Estatísticas e Análises, Mundo | 7 de setembro de 2016

EUA: Novos medicamentos para pacientes com câncer de ovário

Alguns especialistas duvidam que os inibidores de PARP são um avanço significativo, enquanto outros discordam
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Uma nova classe de drogas pode representar um avanço significativo no tratamento de um dos cânceres mais letais: o de ovário. Os medicamentos, conhecidos como inibidores de PARP (sigla para polimerase de poli ADP-ribose) são pensados ​​para ajudar o corpo a retardar a progressão da doença, ajudando a impedir que células cancerígenas se regenerem após o tratamento de quimioterapia, reduzindo os tumores e retardando recaídas.

“As drogas não funcionam em todas as pacientes, tendo maior efeito em mulheres com mutações dos genes BRCA, que representam cerca de 15% das pacientes com câncer de ovário. Mas pesquisas recentes, ainda em curso, indicam que as drogas podem beneficiar um adicional de 35% das mulheres com diferentes perfis genéticos”, afirma reportagem do Wall Street Journal.

“Nós não estamos vendo cura, mas detectamos pacientes que se beneficiam de uma forma maior”, diz o Dr. Robert Coleman, oncologista e pesquisador do MD Anderson Cancer Center, em Houston, Texas (EUA). “A questão é saber se podemos expandir a administração das drogas para mais pacientes?”, questionou.

O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. Cerca de três quartos (¾) dos cânceres desse órgão apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. O INCA diz que, no Brasil, ocorrerão 6.150 novos casos até o final do ano.

Estima-se que 195.770 mulheres norte-americanas vivem com câncer de ovário. Menos da metade delas deverão estar vivas cinco anos após o diagnóstico. “Isso se compara com uma taxa de sobrevivência de cinco anos de 90% entre as pacientes de câncer de mama e 67% entre todos os pacientes com câncer, de acordo com o National Cancer Institute.

As baixas taxas de sobrevivência são, em parte, devido à falta de um exame de rastreio eficaz, para detectar a doença precocemente, quando é mais suscetível ao tratamento.

Uma pílula inibidora de PARP já está no mercado norte-americano: Lynparza (olaparibe), da AstraZeneca. Mas ela é aprovada para apenas uma pequena parcela de pacientes, depois de outras opções falharem. “Outras duas novas drogas poderão ser aprovadas já em 2017 para muitas outras pacientes após o lançamento de promissores dados de ensaios clínicos apresentados recentemente”, avisa o periódico.

Alguns especialistas duvidam que os inibidores de PARP são um avanço significativo ou valem o seu custo (o Lynparza custa cerca de US$ 12 mil para um mês de tratamento). A principal objeção é que os estudos não demonstraram que as pacientes realmente vivem mais tempo depois de medicadas com a droga do que as pacientes que não o são. “A qualidade dos dados tem sido bastante fraca”, considerou Vinay Prasad, oncologista que estuda o formato de ensaios clínicos.

“Seana Roubinek, um analista de computação em Rockport, Maine, foi diagnosticada com câncer de ovário há cinco anos e começou a tomar Lynparza em dezembro depois da reincidência da doença. Um exame recente mostrou que os tumores tinham encolhido em dois terços (⅔) e exames de sangue continuaram a mostrar que a atividade do tumor teve recaída”. A paciente, de 48 anos, diz que tomar os comprimidos Lynparza duas vezes por dia é mais conveniente e tem menos efeitos colaterais do que a quimioterapia pela qual ela se submeteu no passado.

“O medicamento causou uma queda nos seus glóbulos vermelhos, o que pode causar anemia, mas o problema foi resolvido depois cortando a dose pela metade”. Seana Roubinek diz que seu seguro paga a maior parte do custo do medicamento e o programa de assistência financeira da AstraZeneca cobre o co-pagamento.

A forma como os inibidores de PARP trabalham é complexo. “Os medicamentos ajudam na produção de enzimas que desempenham um papel em ajudar o DNA a se reparar. Isto pode ser eficaz em terminar a destruição de células cancerígenas, depois de terem sido danificadas pela quimioterapia”.

Mutações no gene BRCA também impedem o reparo do DNA, razão pela qual as mulheres com essas mutações estão em maior risco de desenvolver câncer de mama e de ovário. “Mas essas mutações, quando combinadas com inibidores de PARP, mais tarde podem ajudar a combater o câncer, trabalhando contra o ressurgimento de células tumorais”. Uma pesquisa recente mostra que outras variações genéticas também podem bloquear o reparo do DNA, indicando que os inibidores de PARP podem beneficiar mais mulheres do que aquelas com mutações de BRCA.

Em junho, a empresa biofarmacêutica Tesaro Inc., apresentou um estudo que apontou que as pacientes com mutações BRCA tomando a droga niraparib viveram uma média de 21 meses antes da reincidência do câncer, quase quatro vezes mais do que os 5,5 meses das pacientes que tomaram placebos. “A droga também proporcionou um benefício, embora menor, para pacientes sem mutações hereditárias de BRCA que tiveram exames positivos para deficiências de um mecanismo de reparo do DNA conhecido como recombinação homóloga. Essas pacientes viveram uma média de 12,9 meses sem que seu câncer progredisse, em comparação com 3,8 meses para as doentes que tomaram placebo”.

Tesaro divulgou os dados em um comunicado oficial. Os dados completos do estudo serão apresentados em um evento médico em outubro. A empresa planeja buscar aprovação da FDA, até o final do corrente ano, e espera lançar a droga nos EUA em meados de 2017.

“Uma droga (rucaparib) que está sendo desenvolvida pela empresa Clovis Oncology Inc. reduziu tumores em 54% das pacientes com mutações de BRCA que tinham passado por pelo menos duas quimioterapias anteriormente durante os estudos”, disse a empresa em agosto.” Os resultados parecem suficientemente promissores para que a FDA concordasse em rever a droga em uma agenda de prioridades, e decidiu pela aprovação em fevereiro, mesmo antes de dados do estudo de fase final estarem disponíveis”.

O Lynparza, da AstraZeneca, quase não foi aprovado. “Um painel consultivo de médicos e pesqiusadores da FDA recomendou rejeitar a droga em 2014, em grande parte porque não prolongava a vida das pacientes, na comparação com o placebo. Outro problema: o estudo da AstraZeneca não foi originalmente concebido para comprovar que a droga funcionou em pacientes com mutações BRCA, uma análise que os cientistas dizem tornar os resultados mais propensos à polarização”. Posteriormente a FDA aprovou o Lynparza, mas para uma população menor de pacientes do que a AstraZeneca esperava.

Uma porta-voz da AstraZeneca afirmou que a empresa espera que resultados de um estudo de fase final de pacientes BRCA estejam disponíveis ainda em 2016. Se positivo, o estudo pode ser usado para obter a aprovação da FDA para o uso do medicamento em estágios iniciais da doença.

Seana Roubinek, a paciente supracitada, diz que os inibidores de PARP não são “uma resposta final para as mulheres”, mas “certamente oferece mais tempo de vida e com uma sobrevida de qualidade”. Quando foi diagnosticada, “pensei que não iria ver o meu filho entrar na faculdade”, disse ela. “Mas eu estava lá, e eu o deixei na faculdade no último sábado. Estou feliz que eu ainda estou aqui, porque, estatisticamente, não deveria estar”, salienta.

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