em relação ao teste PSA

A Força Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF, na sigla em inglês) está atualizando sua polêmica orientação sobre a triagem do câncer de próstata. Um plano de pesquisa final foi publicado em maio, de forma online. O documento pretende orientar uma revisão sistemática das evidências disponíveis sobre o rastreio. O USPSTF é uma organização independente, voluntária e de especialistas engajados na prevenção com o uso da medicina baseada em evidências. Um outro estudo, feito no Reino Unido, também mostrou que o tamanho da cintura pode ter relação com o risco que desenvolver câncer de próstata.

A revisão sistemática da USPSTF “vai formar a base da declaração de recomendação atualizada da Força-Tarefa sobre este tema”, diz o site da Força Tarefa. Em 2012, a organização se posicionou formalmente contra o teste PSA (sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico) para homens saudáveis, independentemente da idade.

No entanto, o documento deixava espaço para utilização do teste em clínicas. “Os médicos devem entender as evidências, mas individualizar a tomada de decisões para o paciente ou situação específica”, dizia o documento final publicado no Annals of Internal Medicine.

No entanto, o uso do teste de PSA vem caindo desde então, especialmente entre os prestadores de cuidados de saúde básicos nos EUA, conforme relatado por um levantamento do portal Medscape Medical News. Em seu plano de pesquisa, a Força-Tarefa norte-americana vai analisar várias das chamadas “questões-chave”.

A primeira pergunta trata dos homens em maior risco: “Será que a eficácia da triagem com base no PSA varia de acordo com fator de risco relacionado a subpopulação (como idade, raça/etnia, histórico familiar e avaliação de risco clínico)?”.

Mas a questão pode não ser plenamente respondida, segundo o Dr. Richard Hoffman, da Universidade de Iowa, um especialista em compartilhamento de tomada de decisões em relação à triagem do câncer de próstata. “Encontrar dados de alta qualidade será um desafio”, disse o Dr. Hoffman. Nenhum dos grandes exames de rastreio foca homens com menos de 50 anos, a maioria dos indivíduos eram brancos, e os investigadores não avaliam rotineiramente o risco clínico.

“Embora alguns estudos estão buscando pacientes para tratar da triagem em populações de alto risco, isso provavelmente vai levar pelo menos uma década para determinar os efeitos da triagem na morbidade e mortalidade”, resumiu o especialista.

Dr. Hoffman afirma que “abandonar o teste PSA” está se revelando prejudicial. A taxa de câncer de próstata em estágio avançado está aumentando nos EUA, de acordo com um estudo de base populacional para no qual Dr. Hoffman foi o principal autor. No entanto, “ainda é muito cedo para dizer se isso vai levar a um aumento na mortalidade por câncer de próstata”, considerou.

O plano de pesquisa da USPSTF separa a revisão de evidências dos danos potenciais do teste PSA, biópsia e tratamento. “Enquanto a literatura sobre danos gerados por biópsia é bastante abrangente, ainda precisamos compreender melhor as implicações do excesso de diagnósticos e do tratamento excessivo”, comparou Dr. Hoffman.

Evidências sobre os benefícios e malefícios de uma vigilância ativa é uma área especialmente importante da pesquisa. “Muitos especialistas acreditam que os danos da triagem podem ser suavizados através da interrupção do tratamento ativo para homens cujo desenvolvimento de tumor parece improvável ​​de causar problema clínico”, explicou o Dr. Hoffman.

Independente da recomendação da USPSTF, urologistas devem liderar o caminho com sua própria orientação em relação aos testes PSA. É o que diz Jesse D. Sammon, urologista do Hospital Brigham and Women, em Boston. “Cabe a nós encontrar estratégias de triagem mais inteligentes”.

Dr. Sammon acredita que as atuais recomendações da Sociedade Americana do Câncer e da Associação Americana de Urologia evoluíram de forma inteligente. Ambas as organizações concordam sobre o tema e recomendam o teste PSA para homens de 55 a 69 anos de idade. “Os grandes benefícios de sobrevivência ocorrem nessa faixa etária”, disse o urologista ao Medscape Medical News. Portanto, o benefício em relação à mortalidade justifica a recomendação do teste, apesar dos riscos conhecidos, conclui Dr. Sammon.

Perguntas-chave a serem sistematicamente revistas pela USPSTF:

1)    Existe evidência direta de que o exame PSA para câncer de próstata reduz a morbidade de curto ou longo prazo por causa do câncer? E a mortalidade por todas as causas de mortalidade?

a)    A eficácia do rastreio com base no PSA varia pelo fator de risco da subpopulação (por exemplo, idade, raça/etnia, histórico familiar e avaliação de risco clínico)?

2)    Quais são os danos da triagem com base no PSA para câncer de próstata e acompanhamento de diagnóstico?

a)    Os danos causados pela triagem PSA variam pelo fator de risco da subpopulação (por exemplo, idade, raça/etnia, histórico familiar e avaliação de risco clínico)?

3)    Existe evidência de que várias triagens no tratamento inicial, ou para detecção de câncer de próstata reduz a morbidade e mortalidade?

a)    Será que a eficácia dessas abordagens de tratamento varia pelo fator de risco da subpopulação (por exemplo, idade, raça/etnia, histórico familiar, comorbidades e avaliação de risco clínico)?

4)    Quais são os danos das várias abordagens de tratamento em pacientes em estágio inicial ou na detecção precoce do câncer?

a)    Será que os danos dessas abordagens de tratamento variam pelo fator de risco da subpopulação (por exemplo, idade, raça/etnia, histórico familiar, comorbidades e avaliação de risco clínico)?

b)    Será que os danos diferem de acordo com abordagem de tratamento?

5)    Há evidências de que o uso de uma pré-biópsia para calcular o risco de câncer de próstata, em combinação com a triagem PSA, identifica com precisão os homens com câncer de próstata clinicamente significativa (ou seja, o câncer que é mais provável de causar sintomas ou leve a doença a se desenvolver) em comparação com o teste PSA sozinho?

A morbidade inclui diagnóstico de câncer de próstata em estágio avançado com sintomas relacionados a dor, metástases ósseas, complicações devido a doenças em estágio avançado, e saúde relacionada a qualidade de vida.

Estudo britânico faz ligação entre câncer de próstata e tamanho da cintura

Outro levantamento recente, que também aborda o mesmo tipo de câncer, feito com 140 mil homens de oito países europeus, mostrou uma relação entre o tamanho da cintura e o câncer de próstata. O estudo da Universidade de Oxford (Inglaterra) aponta que 10 cm a mais na circunferência abdominal aumenta as chances de desenvolver o câncer em 13%.

Os resultados, apresentados na Cúpula de Obesidade Europeia em Gotemburgo (Suécia), apresentaram uma associação entre as medidas do corpo de homens na faixa dos 50 anos e o risco de câncer de próstata em 14 anos. Durante o período analisado, houve cerca de sete mil casos de câncer de próstata, sendo 934 deles fatais.

Homens com um Índice de Massa Corporal (IMC) alto e uma cintura larga tinham maiores chances de desenvolver câncer de próstata de alto risco, uma forma mais agressiva da doença.

O maior grupo de risco, segundo a pesquisa, era o de homens com cintura maior do que 94 cm. Eles apresentaram uma chance 13% maior de desenvolver câncer de próstata agressivo do que homens com cintura de 84 cm.

Um comunicado da Prostate Cancer UK, uma das maiores ONGs de saúde masculina, disse que a pesquisa “complementa uma série de outras evidências segundo as quais o peso e o tamanho da cintura podem influenciar no surgimento do câncer de próstata”. Além disso, “manter-se ativo e com um peso saudável pode proteger contra várias doenças, incluindo o câncer”, recomenda.

Na visão da epidemiologista nutricional Aurora Pérez-Cornago, da Universidade de Oxford, o estudo mostra a complexa associação entre o tamanho do corpo e o câncer de próstata, que varia conforme a agressividade da doença. Os grandes vilões, diz a especialista, seriam os hormônios causadores de câncer presentes nas células de gordura, mas isso ainda não foi provado. Assim, a recomendação é de que os “homens devem manter um peso saudável e se possível perder medidas ( centímetros) na cintura”.

Um porta-voz da Prostate Cancer UK, maior ONG de saúde masculina, disse: “Manter-se ativo e com um peso saudável pode proteger contra várias doenças, incluindo o câncer. Essa pesquisa complementa uma série de outras evidências segundo as quais o peso e o tamanho da cintura podem influenciar no surgimento do câncer de próstata”, acrescentou.

Thea Cunningham, da ONG Cancer Research UK, que se dedica a pesquisas sobre a doença, diz que mais estudos são necessários para comprovar a associação entre a circunferência abdominal e o risco de desenvolver câncer de próstata. “Não está claro se o excesso de peso leva ao desenvolvimento de tipos mais agressivos de câncer de próstata, ou se existe uma menor probabilidade de o tumor ser diagnosticado em um estágio inicial em homens com sobrepeso. Nesse caso, o câncer poderia ser mais agressivo ou estar mais avançado quando for diagnosticado”.

Leia mais:

Câncer de próstata e a polêmica sobre a triagem

 Secretario da Saúde do RS defende a realização do exame PSA somente em alguns casos

 PSA antes dos 55 anos não fornece benefícios na detecção do câncer de próstata

 Novo exame para câncer de próstata é mais eficaz

 Urologistas e oncologistas unificam diretrizes para o tratamento de câncer de próstata

 10 tipos de câncer com maior freqüência esperados para 2016

 

VEJA TAMBÉM