Gestão e Qualidade | 29 de dezembro de 2023

Fernando Torelly: “2024 será o ano do diálogo para construção de um sistema de saúde sustentável”

Ao portal Setor Saúde, o CEO do Hcor fala sobre a atuação do Hospital e analisa os desafios do atual cenário setorial e macroeconômico.
Após investir R$ 70 milhões em 2023, Hcor projeta nova fase do projeto de expansão

Em entrevista exclusiva ao portal Setor Saúde, o Superintendente Corporativo (CEO) do Hcor (São Paulo), Fernando Andreatta Torelly, afirma que em 2023 o setor da saúde teve como principal desafio a sustentabilidade econômico-financeira dos atores da saúde suplementar, em especial as operadoras e os hospitais. Para o próximo ano, o CEO defende o diálogo e uma agenda conjunta de governo, hospitais, médicos, operadoras, clínicas e fornecedores. Segundo ele, “o setor de saúde precisa entender que a falta de sustentabilidade impactará a todos, principalmente os pacientes e a população.”  Torelly é o segundo entrevistado da série especial de entrevistas com executivos de hospitais, operadoras e clínicas do Brasil. 

O Superintendente Corporativo detalha ainda as conquistas e os investimentos do Hcor realizados em 2023 – o valor investido foi de cerca de R$ 70 milhões. Segundo ele, o Hcor seguirá aportando valores para seguir o plano de expansão estipulado para 2024. Torelly também fala sobre as diretrizes estratégicas estipuladas para o ciclo 2024, tendências e/ou inovações que ditarão os rumos da saúde e os gargalos/ineficiências que devem ser foco de atenção dos governos e do setor. Confira o conteúdo completo.


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Conquistas mais relevantes

“O ano de 2023 foi marcado por ser o ano com as maiores dificuldades na área da saúde suplementar, decorrente da sustentabilidade das operadoras de planos de saúde, impactada pelo resultado negativo nas operações hospitalares. Com o atual cenário setorial e macroeconômico, coube a nós investir fortemente na eficiência da gestão”, analisa Torelly.

” Em 2023, investimos um montante de cerca de R$ 70 milhões”, destaca. Conforme o CEO do Hcor os investimentos foram destinados para aquisição de equipamentos hospitalares, ampliação de serviços e em infraestrutura:

Equipamentos hospitalares

Aquisição do Robô da Vinci Xi;


Novo tomógrafo para o Pronto-Socorro;


Seis máquinas de circulação extracorpórea de última geração, utilizadas em cirurgias cardiológicas de alta complexidade;


Substituição do sistema BrainLab para centro cirúrgico;


Aquisição de 62 cardioversores;


Sistemas de ergometria;


Sistemas de neuronavegação.

Serviços

Novos 17 leitos na mesma área já construída do hospital para atender à crescente demanda;


Centro de Vacinas com 2 salas dedicadas na Unidade Avançada Cidade Jardim (UACJ);


Centro de Infusão com 7 boxes para tratamento (UACJ);


Continuidade às reformas e melhorias e modernização de infraestrutura, incluindo projeto de novos 36 leitos a serem inaugurados em 2024.

 Infraestrutura

Usina de Geração de Energia e Sistema Elétrico de Potência.


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Principais investimentos previstos para 2024

“O próximo ano será muito importante para o projeto de expansão de 36 leitos. O projeto já foi iniciado, com a inauguração das primeiras áreas, e faremos um movimento de otimização de toda a nossa estrutura predial, liberando espaços para continuar a expansão e atender melhor os pacientes da instituição”, anuncia.

“Em 2024, uma das prioridades será a garantia da qualidade de atendimento do Pronto-Socorro, decorrente do projeto de expansão já em andamento”, completa Torelly.

Esforços para aperfeiçoar a eficiência

O Superintendente Corporativo também apresentou movimentos recentes desenvolvidas pela instituição hospitalar para aperfeiçoar a eficiência, entre eles, projetos de saúde baseada em valor.

“Há diversas oportunidades de aperfeiçoar a eficiência em um hospital, como no ciclo da receita, no processo logístico, na gestão da alta do paciente e no gerenciamento de giro de leito. Mesmo em meio a adversidades externas, temos conquistado crescimento na receita com os ajustes que fizemos no Hcor, entre eles: parceria com o Fleury para processamento dos exames laboratoriais; e melhorias, modernização e ampliação de infraestrutura, incluindo a abertura de 36 leitos.”

“Reunindo os aprendizados dos últimos anos no avanço da gestão do Hcor, ampliamos nosso potencial de impacto positivo com a área de Consultoria e Gestão em Saúde, que visa apoiar o sistema de saúde brasileiro, contribuir com o aumento da qualidade e segurança dos serviços e disseminar conhecimento sobre técnicas de gestão praticadas pelo hospital”, pontua Torelly. 

“Dentre as iniciativas mais importantes estão a criação e a ampliação de projetos de saúde baseada em valor, como o “Idoso Bem Cuidado”, selecionado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) como um dos projetos que deve ser acompanhado, para que seja uma experiência inovadora na área da saúde. Este projeto dá os melhores indicadores sociais com maior redução de custo. Só vamos vencer a necessidade de eficiência e a dificuldade de sustentabilidade do sistema de saúde com novos modelos de cuidado e novos modelos de financiamento”, acredita o CEO do Hcor.

Torelly vai além: “mesmo hospitais com orçamento limitado, como as instituições públicas, podem se beneficiar de uma gestão eficiente. Ainda que não seja possível crescer em receita, é possível reduzir as despesas e aumentar a produtividade. Por meio de projetos de filantropia do Hcor, por exemplo, capacitamos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para o controle de infecções hospitalares e damos apoio às Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) na avaliação de eletrocardiogramas à distância.”


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Gestão e assistência: as diretrizes ou eixos estratégicos estipulados para o ciclo 2024

“A palavra do momento é diálogo. Precisamos fortalecer e construir novos modelos de trabalho sólidos, mudar a cultura do sistema de saúde como um todo e trabalhar verdadeiramente em conjunto, colocando sempre o paciente no centro do cuidado. Desta forma, existe uma chance de prevenirmos o colapso do setor, junto com o resgate da sustentabilidade e a promoção à saúde”, acredita.

“Os eixos estratégicos da equipe assistencial para 2024 foram planejados tendo como foco a excelência do cuidado, norteados pelo nosso mapa estratégico e pelo nosso modelo assistencial integrado. Os eixos do mapa estratégico são trabalhados com objetivos focados na eficiência, qualidade, segurança e cuidado centrado na pessoa. Um dos objetivos será fortalecer o modelo assistencial para sustentar os processos assistenciais, assegurando o cuidado com qualidade, eficiência e efetividade, otimizando recursos e evitando desperdício”, detalha Torelly. 

“Um grande projeto estratégico para o Hcor, em 2024, será a cardiopatia estrutural, o centro de válvula. O Hospital já possui uma grande expertise na área e, agora, planeja oferecer um serviço especializado, que se torne referência na América Latina. Também vamos investir, cada vez mais, na qualificação dos serviços de Oncologia, com transplante de medula óssea e expansão do parque da Radioterapia.”

“Na área cirúrgica, vamos expandir o nosso parque de robótica para outras especialidades, sendo a primeira delas a de Ortopedia. Mais adiante, consideramos adquirir mais robôs para cirurgias cavitárias. Atualmente, temos o Da Vinci Xi, mas planejamos ampliar o braço robótico para a Neurocirurgia”, adiciona. 

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“Internamente, vamos olhar, cada vez mais, para a saúde dos nossos profissionais e pensar em programas de prevenção de doenças e, ao mesmo tempo, de mitigação de burnout.”

“No mais, vamos continuar investindo em transformação digital como um todo, ampliando e qualificando nossa rede, a fim de permitir atendimento à distância, uso de wearables para monitorar pacientes e garantir uma melhor experiência digital por meio de aplicativos e portais dos pacientes e do corpo clínico, e até gamificação. Também vamos destinar recursos para sistemas de apoio de tomada de decisão, tanto em nível de gestão quanto em nível médico-assistencial, como em prontuário eletrônico e protocolos, para que possamos entregar um cuidado mais preciso aos nossos pacientes”, explica Torelly. 

Tendências e/ou inovações e como o Hcor está se estruturando para o futuro da saúde

“Algumas iniciativas recentes já se mostram promissoras, como a união entre as operadoras de planos de saúde e os hospitais privados para o desenvolvimento de projetos estruturantes. Aqui, por exemplo, temos o Hcor + Saúde, Ambulatório do Idoso, realizado em parceria com o Meu Doutor, do Bradesco Saúde. Os resultados parciais do projeto mostram o controle de 91% da população com hipertensão e de 95% com diabetes, além de redução no uso de benzodiazepínicos e de sintomas graves de saúde mental e aumento da adesão ao esquema vacinal adequado.”

“Além disso, há alguns temas que considero estruturantes para o setor, nos próximos anos. Entre eles, estão a telemedicina e a saúde digital, que já vêm registrando um constante crescimento da utilização de serviços de saúde remotos. Ainda relacionado à tecnologia, também enxergo como tendência o uso de inteligência artificial e de machine learning para modelagem preditiva, desenho de cenários e apoio à tomada de decisão, contribuindo para escolhas mais assertivas, que otimizem recursos e melhores desfechos clínicos. Outro assunto que vem ganhando espaço é a realidade virtual”, analisa Torelly. 

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“No que diz respeito ao cuidado com os colaboradores, vejo uma preocupação maior com a saúde mental e a prevenção de burnout, especificamente, que gera um grande impacto na vida da pessoa e também na produtividade da empresa. Cuidar de quem cuida dos pacientes é muito importante, ainda mais em um mundo cada vez mais rápido e mais conectado, que acaba sobrecarregando todos.”

“Relacionado à assistência ao paciente, acredito no fortalecimento da saúde personalizada, com base nas características genéticas individuais. Neste sentido, a Oncologia está mais avançada, com terapias-alvo e imunoterapias que, há muito anos, vêm se expandindo. Esta tendência também está alinhada à de abordagens menos invasivas, como é o caso da cardiopatia estrutural, que é e será um tema muito importante para o Hcor, nos próximos anos”, anuncia.

“E tudo isso vem se desenvolvendo em prol do paciente, em primeiro lugar, mas também a fim de melhorar a eficiência e de contribuir para a sustentabilidade da empresa e do setor, como um todo. Assim, atendemos ao que chamamos de alvo-quíntuplo: acesso, custo, desfecho, bem-estar/burnout e equidade.”

Gargalos e ineficiências do setor que devem ser foco de atenção 

“Com o envelhecimento populacional crescente no nosso país, é preciso iniciar uma discussão sobre os modelos de cuidado dos pacientes. Devemos investir muito mais em promoção, prevenção e cuidado coordenado, para que as pessoas se mantenham com saúde e, consequentemente, reduzam a necessidade de serviços hospitalares”, aponta. 

“O Brasil, entre 2035 e 2040, terá a pirâmide etária dos países desenvolvidos, que investem entre US$ 5.000 e US$ 7.000 per capita/ano em saúde, enquanto, o Brasil investe, aproximadamente, US$ 1.500.”

“Nosso principal desafio é como cuidar de uma população cada vez mais idosa com os recursos de um país em desenvolvimento. Para que consigamos iniciar a construção de um novo modelo de saúde, que será, provavelmente, um dos mais desafiadores do mundo, precisamos ganhar eficiência em processos e em cuidado e eliminar o desperdício”, defende Torelly.

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Ano de diálogo e de uma agenda conjunta

“Reforço que 2024 será o ano do diálogo. O setor de saúde precisa entender que a falta de sustentabilidade impactará a todos, principalmente os pacientes e a população.”

“As pessoas em cargos de liderança na área da saúde não podem se furtar ao diálogo, nem a entender a dificuldade do outro ou a contribuir com modelos disruptivos e inovadores, para que 2024 possa ser o ano da transformação do modelo de saúde, com mais qualidade, mais acesso e crescendo de forma sustentável.”

“Para que isso ocorra, só existe uma forma: agenda conjunta de governo, hospitais, médicos, operadoras, clínicas, fornecedores. Ou seja, o setor de saúde como um todo precisa criar uma agenda conjunta de muito diálogo, debate, discussões profundas, para que a gente lembre de 2024, após um período pandêmico, como o ano em que todo o segmento da saúde se uniu para encontrar alternativas para os desafios que estamos vivendo”, finaliza. 

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