Mundo, Tecnologia e Inovação | 6 de abril de 2018

França anuncia investimento 1,5 bilhão de euros em Inteligência Artificial

Saúde será uma das áreas a serem foco da iniciativa
França anuncia investimento 1,5 bilhão de euros em Inteligência Artificial

O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou um plano de 1,5 bilhão de euros para transformar seu país em um dos líderes mundiais em pesquisa e inovação na área de Inteligência Artificial (IA). Atualmente, a área é dominada pelos Estados Unidos e China.

Macron apresentou seu projeto em um discurso durante o final da conferência “AI for Humanity”, em Paris.  Segundo o presidente, o objetivo é utilizar a tecnologia para o bem público. Os investimentos serão focados em institutos especializados, dados abertos e o recrutamento de pesquisadores estrangeiros e cientistas franceses que trabalham no exterior.

Em entrevista para a revista Wired logo após a divulgação, Macron explicou em que áreas a iniciativa vai se desenvolver: ” Provavelmente na área de saúde – onde você tem incremento da medicina personalizada, nas ações complementares de medicina preventiva e no tratamento. Inovações na medicina para prever, através de uma melhor análise, as doenças que você pode ter no futuro e preveni-las ou tratá-lo melhor. Há alguns anos, fui para a CES [feira anual que apresenta as tendências das grandes empresas de tecnologias]. Fiquei muito impressionado com algumas dessas empresas. Eu acompanhei organizações francesas, mas também conheci empresas americanas, israelenses e outras operando no mesmo ramo. A inovação que a inteligência artificial traz para os sistemas de saúde pode mudar totalmente as coisas: com novas maneiras de tratar as pessoas, prevenir várias doenças e um caminho – não para substituir os médicos – mas para reduzir o risco potencial”, acrescentando que a mobilidade também vai receber estratégias para adotar soluções com o uso da IA.

Segundo o diretor da IBM Research, Alessandro Curioni, que também participou do evento, esse é o momento ideal para esse investimento. “Estamos sendo inundados por dados e não conseguimos acompanhar o ritmo. A única resposta é a Inteligência Artificial”, diz.

As medidas do governo são baseadas nas recomendações apresentadas pelo matemático francês, vencedor da Medalha Fields e membro do grupo político de Macron, Cédric Villani. Boa parte desse plano visa manter os pesquisadores talentosos franceses na França. Também inclui um programa de pesquisa liderado pelo Instituto Nacional Francês de Ciência da Computação e Matemática Aplicada (INRIA, sigla em inglês) centrado em torno de cinco institutos locais de pesquisa existentes no país.

De acordo com Macron, o governo gastará 1,5 bilhão de euros ao todo. Sendo 400 milhões de euros para propostas competitivas de mercado e 100 milhões nos próximos meses para ajudar a lançar empresas iniciantes na esperança de atrair outros 500 milhões de euros através de empresas privadas. Entretanto, poucos detalhes estão disponíveis no momento.

Segundo o pesquisador da INRIA, Karteek Alahari, recrutar os profissionais será o maior desafio.  “A França é um lugar melhor para viver e trabalhar do que alguns cientistas pensam”, explica. Ele diz que a qualidade dos estudantes, a liberdade de escolha e a qualidade da pesquisa acadêmica o atraíram para o país.

O presidente da França também afirmou que irá aumentar o tempo que os cientistas financiados pelo governo podem gastar trabalhando em empresas privadas, de 20% para 50%. A estratégia de Macron também inclui um enfoque na ética da IA para garantir que os algoritmos sejam controlados e trabalhem para o bem maior, evitando a “privatização da tecnologia e seu uso potencialmente perigoso por governos estrangeiros”.

Várias empresas, incluindo a Microsoft e Fujitsu, anunciaram novos investimentos na França após o discurso de Macron. A DeepMind, empresa líder em IA, com sede em Londres, comprada pelo Google em 2014, disse que abriria um centro em Paris neste ano para pesquisas em IA. “Acho que é uma excelente escolha. Não só porque me permite voltar para a França, mas também porque Paris está no processo de se tornar um local importante para pesquisa em IA e machine learning (aprendizado de máquina)”, conta Rémi Munos, cientista da DeepMind.

A França não é o único país europeu que tem grandes ambições em relação à Inteligência Artificial. De acordo com a ministra de Educação e Pesquisa da Alemanha, Anja Karliczek, a Alemanha também quer ser uma das pioneiras nesse campo. “Ambos os países podem ligar seus centros de dados e iniciar programas de pesquisa bilaterais”, afirma.

Leia também: Saúde francesa atacará ineficiência e modelo de pagamento por volume

 

Com informações da Sciencemag. Edição Setor Saúde.

VEJA TAMBÉM