Estatísticas e Análises | 19 de janeiro de 2018

Não há circulação do vírus da febre amarela no Rio Grande do Sul atualmente

No entanto, Secretaria Estadual da Saúde recomenda vacinação em todos os municípios
Não há circulação do vírus da febre amarela no Rio Grande do Sul atualmente

De dezembro de 2016 a julho de 2017, o Brasil sofreu o pior surto de febre amarela em humanos desde 1980. Em julho de 2017, o Ministério da Saúde deu por encerrado o surto da doença. Entretanto, 35 novos casos foram confirmados pelo Ministério da Saúde (MS) até o dia 14 de janeiro, gerando novo alerta na população. As novas ocorrências foram registradas em São Paulo (20 casos confirmados), Minas Gerais (11), Rio de Janeiro (3) e Distrito Federal (1).

Ainda segundo o MS, no período de monitoramento (que começou em julho/2017 e vai se estender até junho/2018), além dos 35 casos de febre amarela computados, 20 destes vieram a óbito. Ao todo, foram notificados 470 casos suspeitos, sendo que 145 permanecem em investigação e 290 foram descartados.

RS

No Rio Grande do Sul, os últimos casos de febre amarela registrados ocorreram entre 2008 e 2009, há quase 10 anos atrás. Até novembro de 2017, havia o registro de que 70% da população gaúcha estava vacinada contra a febre amarela. Em janeiro, a Secretaria Estadual da Saúde ampliou a recomendação para mais 34 municípios do estado, sendo a maioria do litoral. Agora, todo o Rio Grande do Sul é considerado área de recomendação da vacinação.

Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CVES/RS), explica que, como as áreas com incidência desta epizootia (doença que apenas ocasionalmente se encontra em uma comunidade animal, mas que se dissemina com grande rapidez e apresenta grande número de casos) em bugios no Brasil foram estendidas à outras áreas, como por exemplo a Mata Atlântica, foi compreendida a necessidade de ampliar para todo o estado a recomendação da vacina.

De acordo com Ranieri, os casos de vírus em áreas até então livres da doença no Brasil afetaram uma grande população de suscetíveis, porque não eram áreas de recomendação para a vacinação contra a febre amarela. “A magnitude do evento no país se tornou muito maior. É mais um motivo para o Rio Grande do Sul vacinar todo o seu litoral, que até então não era área de recomendação de vacinação. Não sabemos por onde que um bugio contaminado poderá migrar para a região Sul. Era tradicionalmente pelas regiões Norte e Noroeste do estado, mas agora temos essa nova realidade”, alerta.

Mesmo com a ampliação da recomendação da vacina para todo o Estado, a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica da CEVS afirma que não há risco nenhum neste momento para a população no deslocamento para qualquer área do Rio Grande do Sul. “O estado está com 100% de certeza de que hoje não tem circulação do vírus da febre amarela”.

Ranieri também ressaltou que os demais estados da região Sul do país, Santa Catarina e Paraná, não registram casos de epizootia em bugios, o que deve tranquilizar os gaúchos. “O vírus terá que primeiro ser acometido nestes estados para então poder chegar ao Rio Grande do Sul”, explica. O alerta no RS, se ocorrer, deverá ser desencadeado quando casos forem confirmados em SC e PR.

No dia 17, o secretário estadual da Saúde do RS, João Gabbardo dos Reis, utilizou sua conta de twitter para informar a grande a procura por vacinas no Centro de Saúde Modelo, em Porto Alegre. Ainda segundo Gabbardo, o tempo de espera era de 2h.

Vacina para quem for viajar para área de risco

Os gaúchos que planejam viajar para alguma área com registro de incidência da doença no Brasil devem tomar medidas de prevenção. Ranieri recomenda a vacinação com no mínimo 10 dias de antecedência da viagem, para que ocorra a imunização completa. “É a melhor e mais eficaz medida de prevenção. Outras medidas indicadas são aquelas de proteção mecânicas de barreira, como o uso de repelentes, por exemplo”, afirma.

Em 2017, o Ministério da Saúde passou a seguir a recomendação da OMS, de realizar uma única dose padrão da vacina contra a febre amarela. Ranieri salienta que quem já foi vacinado não precisa mais se preocupar, e recomenda que quem não tenha feito realize a vacinação em uma unidade de saúde.

Sobre a doença

A febre amarela é uma doença febril aguda, causada por um arbovírus (vírus transmitido por mosquitos). Os primeiros sintomas são inespecíficos, como febre, calafrios, dor de cabeça, dor nas costas, dores musculares, fraqueza, náuseas e vômitos.

Após esse período inicial, geralmente ocorre um declínio da temperatura e diminuição dos sintomas, provocando uma sensação de melhora no paciente.

Em um ou dois dias, a febre reaparece. Em sua fase mais grave, pode causar inflamação no fígado e nos rins, sangramentos na pele e levar à morte. Para evitar a doença, o Ministério da Saúde recomenda usar repelente em crianças a partir de dois meses de idade e evitar usar perfume em áreas de mata, além da vacinação.

Silvestre e Urbana

Os casos de febre amarela no Brasil são classificados como silvestre ou urbana, sendo que o vírus transmitido é o mesmo. A diferença entre elas é o mosquito envolvido na transmissão. Na urbana, o vírus é transmitido ao homem pelo mosquito Aedes aegypti. Desde 1942 não é registrado nenhum caso no Brasil.

Na silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus e os macacos são os principais hospedeiros; nessa situação, os casos humanos ocorrem quando uma pessoa não vacinada entra em uma área silvestre e é picada por um mosquito contaminado.

Entre 2008 e 2009, o Rio Grande do Sul registrou 21 casos da febre amarela silvestre em humanos. “Desde 1999, é realizada a vigilância de mortes de macacos, com o objetivo de verificar e antecipar a ocorrência da doença, pois a mortalidade destes animais pode indicar a presença do vírus em uma determinada região. Dessa forma, é possível fazer a intervenção oportuna para evitar casos humanos, por meio da vacinação das pessoas, e também evitar a urbanização da doença, por meio do controle dos mosquitos transmissores nas cidades”, informa a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul.

Contraindicações

Segundo o médico reumatologista do Hospital Mãe de Deus, Dr. Claiton Brenol, a vacina contra a febre amarela tem algumas contraindicações, principalmente para pessoas com imunossupressão.

O especialista explica que pacientes com doenças reumáticas e que usam medicamentos imunossupressores ou imunomoduladores devem ter cuidados especiais como suspender a medicação por um período de quatro semanas antes da vacinação. As medicações podem ser retomadas após quatro semanas da vacinação.

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina é contraindicada para os seguintes grupos:

Pacientes com imunodeficiência primária ou adquirida;

Indivíduos com imunossupressão secundária à doença ou terapias;

Imunossupressoras (quimioterapia, radioterapia, corticoides em doses elevadas);

Pacientes em uso de medicações antimetabólicas ou medicamentos modificadores do curso da doença (Infliximabe, Etanercepte, Golimumabe, Certolizumabe, Abatacept, Belimumabe, Ustequinumabe, Canaquinumabe, Tocilizumabe, Rituximabe, Secukinumabe);

Transplantados e pacientes com doença oncológica em quimioterapia;

Indivíduos que apresentaram reação de hipersensibilidade grave ou doença neurológica após dose prévia da vacina;

Indivíduos com reação alérgica grave ao ovo; pacientes com história pregressa de doença do timo (miastenia gravis, timoma).

Vacina fracionada

Uma das ações do Ministério da Saúde contra a febre amarela foi o fracionamento do estoque para atingir um maior número de pessoas. A dose padrão (0,5 Ml) protege por toda a vida, enquanto a dose fracionada (0,1 Ml) protege por pelo menos oito anos, segundo o Ministério. De acordo com o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, “os estudos concluídos, até o momento, demonstram que a vacina padrão e a fracionada têm a mesma eficácia”.

A estratégia, já adotada em surtos da doença na África, pretende garantir que o governo mantenha estoques estratégicos no caso de novas crises e vacinar um número maior de pessoas rapidamente.

Nos últimos dias, Rio de Janeiro e São Paulo decidiram, junto ao Ministério da Saúde, antecipar a disponibilidade das doses fracionadas para a população. A vacina com dose de 0,1 Ml estará disponível nos dois estados, a partir do dia 25 de janeiro. O objetivo da mudança é evitar a expansão do vírus para áreas próximas.

Atualmente, a vacinação para febre amarela é recomendada e oferecida em 21 Estados: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

VEJA TAMBÉM