Estatísticas e Análises | 20 de agosto de 2020

Hospitais registram queda significativa de internações pediátricas

Isolamento social e aulas presenciais canceladas ajudam a explicar a diminuição de internações e busca pela emergência
Hospitais registram queda significativa de internações pediátricas

Apesar do aumento de 90,6% de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a população adulta no Rio Grande do Sul nos últimos meses (devido à Covid-19), a ocupação atingiu números próximos limite (em alguns hospitais de Porto Alegre, registrou-se 100% de ocupação). Entretanto, hospitais gaúchos observaram um fenômeno inverso com a população pediátrica em 2020: a diminuição do número de internações de bebês e crianças em comparação com os anos anteriores. 

O portal Setor Saúde entrou em contato com hospitais do RS para compreender como a Covid-19 tem se manifestado na população pediátrica. Além de apresentar um número baixo de internações devido à doença (confira abaixo: Crianças com Covid-19 no RS), os hospitais relataram uma diminuição de internações pediátricas por todas as causas. Confira o que foi relatado pelos hospitais:

Hospital da Criança Santo Antônio (Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre) 

Em 2020, houve redução de 51% nas internações pediátricas “não SUS” entre 20 de junho e 20 de julho, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já nas internações SUS, a queda foi de 59%. Ao todo, o Hospital da Criança Santo Antônio registrou queda de 56% nas internações pediátricas no período citado.

Hospital Moinhos de Vento

Em comparação com 2019, o Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento registrou queda de cerca de 80% nos atendimentos da Emergência pediátrica. Atualmente, a internação está operando com 50% da média, mas chegou a registra redução de 70%. Já as internações na UTI Pediátrica diminuíram em 30%.

Hospital São Lucas da PUCRS

De acordo com o professor da Escola de Medicina da PUCRS, médico pediatra pneumologista Sérgio Amantea, em toda a sua carreira, não lembra de um ano em que se registrou “tanta saúde” na população pediátrica como agora. O professor explica que, no inverno gaúcho, tradicionalmente há um grande registro de casos de bronquiolite viral aguda, e que a doença teve uma redução significativa de registros neste ano.


“A partir de maio até final de agosto, temos um impacto significativo das doenças respiratórias de inverno. A doença que mais interna nessa época do ano é a bronquiolite viral aguda, que compromete crianças de menos de dois anos de idade. Neste ano, praticamente não entrou na comunidade. Nesta época do ano, estaríamos internando de 100 a 150 pacientes por mês, e agora estamos contando nos dedos esses casos. Temos uma tentativa de explicação, que seja o impacto do isolamento social e ausência de escola, que previnem o contato do vírus, no contato de criança com criança”, disse.


Hospital de Clínicas de Porto Alegre

O mesmo fenômeno de queda de internações pediátricas foi observado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Assim como relatado pelo médico Sérgio Amantea, o pediatra João Carlos Santana, que atua no Serviço de Emergência e Medicina Intensiva Pediátrica do Clínicas também se mostrou surpreso com a diferença no número de internações em 2020.


“Em 2018, ocorreram 200 internações por bronquiolite viral aguda. Em 2019, mais de 230. Em 2020, foram 13 casos. É uma diferença muito grande. Com o isolamento, as crianças não tiveram apenas a Covid, como também não tiveram outras doenças respiratórias que acontecem. Em 31 anos de formado, sempre observei a tendência de muitos casos [de doenças respiratórias] no inverno, o que foi diferente neste ano de 2020”, explicou.

“Também outras doenças, não respiratórias, registraram queda de internações. Tínhamos 500 casos atendidos por mês, e passamos para 100 atendimentos atualmente”, completou.


Crianças com Covid-19: registro de síndrome inflamatória multissistêmica

O Ministério da Saúde está investigando uma possível associação de síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P) em crianças que tiveram Covid-19 no Brasil, de acordo com a Agência Brasil.

A SIM-P ocorre em crianças de 7 meses a 16 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, até julho foram notificados 71 casos, sendo 29 no Ceará, 22 no Rio de Janeiro, 18 no Pará e 2 no Piauí. Foram identificadas também três mortes no Rio de Janeiro. No mundo, até o momento foram relatados mais de 300 casos, em países como Espanha, França, Itália Canadá e Estados Unidos.

Conforme as informações das secretarias de Saúde, parte dos pacientes apresentavam infecção pelo novo coronavírus ou tiveram Covid-19 anteriormente.

Crianças com Covid-19 no RS

Até o momento, três crianças menores de 15 anos de idade morreram por Covid-19 no Rio Grande do Sul, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde do RS (SES/RS). De acordo com os hospitais que responderam ao contato desta matéria, o registro de internações por Covid-19 em crianças é muito pequeno.


“Nós não temos, atualmente, nenhum paciente pediátrico internado com Covid-19 em Porto Alegre, isso é muito significativo. Acompanhei dois pacientes com alguma gravidade, já recuperados, que precisaram de suporte ventilatório. Acompanho até hoje um paciente, de três meses de idade, que teve complicações, que evoluiu para insuficiência respiratória”, destacou o professor Sérgio Amantea.

O professor da PUC-RS aponta que a doença apresenta significativa diferença de gravidade na população pediátrica. “Acreditamos que a maioria das crianças possam passar pelo vírus de modo assintomático e, mesmo entre as que apresentam sintomas, são mais brandas do que na população adulta. Como muitas pessoas irão se contaminar, não significa que não tenhamos casos de maior gravidade entre as crianças, provavelmente vamos ter, mas eles serão infinitamente mais raros”, afirmou.

“No Hospital de Clínicas, até 3 de agosto, tivemos oito internações de crianças até 14 anos com Covid-19, todos com comorbidades, e nenhum óbito registrado. Felizmente, pelos registros que observamos no Rio Grande do Sul, os óbitos são muito incomuns”, disse João Carlos Santana.

O Hospital Moinhos de Vento registrou apenas uma internação na UTI neonatal, e nenhuma internação em UTI pediátrica.

O Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, registrou apenas um caso pediátrico no que necessitou de suporte respiratório na UTI. Todos os demais casos foram leves a moderados.


Além disso, os hospitais que participaram da matéria não relataram casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica.

 



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