Mundo | 20 de fevereiro de 2015

Fumar é mais prejudicial do que se pensava

Estudo associa novas doenças e mortes ao tabagismo
Fumar é mais prejudicial do que se pensava

O tabagismo, que causa 350 mortes diárias no Brasil e 10 mil no mundo, é mais grave do que se imaginava. Um novo estudo norte-americano acrescenta pelo menos cinco doenças e 60 mil mortes, por ano, causadas pelo fumo. Antes do estudo, o fumo já era apontado como culpado por quase meio milhão de mortes nos EUA devido a 21 doenças, sendo 12 tipos de câncer.

Os novos resultados têm como base dados de saúde de quase um milhão de pessoas que foram acompanhadas por 10 anos. Além dos riscos já conhecidos, como câncer de pulmão, doenças arteriais, ataques cardíacos, doenças pulmonares crônicas e AVCs, os pesquisadores descobriram que o fumo também está associado a um alto risco de infecção, doenças renais, doenças intestinais causadas por fluxo sanguíneo inadequado e doenças cardíacas e pulmonares antes não atribuídas ao tabaco.

A ampla pesquisa analisou dados de cinco grandes estudos de saúde realizados por outros pesquisadores. Os participantes eram 421.378 homens e 532.651 mulheres com 55 anos ou mais, incluindo quase 89 mil fumantes. As taxas de mortalidade eram maiores entre os fumantes, e doenças conhecidas como causadas pelo tabaco foram responsáveis por 83% das mortes.

A pesquisa foi paga pela Sociedade Americana do Câncer e trabalhou com cientistas de quatro universidades e do Instituto Nacional do Câncer. O estudo foi observacional, o que significa que olhou para os hábitos das pessoas, como fumar, e notou as correlações estatísticas entre o comportamento delas e sua saúde. A correlação não prova causa e efeito, de modo que esse tipo de pesquisa não é considerada tão forte quanto experimentos nos quais participantes são designados aleatoriamente a tratamentos ou placebo e depois comparados.

“A epidemia do fumo prossegue e há a necessidade de avaliar o quanto o cigarro nos prejudica e de apoiar os clínicos e as políticas de saúde pública”, frisou Brian D. Carter, epidemiologista da Sociedade Americana do Câncer em artigo sobre o estudo, publicado no The New England Journal of Medicine.

Na mesma publicação, um editorial assinado pelo Dr. Graham A. Colditz, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, ressalta que os novos resultados mostraram que as autoridades subestimaram substancialmente o efeito do fumo sobre a saúde pública. Os fumantes, particularmente aqueles de baixa renda que dependem da assistência pública, não receberam ajuda suficiente para abandonar o vício.

Cerca de 42 milhões de americanos fumam (15% das mulheres e 21% dos homens) segundo os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC). A pesquisa mostra que a taxa de mortalidade deles é duas ou três vezes mais alta do que o de pessoas que nunca fumaram e que, em média, morrem mais de uma década antes dos não-fumantes. Os fumantes também têm uma probabilidade 20 vezes maior de morrerem de câncer de pulmão. Além disso, pessoas pobres e/ou com menor escolaridade apresentam maior probabilidade de fumar.

Analisando as mortes entre os participantes de 2000 a 2011, os pesquisadores descobriram que, em comparação a pessoas que nunca fumaram, os fumantes apresentavam o dobro da probabilidade de morrer por infecções, problemas renais e males respiratórios antes não associados ao tabaco, e cardiopatia hipertensiva, na qual a pressão alta leva a insuficiência cardíaca. Os fumantes também apresentavam uma probabilidade seis vezes maior de morrer de uma doença rara causada por fluxo insuficiente de sangue nos intestinos.

Dr. Carter confia nos resultados porque, biologicamente, faz sentido que essas condições estejam relacionadas ao tabaco. Ele ressalta que o fumo pode enfraquecer o sistema imunológico, aumentando o risco de infecção. O tabagismo também causa diabete, pressão alta e doenças arteriais, que podem levar a problemas renais. A doença arterial pode, ainda, reduzir o fluxo de sangue aos intestinos. Danos no pulmão causados pelo fumo, combinados com o aumento da vulnerabilidade a infecções, podem levar a múltiplos males respiratórios.

As doenças antes estabelecidas como associadas ao fumo eram: cânceres de esôfago, estômago, cólon, fígado, pâncreas, laringe, pulmão, bexiga, rim, colo do útero, lábio e cavidade oral; leucemia mieloide aguda; diabete; doenças cardiovasculares; acidentes vasculares; aterosclerose; aneurisma da aorta; outras doenças arteriais; doenças respiratórias crônicas; pneumonia e gripe; e tuberculose.

VEJA TAMBÉM