Gestão e Qualidade | 30 de novembro de 2013

Lideranças debatem soluções para a entrega de serviços com qualidade e menor custo

Evento da FEHOSUL contou com Secretário de Saúde do RJ, dr. Sérgio Côrtes e Diretor da Amil, dr. Antônio Jorge Kropf
Lideranças debatem soluções para a entrega de serviços com qualidade e menor custo

Na manhã desta sexta-feira, 29, a FEHOSUL realizou o Encontro de Lideranças da Saúde, importante evento que encerrou o calendário 2013 de atividades que marcam os 25 anos da FEHOSUL. Com a presença de autoridades e dirigentes dos principais estabelecimentos de saúde do Estado, as discussões serviram para traçar o cenário atual e fazer projeções sobre o futuro da saúde brasileira.

Na abertura do evento realizado no Sheraton Porto Alegre, o presidente da FEHOSUL destacou a relevância da discussão. “Nosso objetivo é discutir questões relevantes, candentes e atuais que impactam o cenário da saúde em âmbito nacional e aqui no nosso Estado. Ao longo do ano desenvolvemos uma serie de atividades, e hoje queremos apresentar aos nossos dirigentes e gestores sugestões de soluções em gestão e uma nova maneira de pensar a saúde que entregamos à população”, afirmou Cláudio Allgayer.

Para a primeira palestra foi convidado o secretário de Saúde do do Rio de Janeiro, dr. Sérgio Côrtes, que tratou do tema Novos Modelos de Gestão em Saúde. “Há muito tempo gostaríamos de contar com essa presença. A experiência como médico atuante, diretor de hospitais (como Instituto de Traumatologia e Ortopedia, referência nacional nestas especialidades) e outras importantes funções realizando atividades revolucionárias que deveriam servir de modelo para todo o Brasil”, destacou o dr. Allgayer.

Sergio_Cortes

Há sete anos à frente da Secretaria de Saúde, dr. Côrtes defendeu as parcerias público privadas, projeto que no RJ modificou completamente a assistência. “Garanto que não há, na Constituição, algum ponto dizendo que o paciente quer saber se do outro lado do balcão, o profissional é estatutário, cooperativado, celetista ou qualquer outro. Ele quer apenas ter o seu problema resolvido. Estamos falando da assistência, daquilo que é entregue ao cliente”, frisou o secretário.

Quando assumiu o cargo, há sete anos, o secretário lembra que “existia uma situação de calamidade, as emergências tinham pacientes no chão, nem dava para chamar aquilo de atendimento. Os servidores não tinham metas, eram desmotivados, e a reposição era demorada. O absenteísmo era outro grave entrave”. Segundo Côrtes, para conseguir implementar mudanças o gestor público deve ter coragem para construir uma mentalidade de meritocracia, estimular organizações sociais (OS) e também firmar parcerias com instituições privadas lucrativas ou filantrópicas de reconhecida qualidade, que serão remuneradas de uma forma justa pelo Estado pelos serviços prestados.

Em sua palestra, Côrtes apresentou vários exemplos de conquistas da Secretaria da Saúde, como o aumento do número de exames e menor tempo de espera. Além disto, ao promover as PPP’s, “conseguiu-se entregar serviços de alta qualidade com menos gasto para o estado/contribuinte” completou Côrtes, apresentando números da economia alcançada.

No Rio de Janeiro, as Unidades de Pronto-Atendimento foram trunfos fundamentais para a melhoria no setor. “Criamos UPAS para problemas de menor complexidade, e as de grande (complexidade) iam para os grandes hospitais. Temos, atualmente, 52 Unidades, e uma taxa de transferência para hospitais de 0,46%”. Além de otimizar o atendimento, a estratégia também pode reduzir custos, “pois para mantermos as UPA’s gastamos bem menos se compararmos aos gastos de mantermos um hospital” resumiu.

Ao final da palestra teve início debate mediado pelo presidente da Assembleia Legislativa – e vice-presidente da FEHOSUL – deputado Pedro Westphalen, que salientou a necessidade de superar divergências para avançar. “O nosso Estado é travado, e não me refiro a governo nem a nenhum partido, é o Rio Grande do Sul que não anda. Saúde funciona com acessibilidade, qualificação, gestão e financiamento. É impossível fazer projeto de modernidade sem que essa base seja pensada de maneira conjunta”.

Dr. Côrtes, por fim, considerou o cenário gaúcho com grande potencial para seguir o exemplo fluminense. “Tenho inveja dos Estados que não têm uma grande quantidade de unidades próprias como o Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, com essa quantidade de ofertas de instituições privadas as PPPs seriam inúmeras. Temos que buscar as estruturas já existentes e fazer parcerias. Só muda para o prestador quem é o pagador, e o Estado não pode achar que vai remunerar um hospital qualificado com a atual tabela SUS”.

 Para encontrar soluções, é preciso sair da zona de conforto

A segunda etapa do Encontro de Lideranças da Saúde teve como convidado o Diretor da Amil – UnitedHealth, dr. Antônio Jorge Kropf, que tratou de Dilemas, Desafios e Paradoxos da Saúde Suplementar. “Todos os sistemas caminham para um desafio enorme de financiamento, existe muito desperdício”, alertou.

Segundo ele, é preciso fazer uma leitura da nova realidade nacional. “Temos uma crise de acesso ao atendimento porque houve uma grande inclusão, muito bem-vinda, de milhões de pessoas de classe média. Sem dúvida esse grupo mudou nossa realidade de mercado e o desafio de atendimento é um fenômeno interessante, porque eles representam quase metade dos planos de saúde, mas numa situação diferente. A classe média tem um perfil de consumo interessante, como evidenciam recentes estudos. Ela consume mais. Outra questão é que a nova classe média compra planos de saúde para ter livre escolha, mas o plano a ela direcionado é limitado quanto a esta liberdade de escolha. Esse conflito é um erro de comunicação”.

jorge_Kropf

Para o especialista, o modelo assistencial brasileiro está estruturado de forma equivocada, sofrendo com alto desperdício, conflito dos participantes, dificuldade, ineficiência. “Em termos de acesso, é flagrante a dificuldade. Temos que analisar toda a cadeia, refletir como estamos e por que a situação está assim”.

Embora aponte problemas, dr. Kropf mostra otimismo. “Se continuarmos fazendo o que estamos acostumados, os resultados serão os mesmos. Se não focar o modelo, não muda nada. O resultado é só uma consequência”, destacou. “Nosso sistema está dando errado, mas tem solução. Vamos sair da zona de conforto com estratégia. O desafio é compreender a realidade, conversar e partir para a solução, sem esquecer a tríade informação, infraestrutura e incentivo. Na nossa realidade, temos que mudar dois pontos fundamentais: os modelos altamente fragmentados e a forma de contratualização”, finalizou.

 

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